Resenha sobre o conceito de modernidade para Bauman
Por: Ana Carolina Soares • 8/1/2019 • Resenha • 2.327 Palavras (10 Páginas) • 425 Visualizações
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO EM GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Ana Carolina Soares Da Silva Esteves
Resenha sobre o texto
‘’O mal-estar - moderno e pós-moderno’’
Trabalho apresentado à disciplina A Psicologia do Século XX à Contemporaneidade, ministrada pela professora Renata Valentim, para a avaliação no curso de Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Rio de Janeiro
Dezembro/2018
O prefácio do livro ‘’O mal-estar da pós-modernidade’’, escrito pelo filósofo contemporâneo Zygmunt Bauman, aborda questões relativas à composição da sociedade moderna e as diferenças entre esta e aquela dita como ‘’pós-moderna’’. O autor estabelece três principais conceitos responsáveis pela construção e manutenção do ideal de modernidade: a beleza, a limpeza (ou pureza) e a ordem, estes não são inerentes à sociedade, são o resultado de anos de condicionamentos sociais. Os indivíduos da sociedade moderna foram ensinados a ignorar quaisquer impulsos que se posicionem contra esses três conceitos, mas como Bauman disse ‘’você ganha alguma coisa, e em troca, perde outra coisa’’ e nesse caso, o que se ganha ao ignorar certos impulsos é a segurança proveniente da sociedade organizada, mas o que se perde é algo vedado ao ser humano: a liberdade individual. Essa perda da natureza humana vai ser responsável, segundo o autor, pela produção dos mal-estares modernos. ‘’Dentro da estrutura de uma civilização concentrada na segurança, mais liberdade significa menos mal-estar. Dentro da estrutura de uma civilização que escolheu limitar a liberdade em nome da segurança, mais ordem significa mais mal-estar’’. Esse mal-estar, esse anseio por liberdade, causado pela supressão dela, vai ser dirigido contra formas e exigências particulares da civilização, ou até mesmo, a civilização como um todo. O movimento hippie dos anos 60, conhecido por ter sido um movimento contracultura e subversivo em uma época de tensão mundial, negava os valores morais e sociais tradicionais e estava em desacordo com os valores capitalistas, é um bom exemplo das consequências do anseio pela liberdade.
Contudo, na pós-modernidade, as coisas mudam de figura. A liberdade individual, agora, é vista como o maior bem do indivíduo, nenhum outro valor ultrapassa sua importância. ‘’Ela é referência pela qual a sabedoria acerca de todas as normas e resoluções supra individuais devem ser medidas’’. Entretanto, segundo o autor, isso não significa que os conceitos de ordem, pureza e beleza perderam seu valor. Agora, esses ideais devem ser perseguidos e realizados através do espaço individual de cada um, através do desejo e do esforço individuais. A pós- modernidade conseguiu juntar os três pilares necessários para a manutenção da civilização organizada com o maior anseio de cada indivíduo: o prazer e da liberdade de buscar sempre mais prazer. Essa síntese, que favorecia tanto o coletivo e sua ordem e o indivíduo e sua felicidade, em tese, acaba com a perpetuação do mal-estar moderno, o inimigo da ordem, agora há liberdade, e o mal-estar era a falta de liberdade. Porém, como já citado anteriormente por Bauman ‘’você ganha uma coisa e perde outra coisa’’. E na pós-modernidade não foi diferente, só foram trocadas as perdas e ganhos de lugar, agora as possibilidades de segurança foram trocada por possibilidades de felicidade.
‘’Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais. ’’ Antes arriscávamos nossa liberdade pela nossa segurança, agora, arriscamos nossa segurança pela nossa liberdade, isso tudo em busca da felicidade. Não há equilíbrio. Nós sempre precisamos também do que nos falta, e nesse caso, o que nos falta é a segurança. Assim, segundo o filósofo, nunca alcançamos a felicidade, já que sempre procuramos satisfazer o que nos falta, mas sempre há de faltar algo, assim, a felicidade é apenas um fenômeno momentâneo, episódico, de quando conseguimos satisfazer o que nos falta no momento, mas logo em seguida somos tomados pela necessidade de satisfazer outra coisa. ‘’Uma disposição diferente das questões humanas não é necessariamente um passo adiante no caminho da maior felicidade: só parece ser tal no momento em que se está fazendo. A reavaliação de todos os valores é um momento feliz, estimulante, mas os valores reavaliados não garantem necessariamente um estado de satisfação. ’’ Dessa forma, a maneira mais útil de tentar encontrar a felicidade, valor tão procurado e aclamado pela civilização, é buscando um equilíbrio entre todas as partes. Contudo, também não é certeza que conseguiremos.
No capítulo seguinte, intitulado ‘’O sonho da pureza’’, Zygmunt aprofunda um dos três conceitos considerados pilares para a construção e manutenção da civilização moderna: a visão da pureza. Quando pensamos em pureza, imediatamente lembramo-nos do Regime Nazista e sua visão determinista do ideal de pureza. Pureza, para a Alemanha Nazista, era a raça ‘’ariana’’ com certos valores morais e sociais definidos, qualquer indivíduo que fugisse dessa ordem, seja ele judeu, cigano, homossexual, comunista, era tido como ‘’impuro’’. Os impuros eram considerados impuros porque ameaçavam a ordem pré-determinada na sociedade alemã dos anos 30, e consequentemente a sociedade alemã. A pureza é um conceito inventado pelas sociedades e seu significado e restrições variam em cada uma dela. Assim, essa perseguição às impurezas ‘’ameaçadoras da ordem’’ e a obsessão pela manutenção da pureza se dá em todos os tipos de sociedades porque sem a ordem a sociedade moderna não se mantém. É importante ressaltar que a perseguição à impureza não se dá apenas no âmbito do indivíduo, mas também há uma perseguição a princípios, valores e ideais que supostamente ameaçam a ordem, como o comunismo ou a poligamia. ‘’Não são as características intrínsecas das coisas que as transformam em ‘’sujas’’, mas tão somente sua localização e, mais precisamente sua localização na ordem de coisas idealizadas pelos que procuram a pureza. As coisas que são ‘’sujas’’ num contexto podem tornar-se puras exatamente por serem colocadas num outro lugar- e vice-versa. ‘’
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