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BAUMAN E O CONCEITO DE CULTURA – UMA RESENHA CRÍTICA.

Por:   •  27/3/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.033 Palavras (5 Páginas)  •  3.319 Visualizações

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

ANA GAUDENCIA VELASQUEZ DE ANDRADE

BAUMAN E O CONCEITO DE CULTURA – UMA RESENHA CRÍTICA.

CORUMBÁ

2016

 

Zygmunt Bauman é figura de referência na Sociologia moderna. Aos 90 anos de idade e em plena atividade, o sociólogo polonês é professor emérito das universidades de Varsóvia e Leeds, além de ser detentor dos prêmios Amalfi (1989) e Adorno (1998), em reconhecimento à importância de sua prodigiosa produção intelectual, que, nos últimos anos, tornou-se popular pelas obras mais recentes, destinadas a um leque diversificado de leitores, como Sociedade Líquida e Amor Líquido, que tratam de conceitos consagrados por Bauman, como “sociedade de consumo” e “modernidade líquida”, expressões continuamente utilizadas em sua crítica à volubilidade e fragilidade de laços da sociedade atual.

  No Brasil, em 2012, foi publicada a obra Ensaios sobre o conceito de cultura, escrita em 1973 sob o nome de Cultura as praxis, na Grã-Bretanha. A obra traduzida para a língua portuguesa, com a inclusão de uma introdução inexistente no texto original, demonstra que seu público-alvo era o meio acadêmico do próprio Bauman, diferente de seus livros mais recentes. Avlinguagem acadêmica torna a compreensão do texto tarefa árdua para o público leigo.

Em seu primeiro capítulo, Bauman reconhece que as formulações conceituais sobre o termo cultura são frágeis, mas que no campo dos discursos existem três perspectivas estratégicas que se destacam. A primeira é a noção de cultura como conceito hierárquico, que foi gestada no mundo helênico e que, para Bauman, perpetua-se em nossa mentalidade ocidental, na qual a cultura é um elemento herdado ou adquirido e que define as características da criatura humana. Essa noção só é possível de concretizar-se através da “natureza ideal”, advinda do esforço consciente e prolongado. Neste caso, o modelo ideal de cultura estaria presente no indivíduo moralmente bom, belo e mais próximo da verdade da natureza. Seria o homem capaz de desempenhar seus deveres cívicos em benefício da comunidade e que, em contrapartida, merece ser recompensado por sua devoção à atividade pública. Na era moderna, a cultura hierárquica foi reinventada em benefício de intelectuais, sacramentada como padrão moderno de cultura que pode elevar o nível de vida e /ou salvar os interesses da humanidade.

A cultura, assim, é compreendida como uma propriedade passível de ser adquirida, transformada e adaptada, partindo do pressuposto de que é parte separável do ser humano. Esta construção do conceito de cultura como um índice de status e superioridade subjuga sujeitos, grupos e sociedades até os dias atuais.

Uma segunda noção está presente no discurso da cultura como conceito diferencial, na qual a preocupação primordial é de visualizar as diferenças dos modos de vida entre os vários grupos humanos, classificando-os. Para Bauman, a visão de cultura é própria da era moderna – apesar de ela ter se apropriado de traços da noção hierárquica de cultura – em que antropólogos se utilizaram do elemento diferencial para desenvolver suas pesquisas e anunciar descobertas sobre as “verdades” das culturas de outros grupos sociais. O conceito diferencial desenvolve a ideia de que a cultura é responsável pelos diferentes destinos dos povos, aliando-se, nessa formação, questões de raça, ambientais e econômicas; a questão do sobrenatural oriundo da providência divina que interfere na formação cultural é posta de lado. Apesar de a cultura ser colocada como o principal diferencial da condição humana, fortalece a crença de que o trabalho intelectual pode contribuir expressivamente para os esforços de socialização e engrandecimento de qualquer grupo social; ocorre o fim do elemento único que define a cultura. Embora a cultura seja vista de forma mais ampla no conceito diferencial, ainda se limita à comunidade estudada, a um sistema de coesão interno, não desenvolvendo ferramentas para compreensão das causas de possíveis transformações ou desvios internos da ordem. Para o autor, os defensores do conceito diferencial estavam mais preocupados com os dados que justificassem a autoidentidade da comunidade do que identificar qualquer mistura cultural, reafirmando a lógica que o contato com o outro é indesejável e maléfico.

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