Uma Análise Behaviorista do filme Laranja Mecânica
Por: Marilza Silva • 11/9/2019 • Trabalho acadêmico • 1.392 Palavras (6 Páginas) • 302 Visualizações
UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP)
Teorias e Sistemas em Psicologia
“QUAL É O PROGRAMA, HEIN?
Um análise behavaiorista do filme Laranja Mecânica.
São Paulo
2018
INTRODUÇÃO
O filme “Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, Reino Unido/EUA – 1971), direção de Stanley Kubrick, é baseado em romance de Anthony Burgess, um marco da literatura distópica, no qual fomenta a discussão sobre a realidade e seus estados de opressão. Em 1868, o termo “distopia” foi usado pelo filósofo ingles, John Stuart Mill, para se referir ao oposto de “utopia”. Enquanto a utopia visa um mundo em harmonia, a distopia diz respeito ao controle, domínio e opressão para com os grupos sociais.
No Brasil, as primeiras exibições de Laranja Mecânica foram censuradas. Ironicamente, o filme cujo roteiro indaga o controle dos indivíduos pela sociedade e o estado, recebe um tratamento especial, como lembra o professor do Departamento de Sociologia da FFLCH-USP:
“Na época em que este filme foi finalmente liberado pela censura brasileira, na segunda metade da década de 70, nossos eternos defensores dos "bons" costumes inovaram levando ao cinema esta cena com uma novidade estilística nunca dantes vista. Obrigou-se os exibidores a cobrir as partes púbicas (seios já estavam liberados) com bolinhas pretas. Mas, o ridículo é que as bolinhas nunca pareciam acertar o lugar que se destinavam a esconder. O que víamos, então, era a tal bolinha ficar correndo, ela também, para ver se agarrava a moça no seu sexo. O resultado era risível, o que acabava fazendo com que o cinema caísse na gargalhada em uma cena que, ao contrário, deveria causar no mínimo alguma tensão e apreensão. Ou seja, alguns olhos ainda tinham medo de ver e de deixar mostrar.”
Ampliando as reflexões que o filme Laranja Mecânica nos traz, a finalidade desse trabalho é comentar não somente o clima de terror, a violência, a prática de crimes etc, atribuída às jovens gangues, como também o contexto de reeducação impetrado, naquela desolada Inglaterra. A meta será refletir, sempre à luz da Psicologia- aquela que estamos aprendendo no decorrer desse 2º período.
DESENVOLVIMENTO
O grupo escolheu o filme “Laranja Mecânica”, pois a obra diz respeito, como temos discutido, ao Behaviorismo e seu Comportamento Operante. Nossa constatação é que, apesar do êxito em extinção de certos comportamentos, ele nos parece não tratar a origem do mesmo. Vejamos.
Alex, nos é apresentado como protagonista no filme Laranja Mecânica. Trata-se de um jovem de comportamento violento, sem nenhum sinal de culpa ou remorso, para com suas atitudes. Como troca da pena que irá cumprir pelos crimes cometidos, a personagem serve de cobaia a um experimento que visava a extinção de seu comportamento violento.
O espectador, vai se envolvendo com situações de controle, imposição e muita agressão, oriundos de posicionamentos que parecem buscar soluções e atitudes distintas mas que, no decorrer da narrativa, demonstram uma estranha semelhança.
O experimento narrado, o “Método Ludovico”, consistia em deixar o detento (seria paciente?), amarrado a uma cadeira, sendo exposto a uma série de cenas explícitas de muita agressividade. Enquanto assiste as atrocidades, um medicamento é administrado, causando mal-estar físico a Alex que, então, vai associando, como nos experimentos que tomamos conhecimento durante nossas aulas, a violência a esse seu incômodo.
O que acompanhamos nessas cenas, nos remete a um reforço, tornando-se, por meio de uma punição, que são os enjoos causados pela medicação, um estímulo aversivo. Desse modo, espera-se que o comportamento violento, do protagonista, vá, aos poucos, sendo associado a uma reação negativa e, automaticamente, meta do método adotado, sendo refutado.
Na obra cinematográfica de Kubrick, acompanhamos a expressão de uma crítica sobre a eficácia do Método Ludovico”, que para o grupo tem semelhanças com o Behaviorismo. Assim constatamos, através da voz da personagem, “véque bondoso”, como o nomeia Alex, no livro homônimo:
“ (…) “Pois é, eu telefonei p’ra diversas pessoas que estarão interessadas no seu caso. Você pode ser um instrumento muito poderoso, sabe, para garantir que o atual governo, perverso e daninho não se reeleja na votação que vem aí. O que o Governo mais se ufana, entende, é o modo pelo qual cuidou do crime nestes últimos meses.” Me olhou muito de perto novamente, por cima do seu ovo fumegante e eu pensei novamente se ele estava videando que papel eu tinha representado na djísene dele. Mas ele falou: “Recrutando jovens desordeiros brutais para a polícia. Propondo métodos de condicionamento que debilitam e solapam a vontade.” Esses eslóvos compridos todos, irmãos e assim um olhar louco ou bezúmine nos gazes. “Nós já vimos isso tudo antes,” disse ele, em outros países. A ponta de lança afiada. Antes que se possa perceber, a quantas anda, tem-se o aparato completo do totalitarismo.” “Credo, credo, credo,” pensei eu comendo ovo e mastigando torrada. (…)
As ideias dessa personagem, que acolhe Alex em sua casa, nos faz lembrar o que também temos discutido em classe, sobre o livre-arbítrio. A questão em jogo seria:
_Uma vez extinguido o comportamento violento e não a origem da violência, extingue-se o sintoma? Não seria o próprio sofrimento gerado pelas limitações do Método Ludovico, propondo um modo também agressivo de lidar com a violência, a causa do suicídio do protagonista?
A crítica que é manifestada por um grupo de personagens ao método utilizado pelo governo (no filme), nos remete a que aparece no capítulo 5 do livro, outra vez na voz de “véque bondoso”:
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