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Vigiar E Punir

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Por:   •  9/4/2014  •  1.011 Palavras (5 Páginas)  •  488 Visualizações

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[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da

poria principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça,

nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita

carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos

mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que

cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será

atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre

derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro

cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento. 1

Finalmente foi esquartejado [relata a Gazette d’Amsterdam ]. 2 Essa última operação

foi muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam afeitos à tração; de modo que,

em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como isso não bastasse, foi necessário, para

desmembrar as coxas do infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas...

Afirma-se que, embora ele sempre tivesse sido um grande praguejador, nenhuma

blasfêmia lhe escapou dos lábios; apenas as dores excessivas faziam-no dar gritos

horríveis, e muitas vezes repetia: “Meu Deus, tende piedade de mim; Jesus, socorrei-me”.

Os espectadores ficaram todos edificados com a solicitude do cura de Saint-Paul que, a

despeito de sua idade avançada, não perdia nenhum momento para consolar o paciente.

[O comissário de polícia Bouton relata]: Acendeu-se o enxofre, mas o fogo era tão

fraco que a pele das costas da mão mal e mal sofreu. Depois, um executor, de mangas

arregaçadas acima dos cotovelos, tomou umas tenazes de aço preparadas ad hoc ,

medindo cerca de um pé e meio de comprimento, atenazou-lhe primeiro a barriga da perna

direita, depois a coxa, daí passando às duas partes da barriga do braço direito; em

seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto, teve grande dificuldade em

arrancar os pedaços de carne que tirava em suas tenazes duas ou três vezes do mesmo

lado ao torcer, e o que ele arrancava formava em cada parte uma chaga do tamanho de

um escudo de seis libras.

Depois desses suplícios, Damiens, que gritava muito sem contudo blasfemar,

levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco tirou com uma colher de ferro do

caldeirão daquela droga fervente e derramou-a fartamente sobre cada ferida. Em seguida,

com cordas menores se ataram as cordas destinadas a atrelar os cavalos, sendo estes

atrelados a seguir a cada membro ao longo das coxas, das pernas e dos braços.

O senhor Le Breton, escrivão, aproximou-se diversas vezes do paciente para lhe

perguntar se tinha algo a dizer. Disse que não; nem é preciso dizer que ele gritava, com

cada tortura, da forma como costumamos ver representados os condenados: “Perdão,

meu Deus! Perdão, Senhor”. Apesar de todos esses sofrimentos referidos acima, ele

levantava de vez em quando a cabeça e se olhava com destemor. As cordas tão

apertadas pelos homens que puxavam as extremidades faziam-no sofrer dores

inexprimíveis. O senhor Le Breton aproximou-se outra vez dele e perguntou-lhe se não

queria dizer nada; disse que não. Achegaram-se vários confessores e lhe falaram

demoradamente; beijava conformado o crucifixo que lhe apresentavam; estendia os lábios

e dizia sempre: “Perdão, Senhor”.

Os cavalos deram uma arrancada, puxando cada qual um membro em linha reta,

cada cavalo segurado por um carrasco. Um quarto de hora mais tarde, a mesma

cerimônia, e enfim, após várias

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