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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Por:   •  28/11/2018  •  Resenha  •  909 Palavras (4 Páginas)  •  177 Visualizações

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Ana Carolina Crespo Rangel Sanches

Liana Pontes Rangel dos Santos

Resenha crítica: Melodia Livre

Campos dos Goytacazes, 2018.

Melodia livre, o 13° capítulo do livro ‘Aventuras no Marxismo’ de Michel Berman, traz aos leitores grandes referências e pontos importantes de uma das mais conhecidas obras de Karl Marx, O Manifesto Comunista.

Berman discorre nos primeiros parágrafos a respeito do quão impactante a obra do bom e velho Marx representou para aqueles que foram e continuam sendo os principais alvos na e da leitura, os trabalhadores:

Quando o pai de Morgenthau lhes perguntava quais eram os seus últimos desejos, muitos trabalhadores diziam que queriam ser enterrados juntos com o Manifesto. Imploravam ao médico que vigiasse para que o sacerdote não se aproximasse sorrateiro do corpo deles e trocasse o Manifesto pela Bíblia. (BERMAN, 2001, p 277)

É inegável a contribuição que o Manifesto exerceu sobre a grande classe trabalhadora, sobretudo àqueles que viveram boa parte de suas vidas servindo ao capital, através da venda da força de trabalho, em troca de um ínfimo salário para garantir, minimamente, a própria sobrevivência. No entanto, o autor explicita os grandes equívocos ao que tange à interpretação do conteúdo abordado e presente no livro, uma vez que as interpretações equivocadas mais frequentes feitas pelas pessoas que o leram são as de que o mesmo trata-se de um guia cuja orientação segue para uma sociedade nefasta sem os grandes dois protagonistas do sistema capitalista: capital e propriedade. Já a outra interpretação configura-se como um convencimento de que o exemplar representa um manual persuasivo a respeito da implementação do comunismo. Berman traz uma visão muito coesa e sensata acerca dessa visão negativa que o sistema comunista poderia vir a ter, como já o tinha, caso viesse a ser efetivado no poder. Essa possibilidade, por si só, gerava um certo pânico até mesmo entre os que seguiam ou se simpatizavam com a vertente esquerda, como se representasse a coisa mais terrível que a humanidade veria ou pudesse vivenciar e experimentar, colocando à tona o que fora levantado por Berman: muitas pessoas realmente não haviam compreendido a essência que Marx registrou. Mas, vejamos, será que é possível entrarmos no âmbito da culpa e apontar o leitor como o próprio responsável pela a ausência de discernimento? Ou somos capazes de compreender que essa ideologia distorcida acerca do comunismo fora uma construção proposital do capitalismo para afastar os indivíduos do que se pode denominar como a sua maior ameaça?

Dentre alguns levantamentos feitos pelo autor ao longo do capítulo, um dos mais importantes, e que trataremos aqui, é o da consciência de classe. Ou melhor, a ausência dessa consciência. Certamente quase todos nós já ouvimos ou lemos o seguinte termo: pobre de direita. Mas o que isso, realmente, significa? Marx explica isso através dos conceitos de classe em si e classe para si. Vejamos, classe em si significa que essa é uma condição inerente ao indivíduo enquanto trabalhador já que, uma vez trabalhador, esse está, necessariamente, inserido na classe trabalhadora, independente da função que exerça ou do salário que receba. Enquanto vender sua força de trabalho em troca de um salário, reiteramos, independente do valor, esse se configura como trabalhador. Já o conceito de classe para si desdobra-se sobre a consciência que complementaria o conceito anterior. Ou seja, apesar de todo trabalhador ser pertencente à classe trabalhadora, isso não significa dizer que todos possuem um grau de compreensão e, sobretudo, convicção a respeito disso. Pelo contrário, e é justamente isso que responderia e responde à confusão que muitas pessoas fazem ao se autodenominarem dentro do âmbito social hierárquico. A quantidade de trabalhadores que, por ocuparem um lugar mais prestigiado no mercado de trabalho ou utilizarem uma vestimenta mais sofisticada, não fazem o exercício da conscientização social é enorme e reflete na grande surpresa e decepção quando são postos à prova ao serem notificados de suas demissões nas funções que costumavam exercer. E essa falta de consciência também afeta aqueles que entendem que estão inseridos na classe, mesmo que esse entendimento siga pelas razões diferentes. Os trabalhadores que conseguem se visualizar dentro da classe, se visualizam não por terem conhecimento dos conceitos de classes e sim porque são estereotipados da forma mais equivocada possível: funcionários de fábricas, macacões, trabalho braçal e direto, como se apenas essas características fossem únicas e suficientes para resumir e determinar a classe trabalhadora. Contudo, retomando as consequências dessa falta de consciência, os trabalhadores estereotipados como os únicos que possuem “´mérito” para receberem esse título, são afetados porque estão a todo momento se submetendo à ordens autoritárias e repressivas daqueles que também ocupam a mesma classe, fazendo com que haja uma hierarquia ilusória com a única finalidade de inflar os próprios egos capitalistas.

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