O Lado Obscuro do Arco-íris
Por: Pedrito Justino • 3/7/2021 • Trabalho acadêmico • 23.518 Palavras (95 Páginas) • 149 Visualizações
INTRODUÇÃO
Discutir a diversidade humana na realidade brasileira atual pressupõe análise crítica do real sentido na participação do movimento LGBTs (sigla que se refere a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros) e da Parada do Orgulho Gay, a partir dos pressupostos ético-políticos da profissão do assistente social e a identificação pessoal pelo tema. Pocahy e Nardi dizem que:
A discussão da livre expressão da sexualidade como um direito de cidadania é particularmente relevante no caso brasileiro, pois as marcas da desigualdade social reforçam aquelas da discriminação ligada à orientação sexual e às performances de gênero. (POCAHY; NARDI, 2007, p. 47).
Primeiramente, é essencial reconhecer a importância desse tema na minha vida pessoal, pois por várias vezes fui provocado a pensar sobre a minha sexualidade e a partir daí, afirmar minha identidade sexual tanto na minha vida particular, quanto profissional. E pensando em discutir algum outro tema que não abordasse essa particularidade, fui propositalmente instigado a refletir sobre a minha participação e meu posicionamento sobre a discussão desta liberdade de expressão sexual, os quais me limitam ao recorte da realidade social aparente ao meu redor.
A violência cometida contra a população LGBTs, compreendida atualmente como um fator agravante da homofobia, porém não atuais em um contexto histórico de preconceito e discriminação a diferentes segmentos populacionais (mulheres, índios, negros, entre outros), trazem a tona os processos de resistência contra estas práticas discriminatórias e preconceituosas, baseadas em fundamentos conservadores e machistas cada vez mais presentes.
Por outro lado, a “violência praticada” por parte desta população LGBTs, e que compreendo como um retrocesso na conquista de direitos deste movimento me fez questionar sobre minha participação no maior evento social do país, a Parada do Orgulho Gay de São Paulo, onde por diversas vezes fui convidado a participar por pessoas com a mesma orientação sexual, mas pelo teor do convite feito, esquivei-me desta participação. Digo “violência praticada”, pois acaba denegrindo a imagem da população LGBTs com posicionamentos que afrontam uma parte da sociedade que compreende e aceita a diversidade humana. Estes posicionamentos são percebidos como um mal causado as pessoas que se dizem cristãs e de diversas outras religiões que consideraram, por exemplo, a crucificação de uma transexual nesta última Parada do Orgulho Gay em São Paulo no ano de 2015 uma blasfêmia, deboche ou mesmo uma provocação aberta em resposta a um Congresso com deputados conservadores, evangélicos e que deturpam essa orientação sexual. A violência praticada pela população LGBTs busca “respeito”, desrespeitando questões, do ponto de vista cristão/ religioso, como no exemplo citado acima, cometendo assim, desnecessariamente ofensas contra a fé. Com isso há desrespeito em relação aos vários segmentos éticos e morais desta população cristã/religiosa, ou ainda uma apelação exacerbada a fim de uma maior visibilidade.
Importante ressaltar que para explicar esse recorte da realidade social que me dirijo, será necessário um olhar dialético no qual reconheço o significado social desse evento na origem dessa organização como um movimento de luta, que em determinado momento histórico consolidou e construiu alicerces mais sólidos para superar o preconceito que perpassa a relação das diversidades humanas.
A realidade nos leva a provocar um debate crítico sobre o alcance desse objetivo na atualidade, pois existem várias indagações sobre a importância da participação no movimento LGBTs, com consciência social do evento, verificando assim a possível existência de uma articulação política do Serviço Social com os sujeitos coletivos e propostas de intervenção profissional junto a esse movimento. Qual a visão dos assistentes sociais perante esse movimento? Qual o seu papel na conscientização do movimento para que haja um resgate do sentido real da Parada do Orgulho Gay? Depois de anos de presença, de visibilidade deste movimento no Brasil, o que mudou de fato na vida das pessoas de orientação LGBTs? O que o movimento em si contribuiu para a conscientização de luta LGBTs?
Ter em conta os limites do senso comum é muito importante para desenvolver essa conscientização e não deixar cair na armadilha das opiniões e das aparências. Assim, afirma Paulo Freire que:
(...) a conscientização é um compromisso histórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. (...) a consciência não está baseada sobre a consciência, de um lado, e o mundo de outro, por outra parte, não pretende uma separação. Ao contrário, está baseada na relação consciência-mundo. (FREIRE, 1979, p. 15).
“Certas datas comemorativas significam, em nosso calendário expressões de resistência à dada forma de opressão e/ou exploração.” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 1). Aqui no Brasil, a “Parada do Orgulho LGBTs” em São Paulo, a cada ano, vem trazendo a tona expressão dessa resistência vista sua dimensão populacional, por ser o maior movimento social do país capaz de alcançar altos índices de apoio e reconhecimento. Por um lado, há um alto índice de participação e com isso o seu reconhecimento. Por outro, é sabido que se formam resistências em relação à comercialização que é feita pelo próprio movimento. Esses questionamentos e resistências perpassam por embates políticos e morais. Porém, em resposta a alguns embates políticos e morais provenientes da bancada evangélica do Congresso Nacional, alguns fatos inusitados e consequentemente escandalosos, com sentido de indignação provocada por tumulto chamaram a atenção na última Parada, em junho de 2015, que fizeram com que até mesmo os próprios organizadores deste evento declarassem “a perda do sentido real dessa luta ”.
Esse movimento em São Paulo deveria ser entendido em um contexto mais amplo do que somente o da Avenida Paulista, onde é realizado. A maneira como é festejada esse dia perde, em grande percentual, o seu teor sociopolítico e acaba se tornando, ao extremo, um “carnaval fora de época” como é veiculado em vários meios de comunicação. Não desvalorizando seu poder de alcance, esse evento traz para as ruas milhares de pessoas motivadas pela coragem de enfrentar a opressão nas relações de trabalho e os grupos conservadores e lutar contra a homofobia. Seria hipocrisia afirmar que a Parada do Orgulho Gay fosse somente político, pois não se
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