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Serviço social

Por:   •  6/1/2016  •  Resenha  •  2.677 Palavras (11 Páginas)  •  335 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

DISCIPLINA: QUESTÃO SOCIAL NO CEARÁ - 6º SEMESTRE - MANHÃ

PROFESSORA: HAYESKA COSTA BARROSO

ALUNAS: JOANA LAYSE SOARES FERREIRA

KÁCIA KAROLINE MARTINS DOS ANJOS

RESENHA

Fortaleza, 2015.

Análise Crítica

Secas e cercas são as duas expressões mais comuns da questão social que se manifestaram até o final do século XIX. A seca se torna expressão da questão social a partir de 1877 com as mudanças na estrutura fundiária do Ceará, que agora passa a ter o plantio do algodão em grande escala. Essas expressões surgem principalmente quando várias terras, que antes eram usadas como refúgio para sertanejos durante a estiagem, são fechadas para viabilizar essa cultura.

Na segunda metade do século XVIII, desenvolve-se o comércio de charque, que veio a decair na última década do mesmo século com a seca de 1877-79, que reduziu drasticamente o rebanho nordestino.

        A economia do algodão se desenvolveu no Brasil principalmente por demanda dos Estados Unidos, uma vez que estes viviam seu processo de independência e, posteriormente, pelo corte na produção na região sul dos EUA por ocasião da guerra civil que ocorria no país. Em 1870, entretanto, os Estados Unidos retomam sua produção, gerando uma grande crise na produção brasileira.

        A seca de 1877 foi de grandes proporções para os sertanejos, uma vez que estes, como citado acima, estavam desprovidos de suas “terras de escape durante a estiagem”. A decadência do algodão leva ao Estado a responsabilidade de proteção aos afetados pela baixa produção e pela seca. Nesse cenário, a ceca gerava o flagelo da população, conflitos sociais, formação de cangaços e até saques feitos pelos famintos.

        É por causa dessa situação de seca e fome que a população sertaneja começa a se deslocar para a capital e outros grandes centros, inaugurando o processo das migrações, que será explicitado mais à frente.

        A situação gerada pela seca demandava ações estatais, sendo que estas foram realizadas no sentido de “controle dos flagelados”. Daí surgem os abarracamentos[1], que mais tarde foram chamados de “campos de concentração”.

No tocante ao Nordeste brasileiro, Secreto (2007) deixa claro que é indissociável a relação entre seca-emigração. Durante os períodos de seca, o Nordeste sofreu um verdadeiro horror: pessoas morrendo de fome, pais vendendo seus filhos, mulheres se vendendo por comida, urubus comendo crianças que estavam quase mortas de fome etc. De acordo com o repórter Herbert Smith, 500 mil sertanejos morreram de fome e varíola nesse período.

A mesma autora aponta que existem dois tipos de secas: Seca meteorológica – diminuição dos níveis de chuva; e Seca Hidrológica – quando o sistema de abastecimento de água é insuficiente para salvar a safra. Entretanto, o que ocasiona a saída desses milhares de retirantes para o litoral não é a seca, e sim a falta de iniciativa dos governos para solucionar/amenizar os efeitos da seca. O que temos, portanto, é uma dupla crise: uma de ordem meteorológica e uma de ordem governamental.

O deslocamento de trabalhadores do Nordeste para o Sudeste se deu primeiramente pelo comércio de escravos. A partir de 1877, entretanto, se tinha um novo tipo de trabalhador deslocado: o pobre-livre-flagelado. É a partir daí que se inicia a relação seca-emigração. Secreto aponta que entre 1872 e 1900, cerca de 500 mil trabalhadores foram deslocados para a Amazônia para a extração da borracha.

Como dito anteriormente, os sertanejos saiam de suas terras e iam até o litoral para tentarem fugir da seca e garantirem sua sobrevivência. Esse processo, entretanto, gerou uma superlotação nas grandes cidades. Na seca de 1877-79, Fortaleza recebeu cerca de 114 mil retirantes. Esses retirantes, entretanto, eram mal vistos nas cidades. Eram tidos como marginais, disseminadores de doenças etc. Daí se inicia um verdadeiro processo de “limpeza” dos grandes centros. Esses sertanejos foram então deslocados para outras províncias. Foram ofertados à eles os seguintes destinos: São Paulo, Pará, Maranhão e Amazonas, sendo os três últimos os mais procurados pelos retirantes, uma vez que estes acreditavam que lá seu retorno ao sertão seria mais fácil. Essas migrações eram “ofertadas” pelo poder público. As passagens da viagem eram pagas pelo Ministério da Agricultura e império. Como citaSecreto, os sertanejos não era emigrantes e sim emigrados.

As migrações para o litoral ocorriam como uma forma de escapardaquela situação caótica: perda de plantações inteiras, gado doente, pessoas famintas. Os retirantes buscavam, portanto, mais que assistência e proteção, buscavam sobrevivência. A fome gerava inúmeros conflitos entre os sertanejos que lotavam as grandes cidades. Dai inicia-se um processo de negociações, onde os retirantes pediam por comida e também por passagens para os destinos antes citados. Fugir da fome era uma necessidade vital para eles. A esta altura, a fome já se tornara parte do cotidiano de milhares de nordestinos, o que levou à migração para as cidades. O problema é que chegar ao litoral não era garantia de melhorias: muitos dos sertanejos acabaram por morrer de fome nas ruas das grandes cidades.

Secreto cita que no Ceará houve um aumento dos mecanismos de controle e regulação da circulação. É importante salientar que estes mecanismos eram aplicáveis à população pobre-livre. Havia, então, o projeto de suspenção da ociosidade. Aqueles que fossem ociosos eram tidos como marginais, delinquentes. Ou o homem vendia sua força de trabalho ou viveria “cliente/dependente” de um senhor local. Todo esse processo gerava duas importantes dimensões: A obrigatoriedade do trabalho e a revisão dos conceitos da ética do trabalho.

Era notório, no Nordeste, o fenômenos da sazonalidade. Os sertanejos migravam para o litoral nas épocas de seca e retornavam ao sertão com a volta das chuvas. Esse fenômeno gerou discussões acerca da falta ou não de mão-de-obra. No Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, afirmava-se a escassez de mão de obra, enquanto no Congresso ocorrido em Recife se falava numa falta relativa. Secreto traz, então, o tema central de várias discussões: trabalhar para si e trabalhar para o outro. O retorno ao sertão mostra a negativa dos sertanejos ao trabalhar para o outro.

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