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Resenha sobre o texto: “A ralé brasileira: quem é e como vive”, de Jessé Souza.

Por:   •  13/6/2017  •  Resenha  •  3.128 Palavras (13 Páginas)  •  5.815 Visualizações

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Resenha sobre o texto: “A ralé brasileira: quem é e como vive”, de Jessé Souza.

        

Introdução

        

        Jessé inicia seu livro falando sobre a violência simbólica, em que cita-se problemas vividos no cotidiano brasileiro, onde todos os canais de mídia e todo o debate intelectual e politico deixam bem claro quais são os problemas sociais e políticos do país, e que já estão todos mapeados, deixando de lado assim problemas vividos pela população, problemas mascarados e introduzidos na sociedade de forma natural.

“A impressão mais compulsivamente repetida por todos os jornais e por todo debate intelectual e político brasileiro contemporâneo é a de que todos os problemas sociais e políticos brasileiros já são conhecidos e que já foram devidamente “mapeados”. Que não se perceba nenhuma mudança efetiva no cotidiano de dezenas de milhões de brasileiros condenados a um dia a dia humilhante deve-se ao fato de que a desigualdade brasileira vem de “muito tempo” e que não se pode acabar de uma penada com coisa tão antiga. As duas teses não poderiam ser mais falsas. Elas também não poderiam estar mais relacionadas. Elas formam o núcleo mesmo da “violência simbólica” — aquele tipo de violência que não “aparece” como violência —.” SOUZA, JESSÉ (2009, p.15)

        O autor diz ainda que a reprodução cotidiana da violência simbólica nada tem a ver com o nosso passado longínquo. Ela ocorre por meios “modernos”, especificamente “simbólicos”. Usa-se o meio midiático para fazer com que a realidade pareça muito transparente, utilizando de muitos números e pesquisas para que suas informações se tornem coerentes e tenham fundamento, fazendo assim, com que a grande máscara da verdade seja imposta sobre o rosto dos brasileiros.

        Os problemas no Brasil são enxergados de uma forma economicista[1], deixando de lado os aspectos sociais e políticos, o que acaba sendo um subproduto do liberalismo triunfante mundial.

“É isso que explica que a forma como a sociedade brasileira percebe, hoje em dia, seus problemas sociais e políticos seja “colonizada” por uma visão “economicista” e redutoramente quantitativa da realidade social. O economicismo é, na realidade, o subproduto de um tipo de liberalismo triunfalista hoje dominante em todo o planeta” SOUZA, JESSÉ (2009, p.16)

        A elaboração consequente e convincente de uma visão alternativa do liberalismo mundial é o desafio do livro. A força deste liberalismo veio, de acordo com o autor, de uma falsa suposição em que o mercado era o paraíso das virtudes e o Estado identificado com a corrupção e o privilegio.

        Nesta visão do economicista, podemos dizer que o marginalizado social possui as mesmas capacidades e disposições que os indivíduos de classe média. Em conta disto, é possível dizer, de acordo com o autor, que o miserável e sua miséria são um mero acaso do destino, podendo mudar sua situação com apenas um empurrão, seguindo assim a linha de pensamento de nossas politicas sociais atuais. Pode-se dizer também que a competição social não começa na escola, como fala o economicista, mas sim na socialização familiar pré-escolar produzida por culturas de classe distintas.

        Esconder os fatores não econômicos da desigualdade social, faz com que  as duas questões que permitem efetivamente compreender o fenômeno da desigualdade social, a sua gênese e a sua reprodução no tempo se tornem invisíveis, de acordo com Jessé. A cegueira deste raciocínio acima reside na falta do conhecimento dos valores imateriais na reprodução das classes sociais e de seus privilégios no tempo, diz o autor. Temos de olhar o comportamento passado de geração para geração, pois os filhos de um casal rico só continuaram nesta classe se herdarem os mesmos comportamentos sociais dos pais, o estilo de vida e a naturalidade para se comportarem em reuniões sociais. O fracasso do indivíduo não privilegiado é percebido como uma culpa individual, associando assim a responsabilidade do sucesso de sua vida ao esforço realizado por ele.

        O autor cita Max Weber, e explica que os ricos não querem ser somente ricos, querem se sentir merecidos de tal riquezas, atribuindo ao destino e ao merecimento pessoal a sua ascensão, o que permite a estes indivíduos desfrutarem de tudo o que conquistaram de forma “justa” e “devida”. O processo de modernização brasileiro possui agora indivíduos desprovidos de qualquer caminho que alcance os aspectos culturais e econômicos, dominados respectivamente pela classe média e classe alta. Esta é a classe social que se designa neste livro como sendo a “ralé” estrutural. Explicita o autor que este não é um nome ofensivo, mas sim um nome provocativo, para chamar a atenção da população a esta classe que foi abandonada, consentido por toda a sociedade.

“O processo de modernização brasileiro constitui não apenas as novas classes sociais modernas que se apropriam diferencialmente dos capitais cultural e econômico. Ele constitui também uma classe inteira de indivíduos, não só sem capital cultural nem econômico em qualquer medida significativa, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação. É essa classe social que designamos neste livro de “ralé” estrutural, não para “ofender” essas pessoas já tão sofridas e humilhadas, mas para chamar a atenção, provocativamente, para nosso maior conflito social e político: o abandono social e político, “consentido por toda a sociedade”, de toda uma classe de indivíduos “precarizados” que se reproduz há gerações enquanto tal. Souza, Jessé,“(2009, p.21)

        O que falta é o conhecimento das pessoas para o problema central das precondições “sociais” para o sucesso supostamente individual, quando na verdade é o produto de capacidades e habilidades transmitidas de pais para filhos por mecanismos de identificação afetiva por meios de exemplos do cotidiano, segundo o autor.

        Podemos dizer que Jessé impõe ao “fracasso” desta classe, pela visão da sociedade, o exemplo dos pais e as precondições já impostas a estes indivíduos. Tendo visto isso, podemos dizer que a ignorância, ingênua ou dolosa, desse fato fundamental é a causa de todas as ilusões do debate público brasileiro sobre a desigualdade e suas causas e as formas de combatê-la, de acordo com Jessé. Desta forma, esta classe só pode ser empregada enquanto mero “corpo”, sendo explorada pela classe média e alta.

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