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Serviço social Ética e saúde Reflexões para o exercício profissional

Por:   •  8/12/2020  •  Resenha  •  11.034 Palavras (45 Páginas)  •  292 Visualizações

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 Serviço social Ética e saúde Reflexões para o exercício profissional.

Maurílio Castro de Matos – São Paulo: Cortez, 2013.

Apresentação

O autor tem como preocupação central o desvelamento da realidade e seus impactos nos serviços de saúde, visando defender uma adesão crítica e consciente pelos profissionais de Serviço Social aos Projetos Ético-político e da Reforma Sanitária. As ideias tratadas pelo autor têm sua origem em uma preocupação com o cotidiano de trabalho dos assistentes sociais na saúde. Em diferentes espaços e momentos já nos perguntamos sobre como efetivar, de fato, o projeto ético-político profissional e o projeto de reforma sanitária na prática concreta dos profissionais de Serviço Social nos diferentes serviços de saúde deste país. Assim, o autor coloca que hoje temos que desvelar o que passa pelo cotidiano de trabalho nos serviços de saúde e como os assistentes sociais veem as questões que permeiam, como conseguem, e se conseguem, desvelar essa realidade. Além disso, também temos o desafio de identificar até que nível os assistentes sociais concordam, com o conteúdo dos projetos de reforma sanitária brasileira e com o ético-político do Serviço Social. Será uma adesão consciente? Pergunta o autor.

Os profissionais de Serviço Social no seu cotidiano de trabalho lidam com diferentes temas e questões que se corporificam nos diversos relatos de vidas que atendem. É no atendimento aos usuários que os assistentes sociais identificam contornos materiais das diferentes expressões da questão social na vida da população. Conforme aponta o autor, certamente em cada registro de entrevista ou realização de um grupo, por exemplo, os assistentes sociais têm acesso a um manancial de informações, que não sendo naquele momento estatístico, são vidas concretas que sofrem a desigualdade da sociedade capitalista. O livro está estruturado em três capítulos.

 No capítulo 1

 “Trabalho coletivo em saúde e a inserção dos profissionais de Serviço Social”,

 O autor empreende uma análise, pautada na tradição marxista, sobre o trabalho, desde a sua configuração original, quando o homem se constitui em um ser social, como se deu na história até os dias de hoje. Esse caminho, segundo o autor, trará as particularidades do exercício profissional do assistente social no contexto do trabalho coletivo em saúde. Também fará uma reflexão sobre o Serviço Social e sua função social na saúde, e sobre os princípios éticos e políticos dessa profissão e sua inter-relação com o projeto de reforma sanitária, no contexto em que vem se dando a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS).

 Trabalho: a análise de Marx e Engels

Marx e Engels construíram uma teoria revolucionária, foram herdeiros do seu tempo, viveram em pleno transito do capitalismo concorrencial para era dos monopólios, agarraram como projeto desvendar o capitalismo, como forma de supera-lo.

 Marx e Engels, como humanistas que eram, identificam que a produção de riqueza que o capitalismo gera vem da força de trabalho vendida pelo trabalhador ao capitalista. Esse trabalho é alienado, uma vez que não se desenvolve para responder às necessidades de quem o empreende, o trabalhador. Há, sem dúvida, no capitalismo, a centralidade do trabalho para a produção da riqueza apropriada pelo capitalista. É por meio do trabalho que o homem se desenvolve, estabelecendo relações que não necessariamente são frutos de sua vontade. É por meio do trabalho, alterando a natureza, que o homem também se transforma. É o concreto da sua existência que determina a sua consciência. Assim, a consciência do homem é determinada pela vida que ele leva.

Para Marx e Engels, o trabalho é uma atividade fundamental para o homem, porque é através dele - na relação que estabelece com a natureza - que o homem busca a satisfação de suas necessidades. O homem é o único ser que, em contato com a natureza e no processo de transformá-la (para satisfação de suas necessidades), projeta o resultado que pretende alcançar, ou seja, antecipa em sua mente o resultado. Para isso constrói instrumentos com vistas a auxiliá-lo na transformação da natureza. O  processo de transformar a natureza, o homem também mudou. Ambos não são mais os mesmos. Ao iniciar um processo, o homem optará por novos processos - tanto no que se refere ao emprego da sua força de trabalho como dos instrumentos construídos. Através do trabalho o homem se afirma não apenas como um ser pensante, mas como aquele que age consciente e racionalmente. O trabalho opera mudanças na matéria, no objeto, mas também no sujeito, ou seja, no próprio homem, pois lhe possibilita descobrir novas capacidades e qualidades.

A partir dos apontamentos de Marx e Engels, contraditoriamente, por meio da consciência e da linguagem que o homem instituiu a divisão do trabalho. Nesse processo vai se construir, paulatinamente, uma tensão entre o interesse particular e o interesse coletivo. Daqui surge o Estado como instância supostamente autônoma e separada dos interesses, tanto particulares e gerais, e representante de uma "coletividade ilusória". Nesse processo, a manufatura significou a perda da relação patriarcal que havia nas corporações, marcada pela relação entre oficiais e mestre, donde essas foram substituídas pelas relações monetárias entre capitalista e trabalhador. O desenvolvimento da manufatura foi fortemente marcado pelo desenvolvimento do comércio.

É a partir desse momento que a alienação do homem sobre o resultado de sua própria ação, o trabalho, se complexifica. O processo de divisão do trabalho vai gerando progressivamente um afastamento do homem em relação ao produto do seu trabalho. É nessa separação entre a cidade e o campo que se inicia a transição da barbárie para civilização, que se encontra na divisão entre o trabalho material e intelectual. Com a entrada da revolução industrial que entra em cena as maquinas como estratégia de redução da força de trabalho e aumento da produção, é a partir daí passa iniciar alienação do homem sobre o resultado de sua ação. O trabalhador em si passa a ser tratado como mais uma mercadoria, que sofre oscilação no seu valor que o trabalhador recebe em troca da sua força de trabalho, visa unicamente a sua subsistência. O trabalhador não se vê no resultado final da sua ação, se sente exterior ao que produziu. Esse trabalho estranho é a essência da alienação no capitalismo, já que expropria do homem sua capacidade de identificação como um ser genérico, por meio da consciência que só o trabalho, na sua essência, pode propiciar. No capitalismo há, no primeiro momento, uma subjeção formal do trabalho ao capital, quando o processo de trabalho é apropriado pelo capitalista, mas passa a ser - por meio dos mecanismos - um instrumento de fabricação de mais-valia. Com o progressivo advento da maquinaria e o consequente processo de industrialização. Esses trabalhadores - inseridos no processo de trabalho coletivo - não dominam mais todo o processo de transformação da matéria.

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