O ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS DE LABORATÓRIO
Por: camilarogo • 18/10/2021 • Trabalho acadêmico • 2.397 Palavras (10 Páginas) • 175 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERISIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS DE LABORATÓRIO
Camila Rogo da Guia Rosa
CURITIBA
2021
INTRODUÇÃO
Os primatas tiveram origem na América do Norte há 60 milhões de anos. Atualmente, foram classificadas 128 espécies de primatas não-humanos, 51 delas oriundas da América e 77 da Ásia e da África, distinguindo-se entre esses dois grupos, principalmente, pela posição das aberturas nasais, pela presença de um septo nasal delgado, pelos polegares não completamente oponíveis e pelo porte menor. São arborícolas, encontrando alimento e água nas árvores.
Esses animais foram iniciados na utilização laboratorial a partir dos anos 50. Por conta da vida social complexa, desenvolveu-se categorias distintas de criação animal com o objetivo de adequá-las à diversificada composição das unidades sociais. As técnicas usadas no manejo foram capazes de proporcionar essa adequação, garantindo alojamentos apropriados, boa fundamentação sobre os aspectos fisiológicos, nutricionais e genéticos e controle sanitário apropriado através de exames clínicos e laboratoriais.
O enriquecimento ambiental para primatas em laboratório se torna responsável por garantir o estabelecimento das três esferas do bem-estar animal. Com a redução do estresse e do tédio, o enriquecimento ambiental assegura um bom estado afetivo aos animais. A partir da adaptação do ambiente e estabelecimento de estímulos diversos, o método permite a expressão do comportamento natural da espécie. Aprimorando os processos cognitivos e a imunidade, o funcionamento biológico é amplamente aperfeiçoado.
Ainda, o enriquecimento ambiental contribui para a preservação de resultados seguros em pesquisas. Animais estressados e habitantes de um ambiente monótono podem levar a conclusões imprecisas. É verdadeiro afirmar que animais que vivem em um ambiente enriquecido estão mais próximos de gerar resultados similares aos de animais de vida livre.
CONHECIMENTO BIOLÓGICO
Em 1998, Jill D. Shepherdson, co-autor do livro “Second Nature: Environmental Enrichment for Captive Animals”, descreveu enriquecimento ambiental como “um princípio do comportamento animal que busca aumentar a qualidade do cuidado de animais em cativeiro identificando e promovendo o estímulo ambiental necessário para otimizar o bem-estar psicológico e fisiológico”.
O enriquecimento ambiental é aplicado com o intuito de assegurar o bem-estar dos animais, diminuindo o estresse e melhorando os resultados de pesquisas. Para primatas, é atividade obrigatória de todos os centros de criação. Esses animais, especificamente, são usados para reproduzir as condições fisiológicas e patológicas que acontecem nos humanos. Algumas práticas utilizadas no enriquecimento ambiental de primatas são: pleitos, balanços, tambores, brinquedos, música ambiente, alimentos variados. Essas técnicas promovem a quebra da rotina diária e estimulam a curiosidade dos animais. Aspectos ambientais como temperatura, excesso de barulho, umidade e iluminação podem comprometer todo o exercício do enriquecimento pela geração de estresse.
Alguns indicadores de bem-estar em primatas são os animais apresentarem um comportamento relaxado e inquisitivo, um repertório comportamental diversificado e apresentar comportamentos típicos de primatas, como a catação e o contato físico.
O enriquecimento deve ser holístico, podendo ser categorizado em: físico, social, alimentar, cognitivo e sensorial. Assim, é possível definir os principais conceitos do enriquecimento para primatas: complexidade, escolha e controle. Alguns exemplos de enriquecimento ambiental para primatas são: usar uma ferramenta para alimentação, enriquecer o ambiente verticalmente, mudar para um recinto maior e promover programas de socialização com humanos.
Um dos objetivos do enriquecimento ambiental é aumentar a diversidade e desempenho de comportamentos naturais. A partir de um ambiente complexo e dinâmico, com estímulos e possibilidades de escolha, cria-se nos primatas a sensação de controle, o que previne e reduz o tédio. Para analisar e quantificar se esse objetivo está sendo cumprido, pode-se determinar comportamentos que se espera intensificar e comparar a frequência deles antes e depois do enriquecimento.
Outro objetivo do enriquecimento é aumentar a utilização positiva do ambiente. Para planejá-lo, deve-se avaliar o que impede os animais de utilizar todo o ambiente, por exemplo, medo ou falta de interesse. Assim, o enriquecimento ambiental atua aumentando a atratividade das áreas inutilizadas.
Ainda, tem-se como objetivo prevenir o desenvolvimento de comportamentos anormais, focando no provimento de bem-estar e interações positivas. É importante nesse objetivo estar familiarizado com o comportamento normal dos primatas para, assim, facilitar a identificação nos primeiros sinais de anormalidades. No entanto, comportamentos anormais podem ter diversas origens: desde a gestação, se a fêmea gestante passar por estresse, o feto pode estar mais suscetível a desenvolver comportamentos anormais.
Os benefícios do enriquecimento ambiental se concentram na responsabilidade ética com os animais. Primatas de laboratório são usados exclusivamente para benefício humano. Dessa forma, é responsabilidade da comunidade garantir o mínimo de sofrimento e aprimorar o bem-estar dentro das circunstâncias estabelecidas.
Além disso, o enriquecimento ambiental proporciona redução do cortisol, melhora a imunidade, impacta positivamente na densidade das células neurais, aumenta a maleabilidade do cérebro, melhora a recuperação de danos cerebrais, a memória e outros processos cognitivos. [pic 1][pic 2]
LEGISLAÇÃO
Em 8 de outubro de 2008, foi aprovada no brasil a Lei n° 11.794, denominada “Lei Arouca”, responsável por regulamentar o uso de animais em pesquisas científicas no país. O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) é encarregado de formular normas relacionadas à utilização humanitária de animais em pesquisas científicas; determinar protocolos para instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios de experimentação animal; qualificar instituições que atuam na área; e gerenciar o cadastro de protocolos experimentais de pesquisas científicas em andamento no Brasil. Para a realização de pesquisas científicas com o uso de animais, é exigido o cadastramento da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) e do biotério no Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (CIUCA), passando, assim, a estarem registradas no CONCEA. Em casos de irregularidades, as CEUAs deverão efetivar a denúncia ao CONCEA, ocasionando multas, proibição temporária ou definitiva do funcionamento da instituição e perda de financiamentos públicos.
...