A Saúde da População Negra
Por: amandalaurent • 9/5/2022 • Ensaio • 1.697 Palavras (7 Páginas) • 105 Visualizações
SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
De acordo com Munanga (2006), na sociedade brasileira, brancos, negros, pardos e indígenas ocupam espaços sociais diferentes, dessa forma refletindo nos indicadores sociais, como por exemplo negros e indígenas, que possuem os piores indicadores de escolaridade. Eles estão inseridos nos piores postos de trabalho e têm menos acesso a bens, serviços sociais e atendimento à saúde pública. Estas desigualdades levam à miséria material, isolamento espacial e social, e restrições à participação política. Este processo que se configura como racismo, enraizou-se na cultura, no tecido social e nos comportamentos dos brasileiros.
Segundo Werneck (2005), o racismo é um fenômeno ideológico, de violação de direitos e de produção de iniquidades, principalmente no campo da saúde. O racismo muito se relaciona com as condições em que o indivíduo nasce, com sua trajetória familiar e individual, condições de vida e moradia, condições de trabalho, emprego, renda e de acesso à informação e aos bens e serviços. O racismo também está presente na qualidade do cuidado e assistência prestada, nos perfis e estimativa de mortalidade infantil, nos sofrimentos evitáveis ou mortes precoces, nas taxas de mortalidade da população adulta e nos perfis, indicadores e coeficientes de mortalidade materna.
Em novembro de 2006, o Conselho Nacional de Saúde aprovou por unanimidade a criação da PNSIPN, que reconhece as desigualdades raciais como fatores que interferem no processo saúde, doença, cuidado e morte, como também a necessidade de implementar políticas que combatessem as iniquidades. Porém o Ministério da Saúde só publicou em maio de 2009 a Portaria reconhecendo que o racismo existente no Brasil impacta a saúde, a redução das desigualdades sociais, considerando como causas determinantes e condicionantes de saúde: modos de vida, trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais etc., podem estar relacionados ao racismo e a discriminação social (BRASIL, 2009).
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, ao reconhecer o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde da população, definiu os objetivos específicos a seguir: Aprimorar os sistemas de informação em saúde pela inclusão do quesito cor em todos os instrumentos de coleta de dados adotados pelo Sistema Único de Saúde (SUS); Desenvolver ações para reduzir indicadores de morbimortalidade materna e infantil, doença falciforme, hipertensão arterial, diabetes mellitus, HIV/AIDS, tuberculose, hanseníase, cânceres de colo uterino e de mama, miomas, transtornos mentais na população negra; Garantir e ampliar o acesso da população negra do campo e da floresta e, em particular, das populações quilombolas, às ações e aos serviços de saúde; e Garantir o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra.
A implantação da PNSIPN objetivava o destaque da importância do racismo como determinante social da saúde. Essa implementação coube às diversas Secretarias Estaduais e Municipais e órgãos do Ministério da Saúde, sob a coordenação geral da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (SGEP-MS), e esta por sua vez se responsabiliza pela disseminação da Política, sensibilização dos profissionais, monitoramento, avaliação e apoio técnico aos departamentos e áreas do Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde de estados e municípios.
A criação de Comitês Técnicos de Saúde da População Negra, Áreas Técnicas SPN ou responsável técnico para coordenar as ações em SPN deveriam consistir nas estratégias definidas por Secretarias Estaduais e Municipais para disseminar a Política, sensibilizar profissionais e inserir a Política na Saúde Pública. Brasil (2011) fala que segundo um levantamento realizado pelo Departamento de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, dez estados da federação criaram áreas técnicas, tendo dois estabelecido comitês técnicos de saúde da população negra e outros dois definiram um responsável técnico. A realização das atividades a fim de sensibilizar gestores, profissionais e sociedade civil incluíram seminários, oficinas, campanhas, intervenção no Dia Nacional de Mobilização Pró- -SPN e no Dia da Consciência Negra.
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Os argumentos teóricos contrários ao campo da saúde da população negra podem se resumir nos pontos a seguir:
- discordância quanto a validade do uso científico e/ou político do conceito de raça
- crítica ao que seria a importação colonial da birracialidade estadunidense (branco/ negro) ao contexto brasileiro
- discordância quanto às influências do racismo na saúde e a defesa da centralidade das questões econômicas como determinantes das condições de saúde
- classificação do campo saúde da população negra como política de focalização, em suposta consonância com as forças políticas e econômicas que atentam contra a busca pela universalização do direito à saúde.
Essas tensões podem ser explanadas, em parte, pela falta de conhecimento e/ou desconsideração do racismo como determinante social de saúde. A crença hegemônica no mito da democracia racial em subestimar os conflitos raciais na sociedade brasileira (somada a ausência histórica de negros ou mesmo brancos solidários à luta antirracista em espaços de poder do Setor Saúde, tanto na produção e validação de conhecimento científico em saúde, como na gestão e funcionamento do SUS) dão resultado ao quadro de Racismo Institucional.
A particularidade histórica de emergência do SUS se configura mais na articulação entre programas específicos regidos pela diretriz da universalidade de direitos. O que o campo de saúde da população negra apresenta como reivindicação – juntamente com essa noção ampla de justiça social que articula reconhecimento e distribuição - é o possível enfrentamento das desigualdades raciais em consonância com a busca pela universalização do direito à saúde.
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Nos serviços de saúde, o racismo institucional pode ser observado na restrição ao acesso à saúde pela população negra, diferenças significativas no cuidado a doenças predominantemente negras como a anemia falciforme, na qualidade da atenção à saúde e na falta de inclusão da questão racial na educação permanente dos profissionais. Um dos princípios básicos do SUS é a equidade, que são os serviços de saúde que devem ofertar tratamentos adequados e diferenciados, visando reduzir as vulnerabilidades sociais que, no caso da população negra, são causadas pelo processo histórico de exclusão social, econômica, política e cultural a que foi submetida. Se faz necessário que o racismo seja compreendido como uma questão que deve ser abordada e enfrentada na agenda de saúde pública brasileira.
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