As enfermeiras visitadoras da Cruz Vermelha
Por: Ana.florentino • 21/6/2017 • Seminário • 10.590 Palavras (43 Páginas) • 505 Visualizações
As Enfermeiras visitadoras da Cruz Vermelha e suas contribuições para saúde
Contexto Histórico
Durante uma viagem de negócios a Itália em 1859, o comerciante e diplomata suíço Henry Durant ficou estarrecido com o resultado dos conflitos entre tropas pertencentes à Áustria e à França, na chamada Batalha de Solferino. O conflito gerou uma grande quantidade de mortos e feridos e diante do cenário sentiu a necessidade de mobilizar um grupo de voluntários incumbidos de ajudar as vítimas de ambos os lados do conflito e transformou sua experiência em livro, que foi publicado em 1862 – ‘’Lembranças de Solferino”. A sua obra teve uma grande repercussão e atraiu outras pessoas para a mesma causa, uma delas foi Gustave Moynier a qual junto com Dunant e algumas pessoas com interesses comum reuniram-se para criar uma entidade humanitária de caráter internacional que servisse às vítimas de guerras. Dessa reunião resultou a criação de um comitê intitulado Comitê Internacional de Ajuda a Feridos, que, com o tempo, passou a ser conhecido como Comitê da Cruz Vermelha. O nome Cruz Vermelha remete ao símbolo do Comitê, que, na verdade, é uma inversão da bandeira da suíça, isto é, um fundo branco com uma cruz vermelha no centro, e teria a função de destacar este “exército de salvação” dos exércitos em guerra. Em 1864 uma Conferência Diplomática Internacional é realizada em Genebra que foram definidos os princípios básicos da entidade, como a neutralidade e o compromisso de prestar auxílio médico humanitário aos dois lados de um mesmo conflito, sem se importar com convicções pessoais e ideológicas. ♦ Princípios da Cruz Vermelha As ações dos voluntários dessa organização são pautadas em sete princípios fundamentais, a saber: 1) Humanidade – auxiliar todos os feridos dentro e fora dos campos de batalha de modo a minimizar o sofrimento humano e promover o respeito e a paz entre os povos. 2) Imparcialidade – não considerar as nacionalidades e ideologias como critérios para a prestação de auxílio, que deve ser dado a toda e qualquer pessoa da mesma forma e eficiência. 3) Neutralidade – restringir a atuação apenas à promoção de auxílio médico e humanitário, de modo a não tomar parte ou opinião oficial sobre qualquer aspecto dos fatos. 4) Independência – garantir a independência governamental da entidade, de modo a conservar a sua total autonomia diante de leis e imposições dos Estados. 5) Voluntariado – o trabalho deverá ser de socorro voluntário e desinteressado, ou seja, sem a obtenção de lucro individual ou coletivo. 6) Unidade – a cruz vermelha não pode se dividir ou se organizar em grupos não coesos. Desse modo, cada país só pode ter uma única sociedade vinculada à entidade. 7) Universalidade – o dever da cruz vermelha é o de atuar em todo o mundo, sem restrições territoriais ou opção por determinados lugares de atuação.
Cruz Vermelha Brasileira – Surgimento
A História da Cruz Vermelha Brasileira se iniciou no ano de 1907, graças à ação do Dr. Joaquim de Oliveira Botelho, inspirou-se naquilo que testemunhara em outros países, sentiu o desejo de ver, no Brasil, uma Sociedade da Cruz Vermelha. Junto com outros profissionais da área de saúde e pessoas da sociedade promoveu uma reunião, em outubro do mesmo ano, para lançar as bases da organização da Cruz Vermelha Brasileira. Em 5 dezembro de 1908 foram discutidos e aprovados os Estatutos da Sociedade. Esta data ficou consagrada como de fundação da Cruz Vermelha Brasileira, que teve como primeiro Presidente o Sanitarista Oswaldo Cruz.
As Enfermeiras visitadoras da Cruz Vermelha
Em meados de outubro de 1914, para atender os feridos e doentes em tempo de guerra ou em caso de calamidade pública, a Cruz Vermelha Brasileira criou o primeiro corpo de enfermeiras voluntárias. O sucesso desta iniciativa levou a instituição a ampliar o curso. Foi fundada, então, a Escola Prática de Enfermeiras em 20 de março de 1916, no Rio de Janeiro (DF), sob a direção técnica do Dr. Getúlio dos Santos. Diversas outras turmas, assim, se formaram ao longo da década de 1910 - 1920. O término da 1ª Grande Guerra, em outubro de 1918, coincidiu com a chegada do flagelo da gripe espanhola no Brasil. De acordo com as estatísticas, a gripe matou de 20 a 30 milhões de indivíduos em todo mundo. No Rio de Janeiro, milhares de pessoas morreram em suas casas, no trabalho e nas ruas. Nossos médicos e governantes, no entanto, não sabiam como lidar com tal ameaça. A epidemia, assim, trouxe à tona a fragilidade das políticas sanitárias do estado brasileiro. O Rio de Janeiro (DF), na ocasião, apresentava um cenário sanitário catastrófico. As habitações tipo cortiço, nas quais muitas pessoas dividiam o mesmo espaço, ocupavam boa parte da cidade e isso contribuiu para a disseminação de várias doenças infecto-contagiosas, principalmente a tuberculose. Em meados de 1918, a tuberculose e principalmente a gripe espanhola, contribuíram, simultaneamente, para afetar a saúde da população do Rio de Janeiro. As duas doenças já haviam colocado em dúvida a eficácia da estrutura sanitária existente. E por isso a população convivia o tempo todo com a perspectiva da doença e da morte. A introdução no Brasil de visitadoras de saúde é devida à Cruz Vermelha. Coube ao integrante da Cruz Vermelha Brasileira, Amaury de Medeiros instituir um Curso de Enfermeira Visitadora. Sendo assim, aproveitando-se da posição de diretor do Departamento de Profilaxia contra a Tuberculose da Cruz Vermelha Brasileira e de líder da Cruzada Nacional Contra a Tuberculose, e acreditando em seus ideais, Amaury de Medeiros criou o Curso de Enfermeiras Visitadoras. O primeiro curso foi oferecido pela cruz vermelha no Rio de Janeiro e idealizado por Amaury Medeiros em 1920. Depois o mesmo levou a idéia para Recife em Pernambuco em 1923, sendo desenvolvidas com êxito naquela capital até 1926. E por último JP Fontenelle organizava cursos de instrução de emergência para enfermeiras visitadoras em novembro de 1920. O primeiro curso de JP Fontenelle foi oferecido pelo DNSP, aconteceram outros 4 cursos por enfermeiras americanas que chegaram no Brasil em 1921. Ethel Parsons era contra esses cursos pois considerava uma ameaça para as futuras enfermeiras de saúde pública. Já o último curso foi em 1924 (por ser o número de enfermeiras visitadoras suficiente) logo elas seriam substituídas pelas enfermeiras de saúde pública. A realização dos cursos de emergência aconteceu para atender uma demanda do campo dá saúde, uma solução rápida enquanto as enfermeiras de saúde pública estavam em formação.
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