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ERROS DE MEDICAÇÃO E AS ATITUDES DO FARMACEUTICO

Por:   •  16/5/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.676 Palavras (7 Páginas)  •  574 Visualizações

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ERROS DE MEDICAÇÃO E AS ATITUDES DO FARMACEUTICO

Milhares de pessoas morrem por ano nos Estados Unidos por erros de medicação. O Brasil não possui estatísticas na área, mas a ausência de dados não significa que o país esteja isento do problema. “Por definição evitáveis, os erros de medicação são um sério problema de saúde pública, levando a perdas de vidas e desperdício de recursos financeiros”, adverte o farmacêutico Mário Borges Rosa, um dos pioneiros no estudo do assunto em Minas Gerais.

A própria ausência de dados revela importantes dimensões dessa realidade: a falta da notificação e o medo da punição. Esse receio, dizem os especialistas, é retrato de uma interpretação individualista dos erros, que negligencia as causas sistêmicas do problema.

Vulnerabilidade

O sistema de saúde está sujeito a uma série de vulnerabilidades que, de acordo com o farmacêutico americano Michael Cohen, diretor do Institute for Safe Medication Practices (Instituto para Práticas Seguras de Medicação), devem ser modificadas. “Desde que criamos o instituto, em 1975, sempre indagamos não quem foi, mas o que permitiu às pessoas cometer um erro. Isso requer uma observação sobre o sistema e não sobre o indivíduo”, relata. Ele acrescenta que “pessoas às vezes também cometem erros”, mas ressalta que a empresa não deve esperar até que o erro ocorra para tomar providências quanto ao sistema. “A abordagem sobre os erros de medicação deve ser sistêmica e não individual”, reitera.

Maria Dalva Rodrigues Ferreira, enfermeira da Fundação Ouro Branco/Gerdau Açominas, em Ouro Branco, acredita que os problemas devem ser debatidos pela equipe de saúde. “Há a tendência de se culpar, por exemplo, a enfermagem, porque ela executa a medicação e está na reta final do processo. Quando há erro, é necessário debater em equipe o problema, sem a cultura do silêncio, falando que foi efeito adverso”, diz a enfermeira.

Assessora da diretoria hospitalar da Fhemig, a farmacêutica Tânia Azevedo Anacleto assegura que entre as causas de erro de medicação em hospitais a dispensação “é uma das etapas mais sensíveis”. Segundo ela, a principal causa de erros de dispensação nos hospitais é o próprio sistema adotado. Em sua pesquisa de mestrado, realizada em 2002 em um grande hospital de Belo Horizonte, a farmacêutica encontrou resultados “preocupantes”. O modelo por ela avaliado utiliza o sistema misto de dispensação, em que a farmácia dispensa alguns medicamentos mediante requisição (sistema coletivo) e outros através da prescrição (sistema individualizado).

Após analisar 2.143 medicamentos dispensados em 422 prescrições, a pesquisadora classificou os erros em oito grupos. “Em 82% das prescrições detectou-se pelo menos um erro de dispensação, 73% das quais com um ou dois medicamentos dispensados com algum tipo de erro”, relata Tânia Anacleto, que também trabalha na Secretaria Municipal de Saúde de Betim.

Na sua opinião, a implantação de sistemas seguros, organizados e eficazes de dispensação de medicamentos “é fundamental no controle de gastos e na prevenção e redução de erros de medicação nos hospitais”. Tânia Anacleto cita como modelo seguro e eficaz na redução de erros o sistema de dose unitária e afirma que a implantação deste tipo de sistema no Brasil “ainda é um grande desafio”. Segundo a farmacêutica, o investimento inicial na aquisição de equipamentos para a montagem de uma central de preparação de produtos estéreis é “alto e inviável para as instituições de pequeno e médio porte que correspondem a mais de 80% dos hospitais brasileiros”.

Agravantes

Vários outros fatores estão associados aos erros de dispensação. Tânia Anacleto cita como exemplo as falhas de comunicação; problemas relacionados à rotulagem e embalagem dos medicamentos; sobrecarga de trabalho e estrutura da área de trabalho; distrações e interrupções durante a separação da medicação; uso de fontes de informação incorretas e desatualizadas; e falta de conhecimento e de educação do paciente sobre os medicamentos que utiliza.

Tais fatores evidenciam que o problema não afeta apenas um dos elos da cadeia, mas está presente em todos os níveis, desde a prescrição ao paciente. O farmacêutico tem a possibilidade de intervir em várias etapas do sistema, uma vez que tem contato com o prescritor, com o administrador e com o paciente, além de lidar diretamente com o medicamento. Desse modo, seu papel é abrangente e sua prática deve estar comprometida com os resultados da assistência prestada ao paciente e “não apenas com a provisão de produtos e serviços”, adverte Tânia Anacleto, ao acrescentar que “o foco de sua atenção deve estar no paciente e suas necessidades, e no medicamento como instrumento de trabalho”.

Na ponta da cadeia está a questão da rotulagem de medicamentos que, segundo especialistas, muito contribui para a ocorrência de erros. “A indústria farmacêutica rotula mal, e um dos maiores exemplos são as ampolas”, diz o farmacêutico americano Michael Cohen. Em reforço a esta opinião, a professora Sílvia Helena de Bortoli Cassiani, da Escola de Enfermagem da USP Ribeirão Preto, cita o caso de troca de ampolas que resultou na administração de insulina em crianças que deveriam ter recebido vacinas.

A presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos e Químicos para Fins Industriais do Estado de Minas Gerais (Sindusfarq), Giana Marcellini, remete a responsabilidade para a legislação governamental que regula o setor. “A indústria farmacêutica é inteiramente regulamentada, e segue resoluções que definem o tamanho da letra e o conteúdo dos textos presentes nas embalagens”, adverte. Na sua opinião, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria simplificar as exigências na rotulagem. “A Anvisa exige uma enormidade de informações em um espaço com pouco mais de dois centímetros. Até o telefone de atendimento ao consumidor precisa ser impresso na ampola. Penso que esta informação, por exemplo, não deveria estar na embalagem primária”, ressalta a farmacêutica.

ERROS DE MEDICAÇÃO E AS ATITUDES DO FARMACEUTICO

(parte II)

O que são?

Erros de medicação são eventos evitáveis que podem levar ao

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