Estudo da Cicadofauna (Hemiptera: Cicadidae) no Cerrado

RELATÓRIO PARCIAL

Título do Projeto: Pulso de nutrientes promovido pela emergência de cigarras (Hemiptera: Cicadoidea) em fitofisionomias de Cerrado

Coordenador: Prof. Dr. Douglas Henrique Bottura Maccagnan

Acadêmico: Alan Ricardo Souza Gomes

Título do Plano de Trabalho: Estudo da cicadofauna (Hemiptera: Cicadidae) no Cerrado do Centro-Oeste Goiano

INTRODUÇÃO

Com área de aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados, o Cerrado corresponde a cerca de 22% do território brasileiro, sendo este o segundo maior bioma nacional (OLIVEIRA & MARQUIS, 2002; AGUIAR & CAMARGO, 2004). O Cerrado é caracterizado por uma heterogeneidade de formações vegetais, que proporciona alta riqueza de espécies vegetais e animais, chegando a representar 30% da biodiversidade do país (RIBEIRO & WALTER, 1998; AGUIAR & CAMARGO, 2004). Entretanto pouco desta é conhecida, principalmente quando se tratam das espécies de invertebrados, como os insetos.

As cigarras (Cicadomorpha: Cicadoidea) são insetos geralmente de grande dimensão que se fazem evidentes pelo som que emitem. Na superfamília Cicadoidea são incluídas as famílias Tettigarctidae e Cicadidae, sendo que nesta última está contida a grande maioria das espécies (MOULDS, 2005), bem como apenas ela possui representantes no Brasil (GRAZIA et al, 2012).

Atualmente é relatada para o Brasil a ocorrência de 160 espécies (SANBORN, 2008; SANTOS & MARTINELLI, 2009ab; SANTOS et al, 2010; MACCAGNAN et al, 2011; SANBORN, 2011; MACCAGNAN & SANBORN 2015; GOGALA et al., 2015). Porém esse número é certamente subestimado, pois há poucos estudos sobre a fauna Neotropical. Isto devido à dificuldade de sua coleta e o pequeno número de profissionais que se dedicam ao grupo.

O aumento do conhecimento sobre o grupo das cigarras que habitam o Cerrado possibilitaria um maior entendimento sobre o ecossistema em questão, visto que estes insetos fazem parte da dieta de diferentes classes de vertebrados, como aves, mamíferos e répteis (SAZIMA, 2009), bem como esse grupo de insetos tem se mostrado importantes no fluxo de nutrientes do subsolo ao meio aéreo em função de seu ciclo de vida em que o imaturo suga seiva do xilema da raiz de seu hospedeiro (AOKI et al, 2011). Entretanto estudos ecológicos específicos com este grupo de insetos têm sido negligenciados já há algumas décadas na região Neotropical, propiciando uma escassez de referencial teórico atualizado. Sendo assim se fazem necessários estudos direcionados especificamente para a compreensão da relação entre as cigarras e o bioma Cerrado.

OBJETIVOS

- Estimar a riqueza e diversidade de espécies de cigarras em duas fitofisionomias do Bioma Cerrado;

- Descrever o padrão de distribuição espacial da espécie Fidicina mannifera por meio da coleta de suas exúvias;

- Quantificar o percentual de água em machos e fêmeas de indivíduos adultos de Fidicina mannifera.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

A área de estudo está localiza-se no Centro de Tecnologia Agroecológica de Pequenos Agricultores (AGROTEC), município de Diorama - GO (16°14’S; 51°16’ W). A AGROTEC possui área de 125 hectares composta por fitofisionomias de Campo sujo, Cerrado strictu sensu, Mata Galeria, Veredas e porções de capoeiras. Para a realização das coletas foi utilizada uma área de Cerrado strictu sensu e outra de Mata.

 

Estimativa da riqueza de espécies

Coletas de cigarras foram realizadas através de armadilhas luminosas do tipo “Luiz de Queirós” providas de lâmpada do tipo mista de mercúrio de 160W. Para cada uma das fitofisionomias estudadas foram utilizadas duas armadilhas distanciadas a cem metros uma da outra. Em campo estas ficaram suspensas a 5 metros de altura e foram armadas com periodicidade de 15 dias, sendo que em cada data de coleta elas permaneceram em campo por duas noites consecutivas. Em laboratório as cigarras coletadas foram alfinetadas e secas em estufa à 45°C por 48 horas. Após esse processo também foi fixado ao alfinete uma etiqueta contendo os dados de coleta.

As cigarras foram identificadas em nível taxonômico específico, sendo utilizado para tal a literatura pertinente e comparação com material de referência depositado na Coleção Entomológica do Câmpus Iporá. Para melhor visualização, quando necessário a genitália do macho foi preparada segundo metodologia apresentada em Santos & Martinelli (2009).

Com o uso do programa EstimateS (COLWELL,2006) para cada uma das fitofisionomias foram calculadas a curva acumulativa de espécies pelo método de reamostragem de Mau Tao e a estimativa de espécie através do estimador não paramétrico Jackknife 1, ambos com 100 aleatorizações. Com o uso do programa PAST (HAMMER et al, 2001), foi calculada a diversidade pelo índice de Shannon-Wiener (H’), sendo este índice comparado entre as duas fitofisionomia pelo teste “t”, e o índice de similaridade de Morisita entre as duas fitofisionomias.

Determinação do percentual de água em adultos de Fidicina mannifera

Para a determinação do percentual de água em adultos de Fidicina mannifera foram coletados  124 machos e 49 fêmeas. Em laboratório estes foram pesados individualmente para a tomada do peso fresco. Posteriormente os espécimes foram dessecados em estufa à 45ºC sendo seu peso aferido a cada 24 horas até que o peso permaneceu estabilizado indicando estarem completamente secas. Esses valores são apresentados no texto na forma de média ± desvio padrão. A partir da diferença entre o peso fresco e seco foi determinada a proporção corpórea de água.

Quantificação e distribuição espacial de Fidicina mannifera

A determinação número de indivíduos emergidos de F. mannifera será realizada através da coleta de exúvias do último instar ninfal. Essas exúvias geralmente se fixam a média altura no tronco de suas árvores hospedeiras. Para tal, em cada fitofisionomias serão demarcadas três áreas amostrais com 20 x 20 metros (totalizando 1200 m2 por fitofisionomia), sendo estas subdivididas em quadrantes de 5 X 5 metros. A partir do número de exúvias obtidos no quadrante será estimado o total de exúvias que emergem por área total.