TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Hanseniase

Tese: Hanseniase. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  17/10/2014  •  Tese  •  2.217 Palavras (9 Páginas)  •  656 Visualizações

Página 1 de 9

HANSENÍASE

Vitor Manoel Silva dos Reis é médico dermatologista do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro permanente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia.A+a-

Imprimir

Existem referências à hanseníase em livros muito antigos, escritos na Índia e na China, séculos antes de Cristo. Provavelmente foi o exército de Alexandre, o Grande, que disseminou a doença pelo continente europeu, quando regressou das campanhas da Ásia.

Na Bíblia, são descritos casos dessa doença infectocontagiosa que atacava principalmente a pele, os olhos e os nervos. As deformidades que provocava eram motivo para seus portadores serem excluídos do convívio social. Considerada castigo dos deuses, os doentes eram recolhidos em leprosários, onde ficavam até morrer. Ou, sem socorro nem tratamento, perambulavam pelas ruas com o rosto e o corpo cobertos por andrajos, pedindo esmolas com uma latinha amarrada na ponta de uma vara para esconder as mãos deformadas pela doença.

Ao longo dos tempos, a hanseníase foi uma moléstia estigmatizante. Na história da humanidade, poucas doenças foram cobertas por manto de ignorância tão espesso. O preconceito era tanto que o nome lepra (lepros em grego não quer dizer nada além do que manchas na pele), utilizado no passado, assustava as pessoas e as mantinha à distância dos pacientes.

Mais tarde, quando Hansen descobriu o bacilo que causava a doença, ela passou a ser conhecida como hanseníase, uma doença como tantas outras provocadas por bactérias e que, graças ao avanço da ciência, hoje tem cura.

AGENTE ETIOLÓGICO

Drauzio – Em que época foram descritos os primeiros casos de hanseníase?

Vitor Manoel Silva dos Reis – Remontam aos primórdios da humanidade os relatos de casos de lepra, nome pelo qual se conhecia a hanseníase e que, ainda hoje, é empregado na língua inglesa. Essa doença sempre foi estigmatizante e seus portadores eram sumariamente alijados da sociedade.

No início, qualquer doença dermatológica era chamada de lepra. Segundo experts no assunto, a psoríase também era conhecida como lepra, e era tão estigmatizante quanto a hanseníase por causa das lesões que produzia na pele. Só muito mais tarde, foi possível estabelecer a diferença entre o que era realmente lepra e as outras doenças de pele.

Drauzio – Quando foi identificada a bactéria responsável pela hanseníase?

Vitor Manoel Silva dos Reis – A Mycobacterium leprae responsável pela hanseníase foi descrita por Hansen (nome do cientista que deu origem à palavra hanseníase), em 1873. Essa bactéria tem importância histórica porque foi a primeira a ser reconhecida como causadora de uma doença.

TRANSMISSÃO

Drauzio – Como se dá a transmissão da hanseníase?

Vitor Manoel Silva dos dos Reis – A hanseníase é basicamente uma doença cutânea, mas que pode afetar também os olhos, os nervos periféricos e, eventualmente, outros órgãos. Embora se pudesse imaginar que a bactéria penetrasse através da pele, o provável é que a transmissão se dê pela secreção e pelo ar que saem das vias aéreas superiores e por gotículas de saliva.

Ao penetrar no organismo, a bactéria desencadeia uma luta com o sistema de defesa. Dependendo do resultado dessa batalha, após um período de incubação prolongado, que pode variar de seis meses a seis anos, o indivíduo poderá desenvolver uma doença, a hanseníase, que apresenta várias formas clínicas e diversos tipos de manifestações na pele.

Drauzio – A transmissão da bactéria depende de um contato íntimo e prolongado. Existe fundamento para a crença de que, num único contato, a pessoa possa adquirir o bacilo e desenvolver a doença?

Vitor Manoel Silva dos Reis – O contato entre os portadores do bacilo e o candidato a contrair a doença tem de ser realmente muito íntimo, porque o Mycobacterium leprae é de baixa infectividade. Há casos descritos – que não são a regra, mas a exceção – de cônjuges em que um é infectado pela bactéria e o outro nunca desenvolveu a doença, assim como há casos de crianças menores de seis anos que entraram em contato com a bactéria há pouco tempo e desenvolveram a enfermidade.

Na verdade, hanseníase não é uma doença muito contagiosa. Sua instalação e desenvolvimento dependem da resposta do organismo invadido pela bactéria.

DOENÇA ESTIGMATIZANTE

Drauzio – Você tem medo de ser infectado uma vez que cuida de doentes com hanseníase há muitos anos, às vezes, em ambientes fechados, em ambulatórios mal ventilados?

Vitor Manoel Silva dos Reis – Nestes últimos 30 anos em que tenho entrado em contato com a hanseníase, conheci médicos que só trabalharam com esses pacientes e nunca desenvolveram a doença. No entanto, existem casos descritos na literatura de enfermeiras que se infectaram no contato com os doentes.

É preciso ressaltar que, mesmo pouco vulneráveis à infecção, os médicos não escaparam do estigma que sempre cercou a hanseníase. Vi muitos serem ameaçados de morte pelo paciente, quando faziam o diagnóstico da doença numa unidade básica de saúde. Esse estigma indireto da hanseníase afastou muitos dermatologistas do tratamento dessa doença. Felizmente, hoje, não é mais assim.

Como já disse, a manifestação da hanseníase depende muito do sistema imunológico do indivíduo que entra em contato com a bactéria. Más condições nutricionais, sociais e de higiene interferem na resposta e eficiência desse sistema. Por isso, a doença é mais prevalente na população de baixa renda.

Drauzio – Esse estigma fazia com que os doentes fossem internados nos tristemente celebres leprosários do passado. Hoje, o tratamento é ambulatorial e o doente convive com a família. Que cuidado as pessoas próximas devem ter em relação ao contágio?

Vitor Manoel Silva dos Reis – O primeiro cuidado é fazer com que os portadores de hanseníase se tratem. O tratamento acaba com os bacilos e, consequentemente, com a possibilidade de contágio.

FORMAS CLÍNICAS

Drauzio – A bactéria penetra pelas vias respiratórias altas e cai na circulação. Quais são os órgãos de sua preferência para instalar-se?

Vitor

...

Baixar como (para membros premium)  txt (14.3 Kb)  
Continuar por mais 8 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com