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A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E SAÚDE NO BRASIL

Por:   •  26/4/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.312 Palavras (14 Páginas)  •  369 Visualizações

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA E SAÚDE NO BRASIL

INTRODUÇÃO

A dependência química é um transtorno crônico e recidivante em que o comportamento compulsivo de busca e consumo de drogas persiste apesar das graves consequências negativas. As substâncias aditivas induzem estados agradáveis (euforia na fase de iniciação) ou aliviam o sofrimento. O uso contínuo induz mudanças adaptativas no sistema nervoso central que levam a tolerância, dependência física, sensibilização e recaída. Dentre as drogas cujo consumo pode levar a dependência podem ser citados os opióides, canabinóides, etanol, cocaína, anfetaminas e nicotina (CAMÍ; FARRÉ, 2003).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Americana de Psiquiatria (AAP) usam o termo "dependência de substância" em vez de "dependência de drogas". As “dependências de drogas", no entanto, enfatiza a conotação comportamental do termo e é menos provável que seja confundida com a dependência física. A tolerância e a dependência física refletem a adaptação fisiológica aos efeitos de uma determinada droga. No entanto, a tolerância e a dependência física não são nem necessárias nem suficientes para um diagnóstico de dependência de substâncias. O abuso de substâncias ou uso prejudicial, transtornos que são menos graves, podem resultar em dependência

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2001).

A palavra "vício" suscita diferentes imagens e fortes emoções em nossa sociedade, porém, muitas vezes, nos concentramos nos aspectos errados do vício, e assim os nossos esforços para lidar com as questões relacionadas a este fato podem estar sendo mal orientadas. Qualquer discussão sobre drogas psicoativas, particularmente drogas como a nicotina e maconha, inevitavelmente é direcionada para a questão, "mas é realmente viciante?" A conversa então muda para os chamados tipos de dependência - se a droga é "fisicamente" ou "psicologicamente" viciante. Esta questão gira em torno de se ou não sintomas dramáticos de abstinência física ocorrem quando um indivíduo para de fazer uso da droga, o que é considerado dependência "física" ((US); STUDY, 2007).

O pressuposto que se segue é que quanto mais dramáticos são os sintomas físicos de abstinência, mais séria ou perigosa a droga deve ser. Na verdade, as pessoas sempre parecem aliviadas ao saber que uma substância "apenas" produz vício psicológico, ou tem apenas sintomas físicos mínimos de abstinência. Assim seus perigos passam a ser erroneamente minimizados.

 DEPENDÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA

Décadas de pesquisa científica, juntamente com uma experiência clínica ainda mais longa, nos ensinaram que o enfoque na distinção entre vício físico versus psicológico está fora do ponto central e coloca-se como uma distração da questão real. De ambas as perspectivas clínicas e políticas, não importa muito quais sintomas de abstinência física ocorrem. Outros aspectos do vício são muito mais importantes.

A dependência física não é tão importante porque, em primeiro lugar, até mesmo os fortes sintomas de abstinência da dependência de heroína e álcool podem ser gerenciados com medicamentos apropriados. Portanto, os sintomas de abstinência física não devem estar no cerne das nossas preocupações sobre essas substâncias. Em segundo lugar, e mais importante, muitas das drogas mais viciantes e perigosas nem sequer produzem sintomas físicos tão graves após a retirada. Crack, cocaína e metanfetamina são exemplos claros. Ambos são altamente viciantes, mas parar seu uso produz poucos sintomas físicos de abstinência, certamente nada como os sintomas físicos de abstinência do álcool ou heroína.

O que é extremamente importante é se uma droga causa ou não o que agora sabemos ser a essência do vício: busca e uso incontrolável e compulsivo de drogas, mesmo diante de consequências negativas no campo social e da saúde. Este é o cerne de como organizações profissionais definem todos os vícios e como todos deveríamos usar o termo. É realmente apenas essa expressão de dependência - desejo incontrolável, compulsivo, busca e uso de drogas - que interessa ao indivíduo viciado e à sua família, e isso deve ser importante para a sociedade como um todo. Estes são os elementos responsáveis pelos enormes problemas de saúde e sociais causados pela dependência química ((US); STUDY, 2007).

FATORES QUE INFLUEM O USO E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Propriedades Farmacológicas e Fisicoquímicas das Drogas

As propriedades farmacológicas e fisicoquímicas das drogas são fatores importantes em como elas são consumidas. A lipossolubilidade aumenta a passagem de um fármaco através da barreira hematoencefálica, a solubilidade em água facilita a injeção de um medicamento, a volatilidade favorece a inalação de drogas em forma de vapor e a resistência ao calor favorece o tabagismo. Características como início rápido e intensidade de efeito aumentam o seu potencial, portanto, as substâncias que atingem rapidamente altos níveis no cérebro são geralmente preferidas (por exemplo, o flunitrazepam é preferido em relação ao triazolam e é preferível a inalação do crack à sua administração intranasal). Uma meia-vida curta (por exemplo, a heroína ) produz síndromes mais abruptas e intensas de abstinência do que uma meia-vida longa (por exemplo, a da metadona) (CAMÍ; FARRÉ, 2003).

Personalidade e Distúrbios psiquiátricos

Os traços de personalidade e transtornos mentais são fatores condicionantes importantes na dependência química. As características de busca de risco ou de novidade favorecem o uso de drogas viciantes. Transtornos psiquiátricos, particularmente esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, estão associados a um risco aumentado de do uso de drogas viciantes.

Fatores Genéticos

Assim como as propriedades farmacológicas e fisicoquímicas das drogas e os distúrbios psiquiátricos, fatores genéticos também estão associados com a predisposição ao uso de substâncias químicas que causam vício. Os homens cujos pais eram alcoólatras têm uma maior probabilidade de aderirem ao alcoolismo, mesmo quando foram adotados no nascimento e criados por pais que não eram alcoólatras, e também têm uma sensibilidade reduzida ao álcool que prevê o desenvolvimento do alcoolismo (SCHUCKIT et al., 2001).

A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

O uso e abuso de substâncias psicoativas são consideradosm problema de saúde pública, com implicações diretas na qualidade de vida do indivíduo e da sociedade como um todo. Além de problemas associados, como criminalidade e demais riscos, a comunidade científica alerta para a ocorrência de déficits no diagnóstico, perpetuando o problema e não fornecendo o devido tratamento.

A substância de maior consumo e, como conseqüência, a que apresenta a maior incidência de dependência, é lícita e de fácil acesso à maioria dos brasileiros. O álcool é consumido por 70% dos adultos, sendo que 10% apresentam problemas relacionados ao uso (FERREIRA e LARANJEIRA, 1998). Acidentes e mortes violentas estão associados ao uso/abuso de álcool, sendo responsável pela morte de 0,8% dos homens, e 0,1% das mulheres (MARIN-LEON, OLIVEIRA e BOTEGA, 2007). Impactos diretos sobre a saúde são verificados em usuários de substâncias injetáveis, como a cocaína (MILLER, 2003), bem como cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão estão associados ao tabaco (PARKIN et al., 1994).

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