Panorama da Cólera no Brasil
Por: dcgb • 26/3/2016 • Artigo • 3.046 Palavras (13 Páginas) • 489 Visualizações
RESUMO
As condições de vida da população, incluindo fatores econômicos, sociais, ambientais e culturais, influenciam diretamente a qualidade de vida. Nos últimos anos o governo vem investindo em melhorias nas infraestruturas básicas, como redes de esgoto e distribuição de água tratada. Neste contexto, analisar o desenvolvimento histórico e o panorama da cólera no Brasil é compreender as possíveis relações entre saúde e ambiente e verificar a eficácia das ações já empreendidas para o controle de surtos e epidemias por cólera. Como opção metodológica, o presente artigo apresenta uma revisão de literatura, atualizada a partir de dados disponibilizados pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica.
Palavras-Chave: Saúde Ambiental; Cólera; Vigilância Epidemiológica
1. INTRODUÇÃO
A compreensão de que a qualidade de vida está diretamente ligada, entre outros fatores, ao ambiente em que vivemos nem sempre foi assim tão clara. É na era grega que a observação filosófica das interações do homem com a natureza deu início ao pensamento racional da medicina. A saúde do homem deixou de ser um capricho dos deuses e passou a ser definida pelas relações que ele estabelece com o universo que o circunda (DINIZ, 2006, p.34). Durante o período de urbanização europeu, decorrente da revolução industrial, surge a teoria miasmática, que identificava que as doenças decorriam dos gases, ares e cheiros resultantes dos acúmulos de dejetos (miasmas).
A pesquisadora e professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, Marta Pignatti (2004, p.133) explica que “a maioria dos estudiosos das condições de saúde alinhava-se a esta teoria. Snow, nos seus estudos sobre a cólera, foi um dos primeiros a defender a possibilidade de existência de agentes vivos microscópicos na gênese dessa doença”.
No entanto, o ambiente perde importância como elemento de influência direta na saúde e bem-estar do homem com a descoberta dos agentes etiológicos.
as descobertas no século XIX contribuíram na construção de bases científicas para a Saúde Pública, como a teoria dos organismos causadores de doenças infecciosas, postulada por Henle, em 1840, a teoria dos Germes de Pasteur, em 1861, a partir do desenvolvimento do processo de pasteurização, o descobrimento do bacilo da tuberculose por Koch, em 1882 e, do vibrião da cólera em 1883 (KORB, CLARO, 2010, p.3).
Apenas na segunda metade do Século XX que os avanços científicos novamente superaram a ideia de uni causalidade, permitindo que estabelecêssemos uma relação de multicausalidade entre três elementos fundamentais: o ambiente, o agente e o hospedeiro, considerando o equilíbrio entre os habitantes e elementos de um determinado sistema ecológico. Deste modo, os estudos passaram a incluir conceitos ecológico-funcionalistas. Em 1965, Leavell e Clark afirmaram que “o meio ambiente refere-se a uma combinação homogênea dos fatores físico-químicos, biológicos e sociais, sendo caracterizado como "o que está em redor"” (PIGNATTI, 2004, p.134). Carlos Batistella explica que “diversas críticas, porém, têm evidenciado as insuficiências deste modelo na explicação do surgimento das doenças na sociedade. De um lado, aponta-se que as análises só estabelecem relações quantitativas entre os fatores causais, não fazendo qualquer distinção hierárquica entre eles” (BATISTELLA, 2007).
Nas últimas três décadas os avanços encaminharam-se para uma ampliação dos elementos que integram a relação saúde/doença, é o caso da Saúde Ambiental.
Moldada nos modelos epidemiológicos tradicionais, a Saúde Ambiental avança alinhando fatores de riscos ambientais a doenças e agravos da saúde de populações expostas a determinados agentes físico-químicos e em situações definidas como não ocupacionais (PIGNATTI, 2004, p.136).
Além dos fatores anteriormente citados, a concepção de ambiente passou a incluir aspectos econômicos, culturais, históricos e psicológicos, como elementos de influência direta.
2. OBJETIVOS
Considerando o cenário anteriormente apresentado delimitamos como objetivos deste estudo: 1. analisar a evolução e o atual panorama da cólera no Brasil e suas relações com o ambiente; 2. conhecer a etiologia, ecologia e manifestações clínicas; 3. compreender a história da Cólera no Brasil e suas pandemias; e 4. analisar o desenvolvimento e o contexto atual da Cólera do Brasil.
3. METODOLOGIA
É na perspectiva da Saúde Ambiental que objetivamos analisar o desenvolvimento da cólera no Brasil, sua história e panorama atual. O Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde define que “a cólera (CID A00.9) é uma doença infecciosa intestinal aguda causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae O1 ou O139. É de transmissão predominantemente hídrica” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p.13).
A cólera faz parte de um grupo de doenças infecciosas de alta gravidade que se caracterizam pela contaminação através de “agentes etiológicos vivos, adquiridos em algum momento pelos hospedeiros a partir do meio ambiente externo” (PIGNATTI, 2003, p.139), estabelecendo um ciclo de possível contaminação ambiente-homem, homem-homem e homem-ambiente. Os pesquisadores do Instituto de Medicina Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Moacir Gerolomo e Maria L. Penna alertam que:
Estudos tornam evidentes a complexidade do processo de determinação da cólera e a importância dos determinantes sociais e do ambiente natural ou modificado na regulação da intensidade da produção e difusão da epidemia. Condições ambientais precárias, abastecimento de água insuficiente e sistemas de esgoto inadequados são frequentemente citados como os maiores obstáculos para o controle do desenvolvimento de surtos e epidemias por cólera (GEROLOMO, PENNA, 2000, p.343).
Para compreender esta relação, e cumprir nosso objetivo central de análise, optamos por pela revisão de literatura, buscando estudos teóricos e empíricos, além de dados sobre a evolução da contaminação. Entre as fontes principais destacamos os estudos de Korb e Claro (2010), Pignatti (2004), Sanjad (2004), Gerolomo e Penna (1999; 2000) e Miranda (2011), além de documentos do Ministério da Saúde (2010), Batistella (2007) e do Portal de Saúde do SUS (sd). Ainda, como referencial sobre o desenvolvimento científico, incluímos a pesquisa de Diniz (2006) e o documento preparado pela Associação Brasileira de Enfermagem (sd).
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