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Avaliação da Atividade Microbiológica e Atividade Antifúngica de Garrafada Medicinal Comercializada em Feira Livre do Município de S.G.A /RN

Por:   •  4/10/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.865 Palavras (12 Páginas)  •  257 Visualizações

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RESUMO: Garrafadas são preparações medicinais advindas da maceração de produtos vegetais (principalmente cascas) em solvente alcóolico, geralmente vinho. Contudo, em virtude das condições de coleta e preparo desses produtos, existe a preocupação em relação ao controle de qualidade microbiológico dos mesmos, bem como em relação à atividade terapêutica. Dessa forma, o presente estudo objetivou avaliar a qualidade microbiológica e o potencial antifúngico de uma garrafada medicinal comercializada na feira livre de São Gonçalo do Amarante/RN. A análise microbiológica foi realizada de acordo com os padrões estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira 5ª ed. (2010) para produtos não estéreis, através do método de semeadura em superfície. Já a atividade antifúngica seguiu a metodologia de microdiluição em caldo proposta pelo CLSI. De acordo com as análises realizadas, a amostra apresentou crescimento de 5,2 x 106 UFC/g e de 1,1 x 105 UFC/g para fungos e bactérias, respectivamente. Já na atividade antifúngica, todas as espécies de Candida testadas foram sensíveis com valores de CIM50 entre 1:64 e 1:128, todavia C. albicans, C. glabrata e C. krusei mostraram maior sensibilidade. Os resultados obtidos mostraram que a garrafada apresentou crescimento bacteriano dentro dos limites aceitáveis, porém apresentou elevada carga fúngica, podendo oferecer riscos à saúde da comunidade. Por outro lado, a garrafada mostrou atividade antifúngica atribuída as possíveis espécies vegetais presentes que já estas possuem relatos de atividade antifúngica na literatura. Assim, apesar das garrafadas serem produtos legitimados na medicina popular, carecem de legislação própria para que possam fornecer condições mais seguras para sua obtenção e utilização.

PALAVRAS-CHAVE: garrafada, controle microbiológico, atividade antifúngica.

INTRODUÇÃO 

As plantas medicinais são utilizadas desde tempos remotos sendo, muitas vezes, o principal recurso terapêutico na prevenção, tratamento ou cura de doenças de populações de países em desenvolvimento (ALVES et al., 2011). No Brasil, a população das grandes e pequenas cidades não possui o contato direto com o cultivo de plantas medicinais, assim a aquisição é feita, em sua maior parte, em feiras livres. No contexto do uso e comércio de plantas medicinais destaca-se a figura do raizeiro (curandeiro), que apesar de não possuir conhecimento formal, é um referencial no preparo e indicação de plantas e preparações medicinais (RIBEIRO; SOUZA, 2008).

Uma preparação medicinal bastante encontrada em feiras livres é a garrafada, uma combinação de plantas medicinais veiculada em bebidas alcoólicas, geralmente vinho, podendo-se, ainda, utilizar outros veículos como mel, vinagre ou água (DANTAS et al., 2008; CAMARGO, 2011). Essas preparações, amplamente difundidas entre a população, são utilizadas com finalidades terapêuticas diversas e administradas por via oral. Apesar de amplamente utilizadas e reconhecidas pela população como remédio, não são submetidas a nenhum teste de segurança, eficácia e qualidade, pois não se enquadram na categoria de planta medicinal, nem tampouco fitoterápico (PASSOS et al., 2018).

Na comercialização desses produtos emerge uma preocupação no que se refere a qualidade, especialmente do ponto de visto microbiológico, pela potencial carga microbiana presente em matéria-prima de origem natural. A contaminação das drogas vegetais pode ser proveniente de sua flora natural, ou pode ser adquirida nas etapas de manipulação (GARBIN; TIUMAN; KRÜGER, 2013). A qualidade microbiológica das preparações medicinais pode ser analisada mediante pesquisa da ausência absoluta de microrganismos viáveis ou pela presença deles em grandezas pré-definidas, estabelecendo limites microbianos aceitáveis. Uma delas é a pesquisa de coliformes totais e/ ou fecais que são indicadores de contaminação fecal e baixos índices de higiene, outra é a pesquisa de microrganismos patogênicos causadores de patologias no homem (Salmonella spp; Pseudomonas aeruginosa) (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010).

Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a qualidade microbiológica sanitária de uma garrafada a base de plantas medicinais comercializada na feira livre do município de São Gonçalo do Amarante/RN. Em paralelo verificou-se o potencial antifúngico da preparação medicinal, considerando que esta é uma de suas indicações terapêuticas.

METODOLOGIA

Descrição da Preparação Medicinal - Garrafada

A garrafada coletada para análise, de acordo com o vendedor, possui indicação terapêutica a problemas de saúde da mulher, tais como inflamação uterina, cistos ovarianos, menopausa, alteração do pH vaginal, distúrbios do ciclo menstrual e para ajudar a engravidar. A garrafada é composta por onze (11) plantas medicinais com os seguintes nomes vernaculares: Ameixa, Quixabeira, Aroeira, Urtiga branca, Pau-D’arco, Jatobá, Cajueiro roxo, Barbatimão, Cumaru, Sucupira e “Bage” de jucá. A garrafada foi preparada pelo próprio feirante, em sua residência, misturando-se as “cascas” das plantas supracitadas no vinho numa garrafa de vidro. As cascas das plantas usadas na preparação medicinal foram adquiridas pela compra em outro comércio, na CEASA/RN (Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte).

No rótulo não possui quaisquer informações sobre os nomes botânicos das plantas usadas. A ausência de identificação taxonômica das plantas é perigosa e pode ter adulterações, mesmo que de forma não intencional (LIMA, NASCIMENTO e SILVA, 2016). Dessa forma, com base em uma pesquisa na literatura, as prováveis espécies utilizadas estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Prováveis espécies utilizadas na composição da garrafada.

Nome comum

Provável espécie

Ameixa

Ximenia americana

Quixabeira

Sideroxylon obtusifolium

Aroeira

Schinus terebinthifolius

Urtiga branca

Lamiun álbum

Pau-D’arco

Tabebuia serratifolia

Jatobá

Hymenaea courbaril

Cajueiro roxo

Anacardium occidentale

Barbatimão

Stryphnodendron adstringens

Cumaru

Amburana cearenses

Sucupira

Pterodon emarginatus

Bage de jucá

Libidibia férrea

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