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Aspectos Gerais da Fazenda Gaviao Picui PB

Por:   •  8/8/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.526 Palavras (11 Páginas)  •  402 Visualizações

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  1. Fazenda Gavião

        A unidade produtiva familiar está localizada no sítio Cachoeira de Baixo, município de Picuí. Possui uma área de setenta e oito hectares, sendo, quarenta obtidas a partir do tempo de serviço na antiga Fazenda, e trinta e oito adquiridas por herança. A família passou a residir na área no ano de 2009, após construírem uma casa com depósito, curral e estábulo, pocilga e mais algumas estruturas para criação de aves. Foram construídas três cisternas de placas, sendo uma com recursos do Programa Um milhão de cisternas executado pelo CEOP e duas com recursos do fundo solidário da comunidade local. As três estão distribuídas em diferentes pontos, de forma a captar as águas provenientes de todos os telhados na propriedade. Na propriedade, também, existe um pequeno açude construído na década de setenta, é um poço tubular escavado recentemente com recursos de um financiamento agropecuário. Vale ressaltar que, mesmo com todos esses mananciais e depósitos, a fazenda vem atravessando uma severa crise hídrica nos últimos anos, sendo necessária a contratação de um caminhão-pipa de água por mês.

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Fazenda Gavião. Foto: arquivo pessoal (fevereiro, 2017).

  1.  Manejo agroecológico

Nos anos anteriores toda a área da propriedade servia de soltura para o gado, já que a terra não oferecia mais condições para a prática convencional de agricultura por causa da compactação e erosão do solo. No primeiro ano de trabalho a família estruturou dois hectares de palma forrageira da variedade gigante. Apesar do solo compactado a família não utilizou trator para aração. Aplicou cinco toneladas de esterco de curral utilizou a vegetação que teve de ser retirada, como cobertura de solo e contenção da erosão. Já as arbóreas, como catingueira, jurema preta, pereiro e pinhão foram deixadas estruturando assim, de imediato, uma agrofloresta, método pioneiro e desconhecido até então, na localidade. Esse método gerou excelentes resultados e demonstrou que a palma consorciada com árvores nativas se desenvolve melhor do que disposta da forma convencional.

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Palma gigante inserida entre as arbóreas de caatinga. Foto: arquivo pessoal, 2014.

O abandono da queima de coivaras no preparo do solo passou a ser uma estratégia essencial na produção de material orgânico usado na proteção e estruturação do solo.

  1. Bancos de proteína

O uso das leguminosas na produção de forragem e na estruturação de solos produtivos é um dos métodos mais utilizados pela agroecologia no desenho de agroecossistemas produtivos. Segundo Gliessmen (2000), “Uma maneira importante através da qual os produtores podem obter vantagens da maior diversidade do ecossistema é a introdução de leguminosas fixadoras de nitrogênio no agroecossistema”. Com base nisso, em 2009 a família implantou um bosque de meio hectare utilizando a gliricídea (gliricidia sepiun). Apesar de exótica é uma planta de alta resistência a estresse hídrico e solos desgastados, conseguindo vegetar rapidamente em condições extremas desses dois fatores ambientais citados.

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Grupo de agricultores em visita ao bosque de gliricídea. Foto: arquivo pessoal, 2016.

Desde a sua implantação já foram colhidos mais de dois mil quilos de folhagem utilizados para alimentação de ovelhas, além de sementes para plantio em outros espaços da fazenda e de outros agricultores que visitam a área. Na própria área do bosque a família já produziu outras lavouras anuais em sistema de consórcio, como milho e feijão. Para essa atividade é necessário realizar a poda das árvores para evitar o sombreamento das outras culturas.

        Outra leguminosa implantada em sistema de bosque foi a leucena (leucaena leucocephala). Assim como a gliricídea, ela é uma planta exótica com todas as características adaptativas da anterior. O seu diferencial é a alta palatabilidade entre todos os ruminantes. Também sendo bastante aceita por galinhas, perus e patos. Esse segundo bosque foi implantado no ano de 2015 e já produziu, aproximadamente, mil quilos de massa verde disposta para forragem, além de cinqüenta quilos de sementes colhidas e transformadas em farelo, o qual confere excelente alimentação para galinhas de postura. Outra vantagem observada na leucena é a sua rapidez na rebrota, mesmo em época de total ausência de umidade no solo.

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Bosque de leucena em fase inicial. Foto: arquivo pessoal, 2015.

Atualmente a Fazenda conta com trezentas gliricídeas e oitocentas leucenas já em fase de reprodução, além de inúmeras propagações em estágio inicial nascidas em pequenas áreas isoladas dos animais, na propriedade. Essas áreas, por sua vez, cumprem o papel de garantir a recuperação da pastagem nativa com posterior dispersão natural de sementes.

  1. Implantação do mandacaru sem espinhos

Entre o final do ano de 2015 e o início de 2016 a Fazenda sofreu o ataque da cochonilha do carmim (Dactylopius opuntiae). Essa praga que vem dizimando todos os palmais da variedade gigante, do Cariri ao Curimataú da Paraíba. Para não haver prejuízo com perda de mais de quinhentas toneladas de palma gigante, se resolveu vender o material a criadores da região. Com parte do recurso adquirido a fazenda renovou a adubação de toda a área, antes ocupada com palma, utilizando esterco de curral, em seguida adquiriu mudas de mandacaru sem espinhos e implantou a cactácea em espaçamento de 1m entre plantas por 2m entre linhas. Essa forma de espaçamento garante o consórcio com leguminosas e outras lavouras.

O mandacaru sem espinho é muito utilizado como planta ornamental e apresenta elevado potencial para a alimentação animal, em função do seu teor proteico em torno de 10,7%, além da vantagem de não possuir espinhos, o que facilita o manejo e evita acidentes aos animais e ao homem (EMBRAPA, 2011). A partir dessas constatações avalia-se que é possível reestruturar o aporte forrageiro, tendo o mandacaru sem espinho como alternativa a palma gigante.

  1. Implantação de variedades de palma resistentes à cochonilha do carmim

A partir da parceria com o Núcleo de Estudos Agroecológicos (NEA), através do Professor Frederico Campos Pereira, a fazenda recebeu a oferta de três variedades de palma resistente à cochonilha do carmim, sendo elas Orelha de elefante mexicana (Opuntia tuna), Baiana (Napolea cochenilifera) e Miúda (Napolea cochenilifera). Contrariando a orientação técnica dada pelos órgãos de ATER responsáveis pela difusão das referidas variedades, na Fazenda Gavião se implantou os campos sem nenhum tipo de irrigação. Apenas se escolheu as áreas consideradas mais férteis e de solos friáveis para que as plantas tivessem condições mais favoráveis de desenvolvimento. Dessa forma, avalia-se que as referidas plantas, em condições de sequeiro, podem adquirir mais capacidade adaptativa às condições de semiaridez. Com um ano depois de implantas, observa-se uma brotação satisfatória, apesar dos baixos índices pluviométricos ocorridos durante o período. Dentre as três variedades citadas, observa-se a Orelha de elefante mexicana como a mais resistente à seca e ao ataque da cochonilha de carapaça (Diaspis echinocacti).

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