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Mulheres Computadoras da NASA

Por:   •  26/11/2018  •  Artigo  •  7.920 Palavras (32 Páginas)  •  233 Visualizações

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BIO/GRAFIA, CONTEXTO E NARRATIVA EM

HIDDEN FIGURES, DE MARGOT LEE SHETTERLY

Aysla Caroline De Sousa Silva[1] 

Walderlanne Da Silva Ferreira[2]

Valeria Angelica Ribeiro Arauz[3]

valeria.arauz@ufma.br

RESUMO

Esta análise aborda a construção do texto literário de Margot Lee Shetterly na biografia das Mulheres Computadoras da NACA/NASA, tomando como referências o contexto que envolve as personagens e o contexto de produção da obra. Temas como a segregação racial, as diferenças de gênero e a corrida espacial americana se interseccionam nas histórias dessas figuras ocultas – matemáticas e engenheiras que colaboraram no desenvolvimento de tecnologia militar e aeroespacial para os Estados Unidos nos anos 60 do século XX. Tomamos como teoria os estudos de Umberto Eco, Dominique Maingueneau e Patrick Charaudeau para as análises da narrativa e do discurso na biografia analisada. O conhecimento sobre a história dessas mulheres é fundamental para ressignificar o lugar social feminino e a construção equivocada de que a ciência seria um domínio masculino, independentemente da época. Esse saber incentiva o aperfeiçoamento e qualificação a partir da identificação das mulheres, estimula o conhecimento de suas aptidões e o desenvolvimento de novas práticas sociais.

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres na Ciência, Biografia, Narrativa

1 Introdução

Houve um tempo em que “computadores” não eram as máquinas, mas pessoas que realizavam cálculos. Derivada da etimologia da palavra latina computare (contar, calcular), essa era a denominação usada para se referir àqueles que realizavam manualmente as operações matemáticas necessárias para que engenheiros e outros profissionais das ciências exatas alcançassem êxito em suas funções.

Este trabalho faz referência à narrativa sobre essa época na História dos Estados Unidos em que o trabalho desses computadores foi essencial para a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial e na posterior corrida espacial durante a Guerra Fria. Mais que isso, ressalta a biografia de mulheres que se mantiveram desconhecidas por muitos anos, mas foram elemento essencial para a escrita da História na função de “computadoras” – matemáticas e engenheiras da NACA/NASA[4]  (SUCKOW, 2009, p.1) –  apresentadas ao público por meio da narrativa biográfica publicada no livro Hidden Figures (Estrelas Além do Tempo, na tradução brasileira, e Elementos secretos, na portuguesa), da americana Margot Lee Shetterly.

Esta leitura nasce do imperativo de que sejam feitos questionamentos que instiguem as mulheres sobre o conceito de meritocracia trazido pela história dessas vidas. Considera o contexto social da narrativa e faz correlação com os dias atuais, visando incitar que nós nos tornemos protagonistas da nossa história, assim como elas o fizeram, pois existe um vasto caminho que há de ser percorrido na história das mulheres que optam por carreiras na área de Ciência e Tecnologia (STEM – Science, Technology, Engineering and Mathematics).

O debate trazido à tona por Hidden Figures vem acontecendo e levanta questões que vão além do entendimento de gênero (encrustado na sociedade por um modelo social cuja necessidade de ruptura é uma batalha diária), pois se torna crucial mostrar que não há um elemento externo facilitador, um “herói”, mas cada conquista é fruto e mérito de um trabalho árduo de mulheres assumindo lugares até então não ocupados e/ou respeitados. Assim, o conhecimento sobre a história dessas mulheres é um ponto fundamental para Shetterly, cujo objetivo é desmistificar o lugar social feminino e a construção equivocada de que a ciência seria um domínio masculino, independentemente da época. Esse saber incentiva o aperfeiçoamento e qualificação a partir da identificação das mulheres e estimula que conheçam suas aptidões e as coloquem em prática.

        A narrativa apresentada sobre as mulheres computadoras que aos poucos buscam seu espaço dentro da NASA captura o leitor que, ao longo da história, descobre quem foram essas mulheres que estiveram escondidas dos holofotes como tantas outras dentro dos corredores de laboratórios das ciências exatas. A autora apresenta essas histórias como uma maneira de evidenciar que, antes que o homem pudesse dar uma volta na orbita da terra ou ir à lua, existiam mulheres negras que eram matemáticas, programadoras, engenheiras, mães, esposas, e apesar de toda dificuldade encontrada no seu ambiente de trabalho fizeram isso se tornar possível:

Houve Dorothy Hoover, que trabalhou para Robert T. Jones em 1964 e publicou uma pesquisa teórica sobre as famosas asas em delta em forma de triângulo dele, em 1951[...] Houve Mary Jackson, que defendeu sua análise contra John Becker, um dos principais aerodinamicistas do mundo. Houve Katherine Coleman Goble Johnson, que descreveu a trajetória orbital do voo de John Glenn, cuja matemática de seu relatório pioneiro de 1959 era elegante, precisa e magnifica como uma sinfonia. (SHETTERLY,2017, p.17)

Representatividade também é uma forma de poder, e conhecer mulheres que também fizeram parte da história da ciência é importante.  Mileva Marić, Clara Immerwahr, Marie Curie e tantas outras fizeram descobertas importantes, mas frequentemente são lembradas sob o nome de um grande cientista homem. Tendo em vista que a presença das mulheres na ciência seja recorrente ao longo do tempo, esse ainda é visto como um fenômeno emergente, pois o debate maior principalmente sobre a visibilidade teve ascensão com as conquistas femininas mais recentes. Como consequência, “enquanto jovens mulheres nos dias de hoje são encorajadas a caminhar para a ciência, a história das mulheres na ciência é desconhecida por elas”[5].  (GOLEMBA, 1995, p.1. Tradução Livre do original).

Conhecer e dar visibilidade a essas mulheres é também ter a oportunidade de criar referências para quem queira ingressar no caminho da ciência. Golemba (1995) expressa também as dificuldades de encontrar fontes de informações sobre essas figuras no meio científico, onde alunas e pesquisadora desconhecem os nomes daquelas que foram influentes em seu campo de atuação. Há diversas mulheres escondidas na História, mas é notório que elas precisam trabalhar muito mais para alcançar o reconhecimento das suas realizações.

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