Tecnologia Da Matriz Africana
Dissertações: Tecnologia Da Matriz Africana. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: janne09020902 • 7/12/2013 • 2.203 Palavras (9 Páginas) • 598 Visualizações
Ciência e tecnologia a partir da matriz africana
Por Roberta Fusconi e Guimes Rodrigues Filho
Na Semana Cultural da escola, a classe de Aisha e Yetundê apresentaria o tema África sugerido pela professora porque, aprendendo sobre esse continente, as crianças conheceriam melhor o Brasil. Consultada sobre onde encontrar material sobre o assunto, vovó Nanã, que nasceu na Nigéria, falou da riqueza da oralidade na tradição africana e de como as pessoas são educadas com o uso da palavra falada, e completou: “Infelizmente, muita coisa não está escrita. Por isso dizem que o africano não construiu nada. Mas é mentira – advertiu Nanã. – A humanidade surgiu na África e os africanos tinham um conhecimento antigo em diversas ciências –, a avó comentou.” (Fonseca, 2009).
É no continente africano – que há aproximadamente 200 milhões de anos encontrava-se unido ao Brasil, formando com os outros continentes do atual hemisfério sul o supercontinente Gonduana (do inglês Gondwana) – que os pesquisadores de todo o mundo buscam a origem da humanidade. As evidências de que o Homo sapiens teve origem em África são muitas. Escavações no deserto de Afar, na Etiópia, nos apresentaram Lucy e a menina Selam (“paz”, em diversas línguas etíopes), ambos Australopithecus afarensis que viveram há 3,2 milhões e 3,3 milhões de anos, respectivamente. Foram encontrados na África do Sul fósseis humanos denominados Australopithecus sediba, com cerca de 1,95 milhão de anos (Wong, 2010). Não obstante existam teorias e polêmicas, é certo que todos os fósseis que podem ser os antepassados diretos de nosso gênero Homo estão no continente africano. Corroborando com esses dados, uma pesquisa publicada em 2007, que apresenta o estudo de variações genéticas globais e medidas cranianas de diferentes regiões do mundo, demonstra que o Homo sapiens teve origem única: a África (Manica et al., 2007).
Segundo Adams III (1986), é fato que na África existe uma rica história de conhecimento científico, descobertas e invenções que antecedem o surgimento da civilização europeia: a descoberta do tempo, o controle do fogo, o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas, a linguagem e a agricultura. Nada no século 20, segundo o autor, contribuiu tanto para o desenvolvimento da humanidade como esse conhecimento da matriz africana – nem a chegada à Lua, a descoberta do DNA ou a energia nuclear, a televisão ou o laser, e nem mesmo o automóvel.
Assim, é necessário destacar elementos norteadores da ciência e tecnologia na aplicação da lei federal 10.639/03 que tenham bases no conhecimento africano como, por exemplo, o fato de que no século XIX um médico inglês chamado R. Felkin, em contato com os Banyoros, na região que hoje compreende Uganda, testemunhou uma cirurgia cesariana. Felkin descreve com êxtase os passos da cirurgia, ressaltando as técnicas de cauterização, assepsia, etc. Felkin destaca que as mãos do cirurgião africano trabalham com sensibilidade, maestria e delicadeza difíceis de serem encontradas nos cirurgiões ocidentais (De Smet, 1998).
O instrumento médico utilizado na cirurgia cesariana foi levado por Felkin e se encontra exposto no Museu de Londres. É claro que a construção do instrumento tem como base a integração entre os Orixás e os seres humanos pois, segundo o itan de Ogum, que já traz em si o conhecimento tecnológico, esse Orixá concedeu aos seres humanos o segredo da forja do ferro:
Ogum e seus amigos Alaká e Ajero foram consultar Ifá. Queriam saber uma forma de se tornarem reis de suas aldeias. Após a consulta foram instruídos a fazer ebó. (...) Os amigos de Ogum tornaram-se reis de suas aldeias, mas a situação de Ogum permanecia a mesma. Preocupado, Ogum foi novamente consultar Ifá. E o advinho recomendou que refizesse o ebó. Depois, deveria esperar a próxima chuva e procurar um local onde houvesse ocorrido uma erosão. Ali devia apanhar da areia negra e fina e colocá-la no fogo para queimar. Ansioso pelo sucesso, Ogum fez o ebó. E, para sua surpresa, ao queimar aquela areia, ela se transformou na quente massa que se solidificou em ferro. O ferro era a mais dura substância que ele conhecia. Mas era maleável enquanto estava quente. Ogum passou a modelar a massa quente. Ogum forjou primeiro uma tenaz. Um alicate para retirar o ferro quente do fogo. E assim era mais fácil manejar a pasta incandescente. Ogum então forjou uma faca e um facão. Satisfeito, Ogum passou a produzir toda espécie de objetos de ferro. Assim como passou a ensinar seu manuseio. Veio fartura e abundância para todos. Dali em diante Ogum Alegbedé, o ferreiro, mudou. Muito prosperou e passou a ser saudado. Como Aquele que Transforma a Terra em Dinheiro. (Prandi, 2001).
O ferro é o elemento químico mais abundante na crosta terrestre e sua importância é destacada pela sua utilização nas construções civil, naval e aeronáutica, entre outras. Reaproveitado de pneus velhos, serve à confecção do berimbau, ou seja, a corda que vibra no instrumento é feita a partir do compartilhamento do conhecimento de Ogum.
A partir do conhecimento da estabilidade nuclear do ferro obtemos informações sobre a estabilidade de todos os outros elementos químicos encontrados na natureza. Aqueles classificados como mais pesados do que o ferro ficam à sua direita e os mais leves, à sua esquerda. Esta classificação nos leva aos estudos da radioquímica segundo a qual, os elementos mais pesados do que o ferro tendem a sofrer um fenômeno chamado de fissão nuclear (reação básica que faz funcionar os reatores que podem servir à humanidade na medicina, na indústria de alimentos, etc., ou mesmo levar à produção das chamadas armas nucleares), enquanto os mais leves sofrem a reação de fusão nuclear. Todos esses fenômenos demonstram que a tendência dos elementos da natureza é buscar a estabilidade do ferro de Ogum.
Cabe uma reflexão sobre por que não encontramos, durante a nossa formação nos cursos de graduação em ciências – engenharia, química, física, biologia, etc. – informações sobre os saberes e fazeres dos povos africanos. Estes saberes e fazeres são ocultados para justificar a colonização, a apropriação das riquezas e do conhecimento e a destruição daquele continente por parte do Ocidente. No entanto, Sherby e Wadsworth (2001) propuseram uma nova sequência para a idade dos metais. O início da idade do ferro, que se acredita datar de 1000 a.C., foi alterado para incluir o conhecimento da metalurgia desse elemento químico pelos africanos. Essa modificação se baseou em pesquisas que encontraram uma placa de ferro na pirâmide de Quéfren, no Egito, que data de 3700 a.C. Tal descoberta demonstra, segundo os autores, o conhecimento
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