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Por: liviadeoliveira • 4/8/2015 • Projeto de pesquisa • 4.060 Palavras (17 Páginas) • 280 Visualizações
CAPÍTULO 4
HÓSPEDE
As paredes sangravam e ainda mais sangue caía em cascata pelos degraus da escada às suas costas. Ouviu a risada e então ouviu o primeiro passo, seguido do arrastar e sabia que a mãe vinha para buscá-lo.
Pistola e faca em mãos, ele caminhou, a sola de suas botas manchando-se de sangue e pegadas. Ele olhava por sobre o ombro e girava, então fitava a escuridão e piscava a lanterna acoplada à pistola, mas não tinha qualquer sinal da criatura.
Outro passo, e então o arrastar.
Parou e apontou sua pistola, vasculhando o subsolo com a luz de sua lanterna. Passou por uma silhueta e, quando voltou, ela não estava mais lá.
Outro passo, e o arrastar.
Apontou a lanterna para o chão, mas não encontrou nada. Girou sobre os calcanhares, sempre apontando a pistola, mas quanto mais procurava, mais perdido ficava.
Ouviu o passo. Ouviu o arrastar. Sentiu algo pingar sobre seu ombro. Ele aponta a pistola e lá estava a mãe, sobre ele, arrastando-se pelo teto. Ela uiva, sua cabeça sem qualquer feição com exceção de uma enorme boca cheia de presas gotejando sangue.
Ele dispara duas vezes e ela salta sobre ele. O caçador salta para trás, caindo de costas. A lanterna, que só era acionada quando o botão permanecia pressionado, apaga e, mesmo na escuridão, ele dispara novamente, rolando para o lado enquanto tentava se levantar.
Podia sentir o sangue que molhava seus braços e suas costas e não uma única vez escorregou no grosso sangue coagulado sob seus pés. Atirou a esmo mais uma vez e o brilho do disparo mostrou a criatura: havia errado aquele tiro, mas agora apontava para o lugar certo. Apertou o gatilho duas vezes e ouviu a mãe gritar.
Acendeu a lanterna. Ela não estava mais lá.
Ele troca o pente da pistola e volta a vasculhar o lugar, agora adicionando o teto às buscas. A luz que vinha do alto das escadas exibiu a silhueta quando a mãe se levantou. Matsui apontou a pistola, iluminando-a com a lanterna. Ia puxar o gatilho quando o volume de sangue descendo os degraus aumentou. E aumentou. E aumentou de novo.
A enxurrada desceu numa pancada e ele hesitou. A criatura se moveu, lembrando-o de sua presença, e o caçador abriu fogo, seguindo seu trajeto. Foram quatro disparos antes que a onda de sangue o agarrasse pelos tornozelos, o derrubasse e levasse arrastado para o outro lado do subsolo.
Matsui levanta-se, a barba pingando sangue e ergue a cabeça. A coisa salta sobre ele, prensando-o contra a parede. A cabeça se choca contra o concreto e o rebote a joga para frente. Os dentes relampejaram para arrancar-lhe a face, mas se fecham a milímetros do rosto do caçador – na verdade, ele chega a senti-los resvalando contra a ponta de seu nariz.
O único braço livre do caçador se ergue e ele crava a faca contra o “rosto” da mãe. O grito é horrível, mas os dentes fechando-se feito guilhotina eram ainda mais. Matsui empurra a faca, tentando manter aquelas “lâminas” longe de si e precisava de toda a força para isso.
- Rin Pyōh Tōh...
A mãe afasta as presas e arremessa o caçador contra o chão. A faca fica firmemente presa ao crânio da criatura enquanto ele se amontoa e rola, vadeando no sangue, apontando a pistola e atirando uma, duas vezes enquanto ela corria em sua direção.
- Sha Kai – ele pisa em falso no bueiro e cai novamente enquanto ela salta em sua direção – Jin Retsu – a coisa cai sobre ele, tentando morder. Ele ergue as pernas e seus pés ficam sobre o peito da mãe, lutando para afastá-la – Zai...
O caçador junta suas forças e a empurra para trás.
- Zen!
A mãe se afastava, empurrada pelas pernas do caçador, quando o tiro a atinge em cheio, arremessando-a contra a parede. Ela cai para trás, berrando, e mais três tiros são dados por Bosco enquanto ele corria em sua direção, forçando-a contra o chão toda vez que ela lutava para se levantar.
O caçador respirava fundo, deitado no chão, encharcado de sangue.
- Tá vivo? – indaga Bosco.
- Acho que sim – ele responde, ofegante. O mundo estava claro de novo. Não havia cascata de sangue descendo os degraus da escada e não havia sangue escorrendo pelas paredes e formando poças no chão... Mas a mãe estava ali.
O caçador levanta-se, dolorido e cambaleia para perto da criatura caída.
- Expulso-te, espírito sujo – ele toma um gole de ar – , que seja extirpado e sacado do mundo dos homens e das almas à eles semelhantes – a mãe tenta levantar-se mais uma vez, debatendo-se com violência. O tiro de Bosco a impede – Astuta serpente, não te atreverás mais a enganar – respira – a raça humana – respira mais uma vez – , e ceifá-los como se fossem trigo. Eu ordeno-te à escuridão e ao fogo e ao enxofre – o caçador se aproxima, ajoelhando-se próximo à cabeça da mãe – In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti...
O caçador apenas envolve o cabo da faca, ainda presa à testa da mãe, com uma das mãos.
- Amen!
Como se eletricidade e fogo passassem através de seus ossos, a criatura se debate e se contorce, e então para. O corpo começa sua decomposição acelerada e o caçador se afasta, fugindo do gás de enxofre que escapa.
Bosco e Matsui se entreolham.
- Que foi? – indaga o caçador, encharcado em sangue.
- Nem sabia que eles podiam criar outra dimensão...
- É... Um Abissal pode – havia gravidade na voz do caçador.
- Abissal? – a expressão no rosto de Bosco agora trazia o mesmo sentimento.
O caçador ergue a mão, como se quisesse ajuda para levantar. Bosco ri e balança a cabeça.
- Nem fodendo, cara – e aponta para ele despreocupadamente, exibindo todo o sangue que cobria o caçador.
A mão do caçador se transforma em um dedo médio em riste e ele se deita, cansado.
- É a terceira vez que eu salvo o teu rabo só hoje.
- É? Quer uma medalha?
Bosco ri.
- Além disso, é a segunda – corrige o caçador – Aquela primeira vez, ele pulou em você, não em mim.
O policial dá de ombros. Após algum tempo, o caçador se levanta, caminhando lentamente ao lado de Bosco.
...