A Escrita Avulsa
Por: Jelian Monteiro • 10/12/2022 • Dissertação • 467 Palavras (2 Páginas) • 84 Visualizações
PENSAMENTOS
Sai a noite. Coisa rara, posso afirmar. Ir a lugares em que há pessoas não é algo que se diga corriqueiro, ainda mais para alguém como eu, que vive enfurnando dentro de casa, com a vista a mostra durante oito horas intermináveis á tela branca de um computador, sem contato humano além das videoconferências (se é que podemos chamar isto de contato humano). Não fui sozinho. Levei comigo minha companheira a qual há um ano e meio já partilho a vida. As pessoas que lá estavam eram amáveis, interessantíssimas, tinha ideias e trajetórias que muito me encantaram. Mas esse encanto, penso eu, deve vir de mim, pois sou naturalmente interessado na vida alheia. Mas por favor não me entenda errado, isso nada a ter a ver com a alcunha de fofoqueiro, o qual nunca me foi atribuída e assim espero que continue. O que intento por expressar é que ouvir a história, os interesses, as paixões das pessoas me fascinam. Cada ser humano possui uma história própria, única, singular. Poder-se-ia criar um filme para cada individuo. Para alguns longas, para outros curtas, mas que certamente seriam maravilhosos de serem assistidos. É triste perceber como pouco importa-se com os outros na rotina contemporânea. Não nos damos contas disto. Não conseguimos enxergar as pessoas por detrás das barreiras sociais que nos comportam. Olhar no fundo dos olhos é insuportável, inimaginável segurar uma linha de afeto por tão longo tempo sem que uma das partes ceda. Olhamos nosso próprio umbigo na maioria das vezes. Raramente falamos, mas quando as palavras despontam dos nossos lábios, sempre são sobre nos. Temos muito a afirmar, mas pouco a perguntar.
O TERMINO – (pretexto do conto: um casal termina sua relação em um restaurante. O homem discorre seu ponto de vista, explorando seus sentimentos e como ele interpreta a indiferença dela. Na segunda parte do conto a narrativa é contada a partir do ponto de vista dela, explorando os seus sentimentos e de como ela enxerga a brusquidão dele)
Seus olhos marejavam, aguados, reflexivos, via meu contorno neles. Seus lábios ressecados apertavam-se, um sob o outro, uma barreira o qual as palavras não ousavam pular. Seus braços guardavam seu corpo, cruzados, robustos em cima do peito. Nossos olhares já não estavam alinhados, pois você decidira por encarar o chão de cimento queimado. Eu causei-lhe tanta mágoa. Mas já não me lembro por quê. As palavras que disse, ou que deixei de dizer, assentaram-se em ti.
Estávamos em uma mesa pequena, para dois, num canto remoto do salão do restaurante. Era um lugar escondido, daqueles que as pessoas não circulam e os garçons devem ser chamados aos gritos para que se deem conta de que ali há clientes. Escolhi este espaço pois sabia que você não aprecia demonstrar-se em publico. Sei que repulsa os olhares julgadores de estranhos.
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