A INTERDEPENDÊNCIA DAS TEORIAS ORGANIZACIONAIS
Por: adiego • 11/9/2016 • Resenha • 1.364 Palavras (6 Páginas) • 1.143 Visualizações
Mestrado Profissional em Gestão de Organizações e Sistemas Públicos[pic 1]
Aluna: Lilian Segnini Rodrigues
Resenha Crítica
Bibliografia utilizada: REED, Michael. “Teorização Organizacional: Um Campo Historicamente Contestado” in Clegg, Hardy e Nord (org). Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo, Atlas, 1999. Capítulo 1.
A INTERDEPENDÊNCIA DAS TEORIAS ORGANIZACIONAIS
Ao estudarmos separadamente as teorias da administração dos mais variados autores, percebemos que todas apresentam alguma deficiência no sentido de que não podem ser aplicadas a todos os contextos e todos os tipos de organização. Ou seja, as teorias por si só não são completas, nunca foram e, sem dúvida, nunca serão.
Michael Reed, em sua obra “Teorização Organizacional: um Campo Historicamente Contestado”, que foi publicada no livro “Handbook de Estudos Organizacionais” em 1999 pela Editora Atlas, traz a tona essa questão e garante que a criação das teorias organizacionais é uma atividade intelectual que está necessariamente envolvida com o contexto histórico em que ela é criada e recriada, ou seja, as teorias visam atender às necessidades daquele determinado momento e, quando isso acontece, muitas vezes elas deixam de existir ou não se aplicam mais as realidades posteriores.
Professor de Análise Organizacional na Universidade de Cardiff (País de Gales), Michael Reed é uma referência quando o assunto é Teoria Organizacional. Possui publicações nas mais importantes revistas organizacionais e é membro de várias academias e associações internacionais. Reed é também um dos editores fundadores da revista internacional “Organização”, publicada pela Sage Publications.
Nesse texto Reed faz um mapeamento das teorias das organizações como um campo de conflitos históricos, onde cada uma delas, representadas por diferentes línguas, abordagens e filosofias, luta por reconhecimento e aceitação.
O autor faz um breve resumo de como surgiram os primeiros estudos organizacionais, com os pensadores do século XIX, como Saint-Simon. Diz que com o advento da modernização e, consequentemente, da ampliação das unidades organizacionais, a coordenação personalizada e direta tornou-se insustentável, dando origem a um novo modo de organização da sociedade, o qual exigia novos métodos administrativos, caracterizados pela racionalidade e pela ciência, que triunfava sobre a política.
As vontades individuais cediam lugar às necessidades coletivas, onde acreditava-se que estava a solução do problema da ordem social, ou seja, o conflito entre sociedade e indivíduo seria permanentemente superado. Porém, essa garantia de progresso material e social por meio do incremento tecnológico contínuo da organização moderna e da administração, o autor identifica como ‘cada vez mais distante’.
Com relação aos dias atuais, podemos dizer que esse progresso ainda continua muito distante. Parece haver um abismo entre sociedade e indivíduo, em outras palavras, entre a coletividade e o individualismo, haja vista que os interesses são muitos e, muitas vezes, conflitantes. O autor relata no texto que cada vez mais há contestações sobre os pressupostos de que qualidades racionais e éticas são inerentes à organização moderna.
Não é nenhuma novidade que a criação de uma teoria se deve à análise da prática. O autor afirma isso dizendo que a teoria vem da prática realizada por pessoas num determinado período histórico e está voltada para a construção e mobilização de recursos ideais, materiais e institucionais para legitimar certos conhecimentos e os projetos políticos que deles derivam.
Reed apresenta um conjunto de modelos interpretativos que, segundo ele, formam o campo intelectual de conflitos históricos em que a análise organizacional se desenvolveu. Dentre as teorias apresentadas por ele encontram-se a Teoria da Administração Científica, de Taylor, a Teoria Clássica, de Fayol, as Teorias das Relações Humanas, representadas pelos estudos de Durkheim, Barnard, Mayo e Parsons e a Teoria da Burocracia, de Weber, dentre outras.
Segundo o autor, esses modelos desenvolvem uma relação dialética com processos históricos e sociais, como formas contestadas e pouco estruturadas de conceitualizar e debater aspectos chaves da organização, sendo que cada um deles é definido com vistas aos problemas que ocorriam no momento em que se desenvolviam, gerando, de acordo com Reed, controvérsias teóricas e conflitos ideológicos em torno da questão de como a organização pode e deve ser.
De fato, o que se percebe ao estudar as teorias organizacionais é que elas foram criadas para resolver os problemas e conflitos do contexto e do período em que estavam inseridas, sempre deixando de lado outros aspectos, menos visíveis, mas não menos importantes. A racionalidade científica, característica marcante das teorias da Escola Clássica da Administração, por exemplo, excluíam totalmente os aspectos humanos, como valores e emoções, fazendo com que as pessoas se tornassem meras “matérias-primas” do processo, ou seja, as pessoas eram vistas apenas como operadores ou meros executores de ordens, e não como seres “pensantes”.
Reed cita Gouldner ao afirmar que o modelo de racionalidade da organização prescreve o “mapa” de uma estrutura autoritária em que os indivíduos e grupos são obrigados a seguir leis. Um modelo que, embora atendesse à necessidade de uma hierarquia profissional, era totalmente antidemocrático e anti-igualitário.
Esse modelo foi, portanto, contestado por linhas alternativas, como pelas teorias da Escola das Relações Humanas, que trazia à tona a questão da importância dos aspectos humanos e sociais no processo produtivo. Foi nesse momento que o pensamento mecanicista perdeu espaço, cedendo lugar ao pensamento organicista, que tinha uma concepção diferente em relação à integração social, preocupando-se também com a maneira como as organizações modernas combinam autoridade com um sentimento de comunidade entre seus membros.
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