A Linfadenite Caseosa ou “mal do caroço”
Por: Arco Arco • 26/8/2021 • Artigo • 1.287 Palavras (6 Páginas) • 90 Visualizações
Linfadenite caseosa ou “mal do caroço”
A linfadenite caseosa é uma doença infecto-contagiosa de caráter crônico que acomete, principalmente, ovinos e caprinos e é causada pelo agente bacteriano Corynebacterium pseudotuberculosis.
O gênero Corynebacterium é constituído por bactérias Gram positivas, cocobacilos pequenos ou pleomórficos, anaeróbios facultativos, não esporulados e imóveis.
Com a expansão do agronegócio da caprinovinocultura, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento criou o Programa Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos (PNSCO) com objetivo de controlar e erradicar as doenças destas espécies, por meio de ações sanitárias e de vigilância epidemiológica, como: cadastro sanitário de estabelecimentos; controle de trânsito dos animais e certificação voluntária das propriedades.
A doença causada por C. pseudotuberculosis está presente em todo o mundo e possui impacto econômico alto em ovinos e caprinos, desencadeando perda de peso e condenação da carcaça em casos de abscessos internos.
Os sintomas clínicos se manifestam no animal acometido de duas formas: superficial e visceral, dependendo do local e da extensão das lesões. Comumente são afetados os linfonodos parotídeos, submandibulares, pré-escapulares, pré-femorais, poplíteos ou supramamários, porém a doença pode assumir um caráter inaparente, com formação de abscessos internos em pulmões e linfonodos brônquicos e, em alguns casos, pode levar a quadros de pneumonia crônica, linfadenite mesentérica e pielonefrite. Em caprinos geralmente ocorre somente aumento dos linfonodos superficiais, sem acometimento dos órgãos internos.
Os linfonodos acometidos geralmente apresentam aumento de volume, que possivelmente drenam material caseoso. Estes abscessos inicialmente contêm material verde claro que se transforma em massa calcificada. Em geral, os nódulos cutâneos podem se apresentar em forma de cadeia ou como lesão isolada. Nos casos de abscessos viscerais em ovinos, pode-se constatar perda de peso crônica, desencadeando a doença da “ovelha magra”. Também pode ocorrer infertilidade, diminuição da produção de leite, nascimento de menor número de crias, baixo peso dos cordeiros a desmama, baixo desenvolvimento e menor produção de lã. O microrganismo pode alcançar o sistema nervoso central ou os linfonodos inguinais e a glândula mamária resultando consequentemente em sintomas neurológicos e mastites.
O período de incubação para aparição dos abscessos do C. pseudotuberculosis pode variar entre 25 e 147 dias ou mais, fazendo com que a enfermidade seja notada em animais mais velhos.
Os animais doentes constituem a fonte de infecção, sendo que a via de eliminação está frequentemente relacionada à eliminação do agente pelo material purulento de linfonodos abscedados, ou descargas oro-nasais de animais com pneumonia, além da transmissão via leite. Paralelamente, a contaminação do ambiente, água e alimentos com o material purulento de linfonodos pode levar a formação de aerossóis, ou promover a transmissão via oro-nasal por soluções de continuidade da pele, em especial causadas por lesões perfurantes do tecido subcutâneo.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é baseado na sintomatologia clínica como presença de abscessos externos, e a detecção do C. pseudotuberculosis no material purulento através da punção dos linfonodos, sendo importante a diferenciação de patógenos oportunistas que podem vir a causar abscessos, comoArcanobacterium pyogenes e a Pasteurella multocida. Estas podem ser realizadas por meio de isolamento do agente ou PCR (que amplifica sequências específicas do ácido nucléico), a partir de amostras da punção do linfonodos, bem como amostras de órgãos com presença de lesões caseosas (linfonodos, pulmão, fígado). O Laboratório de Bacteriologia Geral do Instituto Biológico realiza o diagnóstico da linfadenite caseosa por isolamento e identificação bioquímica, além de contar com a PCR para confirmação do agente C. pseudotuberculosis.
Profilaxia e controle
Não existe ainda tratamento eficaz para a cura da linfadenite caseosa. Porém, a profilaxia e o controle têm papel importante na disseminação da doença no rebanho e, dessa forma, algumas medidas são necessárias e eficazes, como:
• Isolar os animais doentes que apresentam lesão supurada e remover os abscessos;
• Descartar os animais positivos do rebanho, já que são fontes de infecção para o este;
• Incinerar todo material caseoso, pois o contato desse material no ambiente pode permanecer como fonte de infecção para o rebanho;
• Desinfectar as instalações com vassoura de fogo;
• Impedir que fêmeas positivas amamentem seus filhotes, haja vista o risco de transmissão pelo leite.
Medidas de controle e tratamento da Linfadenite Caseosa
O leitor do FarmPoint Renato Mascarenhas Xavier enviou uma dúvida ao Fórum Técnico FarmPoint sobre Linfadenite Caseosa. O leitor conta que tem um rebanho de ovinos SRD e Santa Inês próximo a Brasília e que tem notado um aumento significativo de animais com linfadenite. Foi aconselhado a mudar o protocolo de tratamento da enfermidade, em vez da drenagem dos abscessos, foi instruído à aplicar injeções de solução de formol a 10% dentro dos linfonodos assim que começarem a aumentar de tamanho. Ele gostaria de saber se esta terapêutica é segura e se for, porque a aplicação é proibida nos EUA.
Daniel de Araújo Souza, médico veterinário e consultor em sistemas de produção de ovinos enviou a seguinte resposta:
"As medidas de controle e tratamento da Linfadenite Caseosa (LC) ainda permanecem controversas em alguns pontos, especialmente no tocante à terapêutica e tratamento em si.
As principais técnicas empregadas a nível de tratamento são a drenagem cirúrgica do abcesso que pode apresentar mais de 50% de sucesso; a extirpação cirúrgica do abcesso com resultados de mais de 80%, e a aplicação de solução de formol a 10% dentro do abcesso.
A drenagem cirúrgica é a técnica padrão e apresenta bons resultados quando bem aplicada. Por isso, a priori, seria interessante você rever todo o processo de realização dessa técnica em seu rebanho; avaliar o protocolo operacional em si, pois pode estar havendo alguma falha que esteja comprometendo os resultados.
A aplicação da solução de formol foi uma técnica descrita por um pesquisador americano (Bulgin, M.S.), na qual aplica-se entre 10 e 25 mL da solução dentro do abcesso, porém antes, é preciso aspirar o conteúdo do abcesso para a homogeinização com a solução de formol.
Embora apresente bons resultados, a utilização do formol apresenta algumas restrições por ser o formaldeído uma substância de natureza caústica/irritante, tóxica e com potencial carcinogênico. Em decorrência dessas características, o uso dessa técnica é contra-indicado devido ao risco de se introduzir o formol na cadeia alimentar.
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