A Matriz de análise Disciplina: Negociação
Por: Igor Angardi • 15/3/2020 • Trabalho acadêmico • 2.077 Palavras (9 Páginas) • 215 Visualizações
ATIVIDADE INDIVIDUAL
Matriz de análise | |
Disciplina: Negociação | Módulo: |
Aluno: Igor Abranches Angardi | Turma: Gestão Empresarial |
Tarefa: | |
Introdução | |
O processo de negociação tem se tornado cada vez mais complexo, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Conhecer técnicas e formas de abordagem é um importante diferencial para realizar negociações bem sucedidas. A seguir serão apresentados alguns aspectos de negociação, por meio da análise de uma da série de televisão House of Cards. A cena analisada ocorreu no episódio doze da quarta temporada, denominado “Capítulo 51”, e retrata a negociação do presidente norte-americano, Frank Underwood, em conjunto com o governador do estado de Nova York, Will Conway, com terroristas que sequestraram e ameaçaram a vida de uma família americana, composta pelos pais e uma filha. As exigências dos sequestradores envolvem a libertação de um líder de uma organização islâmica extremista, que realiza atentados, e uma grande quantia em dinheiro. A negociação se inicia com o governador Conway, que está participando como interlocutor a pedido dos terroristas, e se desenvolve com a condução pelo presidente Underwood. Em virtude do que está em jogo, o clima é de extrema tensão, com ameaças sucessivas dos terroristas à vida e integridade física dos reféns. Ao final, o Governador retoma o controle da negociação através de um diálogo no qual os sequestradres se identificam. O segundo momento da negociação é conduzido somente pelo Presidente, que impõe sua autoridade e vontade aos sequestradores. A cena analisada é concluída com a libertação de dois dos três reféns. | |
Desenvolvimento – análise do processo de negociação representado no filme eleito | |
Em uma situação envolvendo reféns, as pessoas são postas sob perigo como “moeda de troca” para determinadas demandas do sequestrador. No caso em tela, o objetivo dos sequestradores era negociar com o governo norte-americano. Ao iniciar a negociação, o negociador deve primeiramente estabelecer a comunicação para identificar se há espaço e quais são as chances de se chegar a termo em uma negociação que seja a melhor forma possível para as vítimas e a sociedade. Para tanto, as tarefas iniciais do negociador são coletar informações, ganhar tempo e estabelecer rapport. O processo de negociação com reféns torna os negociadores adversários, pois o ambiente não é de confiança e os interesses são distintos, uma vez que um lado busca a ameaça de terceiros e a intimidação para que seus interesses prevaleçam. No caso analisado, fica claro que o governo americano e os terroristas são adversários, pois não há interesse em ceder a nenhum dos interesses dos terroristas e, com isso, o processo fica tenso e complexo. A participação do governador Conway, como interlocutor na negociação, traz uma dinâmica diferenciada à negociação, pois pelo lado do governo estão envolvidos dois adversários políticos, que estão concorrendo na eleição presidencial, e que possuem posicionamentos muito distintos entre si. Há tensão e rivalidade entre eles e essa situação influenciou a dinâmica negocial, pois a forma como os negociadores se portam entre si é tão relevante na negociação como a forma com que lidam com a outra parte. É fato que tanto o Presidente quanto o Governador possuem o interesse comum de concluir a negociação sem feridos, mas a forma de chegar a uma solução pode ser diferente. Isso fica muito evidente nos momentos de maior conflito, quando o Presidente não enfraquece sua posição e usa a “força” do seu cargo ao passo que o Governador atua de forma mais cautelosa e diplomática. Quando avaliamos as forças e fraquezas das partes envolvidas, vemos que o poder dos sequestradores está restrito ao uso das vítimas, a ameaça e o controle que tem sobre elas. Sem as vítimas não há como os sequestradores manterem a negociação. O Presidente, por outro lado, tem o poder de atender ou não as demandas e de ganhar tempo para tentar restringir as opções dos sequestradores até a captura. Com o conhecimento dos principais interesses dos sequestradores, o Presidente obtém o poder de barganhar, o que leva a realização de concessões por ambos os lados. O planejamento realizado pelo governo para a negociação deixa claro que o objetivo do primeiro contato é ganhar tempo, ampliando o prazo para atendimento das exigências, coletar informações dos sequestradores e confirmar se as vítimas permanecem vivas. O planejamento já indica que a direção tomada na negociação será para a libertação dos reféns sem o atendimento total das exigências ou a descoberta e captura dos sequestradores. O primeiro contato para negociação é realizado por telefone entre os sequestradores e o Governador. Logo de início, o Governador tentar humanizar os sequestradores e estabelecer uma empatia deles com as vítimas, mas ele não tem sucesso e os sequestradores cobram suas exigências. A comunicação continua, mas sem avanço na negociação e sem que os sequestradores provem que os reféns estão vivos. Com isso, o Presidente assume a comunicação, mas atua de uma forma autoritária o que resulta no aumento da tensão e ameaça por parte dos sequestradores. Neste momento, o Governador retoma a comunicação e estabelece uma conexão com os sequestradores devido a sua experiência na guerra do Iraque e o impacto que ela teve na sua vida. Assim, falando suas experiências e tentando estabelecer um paralelo entre elas e as dos sequestradores, o Governador consegue o rapport, o que resultou no abrandamento dos ânimos e ainda em um prazo maior para atendimento das exigências. Essa cena exemplifica claramente uma mudança na forma da comunicação e como a reação dos sequestradores muda as suas ações, diminuindo a tensão e prolongando a negociação com a retomada no outro dia. No segundo contato da negociação, o Presidente possui mais informações sobre os sequestradores e sobre o líder extremista que eles querem libertar. Além disso, o Presidente quer ser o protagonista da negociação, em virtude da campanha eleitoral. Assim, o Presidente assume exclusivamente a condução das negociações, inclusive sem considerar as sugestões que sua equipe especializada apresentou. Não utilizar todas as informações disponíveis e não considerar as análises provenientes dos seus especialistas é um erro que muitos negociadores cometem, seja pela pressa seja por achar que já tem as informações necessárias. Essa atitude pode dificultar a elaboração da melhor estratégia de negociação, pois as decisões são tomadas de forma menos analítica e planejada. Seguindo a negociação, Presidente mantem o tratamento dos sequestradores de forma autoritária, para mostrar quem tem o poder e deixando claro que não irá atender a todas as exigências. No entanto, sabendo que é necessário que a outra parte perceba que há alguma vantagem na negociação, o Presidente abriu um canal de comunicação entre os sequestradores e o líder extremista. Em outras palavras, ele identificou uma forma de utilizar o principal interesse dos negociadores – sem libertar o líder extremista - e usar a concessão como barganha em prol dos seus objetivos. O resultado desta ação surtiu efeitos, pois a abertura de contato com o terrorista permitiu a libertação de dois reféns. A mesma barganha que resultou na libertação de dois reféns originou um grande risco para a continuidade das negociações, pois o Presidente usou toda a vantagem negocial que havia conseguido identificar, porém ainda havia um refém a ser liberto. Por outro lado, ficou evidente que os interesses dos sequestradores não seriam mais atendidos. Como a negociação foi realizada por telefone, a comunicação verbal prevaleceu. Ainda assim, um dos momentos mais importantes da negociação ocorreu logo no início, por meio da análise do vídeo em que os sequestradores ameaçam as vítimas e fazem suas exigências. A análise não verbal dos envolvidos levou à identificação dos sequestradores, o que influenciou diretamente a forma de negociar, pois o Presidente estava convicto que conseguiria prendê-los. A comunicação verbal do Governador foi sobretudo serena e amistosa, ao passo que a comunicação do Presidente foi mais agressiva e autoritária. Porém nenhuma das duas pareceu desestabilizar a comunicação do sequestrador que estava ao telefone, que se mantinha calmo mesmo quando não estava satisfeito com o atendimento às suas demandas. Nesses casos, ele aumentava as ameaças e a tensão da cena, contudo mantinha o tom de voz sereno. Como a negociação com reféns resulta em ameaças, a forma de condução da negociação do Governador foi eficiente e resultou em um tempo maior para a busca pelos sequestradores. Considerando que atender às exigências não era uma possibilidade, esse era o ponto mais crítico, pois poderia trazer dois resultados: postergar a negociação para possibilitar a captura dos sequestradores ou convencê-los a soltar as vítimas. Já os sequestradores não tinham um “Plano B” ou a melhor alternativa em caso de não acordo (MACNA), pois não tinham outras exigências e libertar os reféns não era uma possiblidade. Esse contexto dificultou a evolução da negociação, até que houve a proposta de barganha do Presidente para quebrar o ciclo de negativas mútuas. Podemos destacar como principal ponto positivo da estratégia de negociação foi a forma de comunicação do Governador com os sequestradores, diferente da atuação do Presidente, que não gerou uma conexão com os sequestradores. A pior decisão tomada foi a proposta de barganha nos termos e no momento em que foi feito. Tratava-se de uma manobra arriscada pois havia o perigo inerente que um contato dos sequestradores com o líder extremista poderia causar, e não havia medida de contingência nem MACNA. Sendo assim, apesar desta comunicação resultar na libertação de dois reféns, acabou permitindo a ordem do líder para os sequestradores matarem o último refém. Analisando o contexto em que a negociação ocorreu, vê-se que a decisão da Presidente de realizar esta barganha, da forma como ocorreu, foi motivada pela pressa e pela necessidade de aprovação popular em meio ao ambiente das eleições, o que fez com que o interesse pessoal ficasse acima daquele que deveria ser o interesse do negociador. Podemos realizar um paralelo desta negociação com a nossa realidade sob dois aspectos, o primeiro relacionado a como os interesses pessoais dos negociadores podem influenciar as negociações, e um exemplo interessante são as negociações desenvolvidas pelo atual Presidente norte-americano, tanto no âmbito comercial quanto no âmbito militar: todas as posições tomadas levam em consideração as eleições presidenciais e o impacto na opinião dos seus eleitores. Outro exemplo que podemos verificar, no ambiente de negócios, é na implantação de projetos, na qual existe a negociação de recursos humanos e materiais para o projeto entre diferentes áreas da empres. Muitas vezes esta negociação é concluída da forma que melhor atender a gestão de cada área e não da forma que poderia melhor atender ao projeto no âmbito dos negócios da companhia. O segundo aspecto é a negociação de crises, sendo o sequestro um exemplo comum. Os fatores psicológicos das partes são muito importantes, assim como o contexto e a relação das partes com a vítima. Em muitos casos não há como atender às exigências, sendo que às vezes elas não estão claras, por isso o estabelecimento da confiança e o entendimento da situação são muito importantes neste tipo de negociação. Na cena analisada, a alternativa utilizada para a desistência do sequestro foi a comunicação com o líder extremista, na realidade vemos esta comunicação sendo feita por familiares dos sequestradores. Outro ponto em comum é a tentativa de se ganhar tempo na negociação para resultar no cansaço e desistência ou numa oportunidade de captura e conclusão do evento. | |
Considerações finais | |
A cena analisada retrata uma negociação que não possuía a perspectiva de ser concluída com o ganha-ganha, pois trata-se de um sequestro. Neste caso foi adotada a estratégia de se ganhar tempo e obter informações, visto que não havia a intenção de atendimento a nenhuma exigência. Assim, identificamos que as táticas a serem utilizadas estão relacionadas ao contexto da negociação. Desta forma, um bom planejamento é fundamental de modo que se possa conhecer a outra parte, definir os interesses e a flexibilidade que podemos ter na negociação, bem como a MACNA. Estar bem preparado é a diferença entre uma negociação bem sucedida ou não e na cena analisada, apesar de toda a preparação para a negociação, a mudança de estratégia realizada pela Presidente com a barganha realizada, demonstrou que a o planejamento não foi bem realizado e os riscos não faram totalmente analisados, o que resultou na conclusão não satisfatória do processo de negociação. | |
Referências bibliográficas | |
FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar ao sim – Como negociar acordos sem fazer concessões, 1 ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. VOSS, Chris; RAZ, Tahl. Negocie como se sua vida dependesse disso, 1 ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. BASSO, CR. Técnicas de negociação: o que é fundamental você saber? 2016. Disponível em: < https://www.crbasso.com.br/blog/tecnicas-de-negociacao-o-que-e-fundamental-voce-saber/> Acesso em: 20 jan.2020. FERREIRA, Michelle. A arte de convencer. 2016. Disponível em: |
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