Discussão sobre Ética

Qual é a Ética do brasileiro?

Albert Bousso

        Qual é a ética do brasileiro? Essa é uma pergunta interessante e que dá margem a um debate sociocultural multifacetado. Entretanto, antes de tecer considerações sobre este tema, é necessário que nos aprofundemos um pouco sobre qual é a definição de ética? A ética, termo derivado do grego ethos (caráter), pode ser entendida, genericamente, como sendo o ramo da filosofia que se dedica à análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de agir do ser humano, geralmente tendo em conta seus valores morais. O conceito de ética, contudo, recebeu, ao longo da história, conotações deferentes, conforme o autor ou filósofo estudado.

O grande filósofo grego Aristóteles, por exemplo, em sua magnífica obra “Ética a Nicômaco”, estabelece que a ética trata da vida ideal como vivência das virtudes, junto com os outros, e que essa vivência é a felicidade(1). O conceito de ética é ainda amplamente explorado por diversos outros pensadores, entre eles Nicolau Maquiavel(3), Thomas Hobbes(1,2), Immanuel Kant(1,5), Jean Jaques Rousseau(2) e Norberto Bobbio(4), que expressam visões divergentes entre os valores da moral, da política, dos costumes, e mesmo do Direito, como determinantes da ética. O núcleo central, todavia, entre todos esses filósofos, é que a ética estuda a natureza do que se considera ser o bem, adequado e moralmente correto.

Isto posto, podemos tentar analisar como o brasileiro se insere neste contexto. Vamos primeiramente descrever dois fatos que podem servir de ponto de partida para esta discussão. O primeiro fato remonta ao ano de 1976 em que foi veiculada, em caráter nacional, uma propaganda de cigarros com o jogador Gérson da Seleção Brasileira de Futebol de 1970. Nesta propaganda o jogador expressava a frase “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”. Esta expressão ficou conhecida como a “Lei de Gérson” e o Brasil como o “País dos Gérsons” onde uma determinada pessoa, ou empresa brasileira, deveria obter vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.  

O segundo fato significativo ocorre aproximadamente 20 anos após o primeiro, e diz respeito ao programa televisivo, exibido pela emissora Rede Globo, na década de 90. Era o programa “Você Decide” em que temas polêmicos eram discutidos, através de uma interatividade com o público, para a definição do final de cada episódio. Um dos episódios, tratava de uma secretária que recebia uma oferta irrecusável para servir como “laranja” de uma empresa fictícia e de uma “conta fantasma”. A pergunta proposta no episódio era: “Você abriria mão de seus princípios em nome de uma vida melhor? ”. Os resultados obtidos neste episódio foram que 24,3% afirmaram que a secretária deveria denunciar o caso à polícia; 27,2% sugeriram que ela pedisse demissão e não revelasse nada a ninguém e, a grande maioria, 48,5% optou pela adesão da secretária ao esquema proposto(6). Será que esses porcentuais seriam os mesmos caso esse episódio fosse apresentado em outros países com valores éticos mais sólidos?