A Morte e Vida das Grandes Cidades
Por: mat.heusbocardo • 2/4/2023 • Artigo • 932 Palavras (4 Páginas) • 69 Visualizações
O livro parte de um questionamento sobre a evolução do planejamento urbano nas cidades e sobre os princípios de reurbanização defronte às questões socioeconômicas. O seu principal objetivo decorre do conhecimento essencial sobre o funcionamento e necessidades das cidades para acumular informação em prol de orientações coerentes em termos de planeamento urbano. A cidade é um grande cenário de experiências, relações de poder, diferenças sociais e arquitetônicas, paisagens e desrespeito ao protagonista, o indivíduo como cidadão. No seu relato há uma crítica clara em relação ao funcionamento, uso e posse de edifícios, associados a infraestruturas que não valorizam a escala humana, sendo o desenvolvimento urbano indiferente às necessidades sociais. Jacobs diz que existe o mito de ter dinheiro suficiente para erradicar todos os problemas de uma cidade desde a limpeza de favelas até a solução de problemas de infraestrutura. Mas o capital disponível é utilizado de forma inconsistente e, sobretudo, sem respeito pela pré-existência e pelos valores sociais, sempre em desfavor dos que mais carecem de lazer, habitação e mobilidade. “A lógica econômica por trás do redesenvolvimento hoje é a fraude, diz Jacobs. É um erro porque apesar de entender que as favelas e outras habitações ou bairros precários são considerados parte integrante das cidades os órgãos superiores desenvolvem uma prática de reurbanização que ainda não responde às necessidades urgentes da população. Para o autor a cidade-estado é um grande rascunho, onde a conjectura deve ser colocada em prática, analisada, encontrando possíveis enganos e falhas para melhorar, mas não é isso que acontece. especialistas e cientistas são incapazes de interpretar os gritos de desespero de uma sociedade urbana tão cheia de delírios e injúrias que deixa de funcionar. Claro que, existem profissionais sérios, comprometidos e dispostos que buscam compreender a grande diversidade do funcionamento urbano e social. Na visão de Jacobs, as ruas e calçadas são órgãos importantes da cidade, onde ocorre toda a integração e convivência da sociedade, e os protagonistas que usam e ocupam as ruas e calçadas são as pessoas. Claro que essa integração implica em conflitos positivos e negativos, que podem ou não dificultar a convivência dos cidadãos com os espaços urbanos. Não deve haver limites físicos ao contato que traz mais vida às ruas e calçadas. As pessoas que moram em determinadas ruas e calçadas não devem esquecer que fazem parte da comunidade e, portanto, fazem parte da cidade. As relações devem ser mais fortes, comprometidas com a causa e representar a comunidade o suficiente para quebrar as barreiras invisíveis criadas pela própria sociedade quando necessário. O contato transmite mais vida às ruas e calçadas e este contato não deve ter limites físicos. As pessoas que vivem em determinadas ruas e calçadas não devem esquecer que fazem parte de um bairro e consequentemente de uma cidade. As relações devem ser muito maiores e ter compromisso com as causas e representar bem àquela comunidade, para quando necessário derrubar as barreiras invisíveis criadas pela própria sociedade. As ruas e calçadas ganham mais vida e espontaneidade com a presença de crianças. Novos barulhos, ruídos e aromas se instalam na presença delas. Em muitos casos, as ruas são os únicos “espaços concretos” onde as crianças podem despejar toda sua energia e vivacidade, em especial as de baixa renda, pois não possuem, como em condomínios fechados, parquinhos, quadras e playgrounds particulares. São os únicos “espaços concretos” devido ao fato de não haverem áreas públicas convidativas para atrair este contingente populacional. Quem nunca passou por uma rua, destinada à passagem de carros, fechada, no sentido figurado, por pedaços de pau formando espécies de traves em um final de semana agradável e se deparou com crianças correndo de um lado a outro atrás de uma bola na busca incessante do gol?! São situações como essa que o planejamento urbano deveria se basear para desenvolver projetos que supram à necessidade e demandas de determinadas áreas. Esta “mudança” de uso das ruas e calçadas é um processo natural. Na falta de opções e de espaços públicos, as crianças se limitam a usufruir somente das ruas e calçadas. Limite este abstrato, pois a imaginação de uma criança pode alcançar vôos bem altos! De certa forma, este uso pode ser conflitante embora seja um fator totalmente positivo para a dinâmica do local. Diagnosticar os problemas de um bairro e tentar resolvê-los antes que tome proporções alarmantes é um dos principais fatores que torna uma vizinhança bem sucedida. O bairro é um misto, sem dúvida alguma, de usos e atividades que transmitem uma visível “independência”, pois eles são diferentes tanto no sentido social quanto cultural e econômico, mas é um engano pensar que seja independente em relação à cidade, ainda mais porque ele é parte integrante da mesma. A conformação espacial de um bairro está diretamente ligada à história da relativa cidade, como e quando ela teve surgimento e se desenvolveu. Existem aqueles que são mais valorizados, que despertam um maior interesse econômico das camadas superiores; aqueles que são planejados para se tornar uma cidade dentro da própria cidade; e aqueles que crescem sem planejamento, totalmente desordenados e sem infraestrutura para comportá-lo. Um bairro, a depender da participação popular, pode conseguir bons benefícios que irão refletir, principalmente, na própria imagem da cidade. Percebe-se, então, que o planejamento urbano e de reurbanização de uma determinada cidade não é nada fácil. Requer uma análise macro e micro urbana, bem detalhada, buscando sempre a percepção de como funciona esta cidade e das necessidades mais urgentes da população. Além disso, não perceber a vivacidade e necessidades que as ruas e calçadas apresentam e sua enorme função social, econômica e cultural torna-se um retrocesso.
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