A trajetória profissional de Haruyoshi Ono e os desafios da arquitetura paisagístisca contemporânea.
Por: aldazevedo • 13/12/2015 • Artigo • 3.648 Palavras (15 Páginas) • 278 Visualizações
A trajetória profissional de Haruyoshi Ono e os desafios da arquitetura paisagística no Brasil.
Resumo
A profissão de arquiteto paisagista tem passado por importante crescimento, especialmente a partir de meados do século XX. Entretanto, no Brasil ainda não existe uma formação específica para a atividade paisagística, o que se reflete na falta de seu reconhecimento regulamentado. O escritório Burle Marx e Cia Ltda representa na atualidade um dos centros irradiadores desta práxis, que através dos ensinamentos do paisagista Roberto Burle Marx contribuiu para a formação de profissionais de 1955 a 1994, com destaque para o arquiteto Haruyoshi Ono, seu atual diretor geral. Ono está presente no contexto paisagístico há quase cinquenta anos dando continuidade ao conceito de paisagismo que aprendeu com Burle Marx. Através de sua experiência, busca-se no presente artigo evidenciar as dificuldades para o estabelecimento da profissão no país e aspectos relativos à criação paisagística nos dias de hoje.
Palavras chave: Arquitetura Paisagística; Paisagem; Projeto paisagístico; Roberto Burle Marx; Haruyoshi Ono.
Abstract
The profession of landscape architecture has undergone significant growth, especially from mid-twentieth century, though in Brazil there is still no specific training for the activity landscape which reflects on the lack of recognition it meets. The Burle Marx & Cia Ltda is currently one of the radiating centers of praxis, through the teaching of the landscaper Roberto Burle Marx, that contributed to the formation of professionals from 1955 to 1994, among which stands out the architect Haruyoshi Ono, its current director general. Ono has been present in the landscape architecture context for almost fifty years ago, carrying on the concept of landscaping that he has learned from Burle Marx. This article proposes to highlight the difficulties in establishing the profession in the country as well as landscape aspects of the design today through this professional’s experience.
Keywords: Landscape architecture; Landscape; Landscape design; Roberto Burle Marx, Haruyoshi Ono.
1. Introdução
A profissão de arquiteto paisagista foi institucionalizada a partir de 1899 no território americano com a criação da American Society of Landscape Architects (Asla)[1]. No Brasil atualmente ainda não existe um reconhecimento regulamentado por parte do recém criado Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), encontrando-se no momento em tramitação no Congresso Nacional a Proposta de Lei 2043/2011 que visa à regulamentação da atividade.
Entre outros aspectos, isso se deve ao fato de ainda não existir graduação específica em Arquitetura Paisagística, como ocorre em outros países. Grande parte dos centros irradiadores da atividade têm sido os cursos de Arquitetura e Engenharia Agronômica, que mantêm disciplinas de paisagismo em suas grades curriculares, juntamente com o curso de Composição Paisagística, oferecido pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Desta forma, ainda são grandes as dificuldades para o estabelecimento desta profissão no país, construída inicialmente em grande parte através do trabalho prático em escritórios especializados, tal como ocorreu com os profissionais que tiveram a oportunidade do aprendizado no escritório Burle Marx e Cia Ltda.
O paisagista Roberto Burle Marx inovou com uma linguagem paisagística identificada com a paisagem brasileira, estabelecida desde a década de 30, que posteriormente foi chamada Jardim Moderno (Sá Carneiro, 2005). De acordo com Lúcia Costa (1998), apesar de não ter a cátedra, ele assumiu a postura de orientador, não só no dia-a-dia de seu escritório, como também atuando como o primeiro professor de paisagismo no curso de Pós-Graduação para arquitetos no Rio de Janeiro, ou, mais especificamente, no Curso de Especialização em Urbanismo, criado em 1954, pela Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA). Sua permanência foi restrita a um ano apenas, e em suas aulas ele buscava ressaltar a integração entre o projeto paisagístico, o urbanístico e o arquitetônico, em diversas escalas.
Após este breve período, Burle Marx deu continuidade aos ensinamentos dentro do escritório Burle Marx e Cia Ltda, contribuindo com a formação de quase quatro gerações de profissionais. O escritório se tornou, assim, um dos centros irradiadores desta profissão no país, difundindo a teoria e o método desenvolvido por Roberto Burle Marx para a concepção paisagística. Dentre os profissionais que tiveram a referência de Burle Marx em sua formação profissional, tem-se o arquiteto Haruyoshi Ono.
O brasileiro Haruyoshi Ono relata [2] que é filho de japoneses e formou-se em arquitetura no ano de 1968 [3]. Concomitantemente, deu início a sua formação profissional em paisagismo, tendo sido o discípulo mais presente do paisagista Roberto Burle Marx, com quem contribuiu por meio de seus trabalhos por 29 anos. Atualmente, Haruyoshi Ono é Diretor Geral do escritório Burle Marx e Cia Ltda, e há aproximadamente 50 anos tem dedicado seus trabalhos à atividade, realizando projetos no âmbito nacional e internacional.
Apesar do aporte de Haruyoshi Ono, são insuficientes as referências bibliográficas que expõem sua trajetória. Assim, delineou-se como objetivo do presente artigo científico descrever a experiência adquirida por este arquiteto - e os desafios com que se depara a profissão na atualidade. Para atingir este fim foram realizadas entrevistas abertas com o referido profissional no escritório Burle Marx e Cia Ltda, localizado no Rio de Janeiro, nas datas de 3 de setembro de 2010, 28 de julho de 2011, e 6 de junho de 2012.
2. A formação profissional de Haruyoshi Ono
A formação profissional de Haruyoshi Ono ocorreu entre os anos de 1964 a 1968, quando cursou Arquitetura na Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA) da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Nessa época, a arquitetura moderna brasileira atingiu posição de destaque mundial, ainda no reflexo da construção de Brasília no início dos anos 60. Símbolo de um projeto nacional conectado com o panorama internacional surgia, assim, a afirmação do Brasil como um país moderno.
Entretanto, este também foi um período de substantivas mudanças na história do país, marcado pela imposição do Regime Militar iniciado com o golpe militar em março de 1964, que se estendeu até 1985, instaurando um processo de modernização burocrática no país e de centralização dos âmbitos administrativos e financeiros na esfera federal, além da supressão das liberdades individuais, e da implantação de um código penal militar (Segawa, 1997). Estas modificações geraram movimentos estudantis em protesto às arbitrariedades do Estado, que eram duramente reprimidos. O impacto deste clima conturbado refletiu diretamente em todos os âmbitos da vida social, e principalmente no ensino nas universidades, inclusive na FNA.
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