Arquitetura da felicidade
Por: DemitriuSilva • 16/3/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 634 Palavras (3 Páginas) • 517 Visualizações
FUNDAMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS DO DESIGN II
Fernanda Sasso 31509487
Fernanda Ferrari 31415148
Gabriel Cardoso de Almeida 31576151
Jullia de Sá 31528961
Priscila Taynara 41401352
Relação entre o livro “Não-Lugares” de Marc Augé e “Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária” de Marilena Chauí
O Largo do Paissandu, por ter se configurado como um lugar de passagem, teve assim a sua humanidade e identidade cultural negligenciada no seu cotidiano. As pessoas que passam por ali estão sempre sujeitas a um grande fluxo que as impede de se relacionar com o ambiente e entre si. Esse fenômeno, chamado de abundância espacial por Marc Augé, consiste na criação de um ritmo frenético e excessivo que constantemente leva à individualização numa modernidade fragmentada; resultando na negligência de valores históricos e singulares do local. Essa realidade foi ilustrada majestosamente por Charles Baudelaire, que ressalta o constante sentimento de solidão na multidão:
Um relâmpago e após a noite! Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei, um dia na eternidade?
Bem longe, tarde, além jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado – e o sabias demais!
(BAUDELAIRE,2005, p.107)
Esse quadro social resulta na transformação de lugares repletos de cultura e história, como o Largo do Paissandú, em não-lugares: quem passa por ali não se sente convidado ou inspirado a modificar o espaço, transformando esse, de maneira cíclica, em um ambiente de pouco interesse e reconhecimento público. Diante disso, é possível observar então que há repetição, mesmo que inconscientemente e por impulso, de um passado imaginário que vem sendo construído a séculos. Esse fenômeno foi chamado de mito fundador por Marilena Chauí.
O mito fundador teorizado por Marilena Chauí diz respeito a uma ideia ou valor que é passado de geração em geração, transmitindo um conteúdo pouco contestado e construído sem embasamento a partir de pensamentos vindos de um pré conceito. Esses falsos conceitos são, na maior parte das vezes, criados e alimentados por uma parcela dominante da sociedade, para que seja possível a perpetuação de sua posição de privilégios. Um exemplo desse tipo de comportamento é a maneira como os escravocratas lidaram com a abolição da escravidão, tornando os ex-escravos em uma mão de obra com reputação ruim para que os mesmos continuassem a servi-los e dessa maneira, até hoje presenciamos o preconceito contra o negro.
Se olharmos o Largo do Paissandú sob as lentes do mito fundador, enxergaremos como vítimas as pessoas que ali habitam numa condição de marginalização e pobreza. Essas pessoas, que tem a rua como sua morada, são o resultado de um longo processo de exclusão e preconceito por parte da população. No início da pesquisa do nosso projeto, nos deparamos com uma grande resistência por parte de alguns colegas a interagirem com o centro, principalmente por serem influenciados por gerações anteriores que nutrem um conceito deturpado do local, onde uma suposta violência se faz presente como a principal empecilho. Concluímos assim que muitos relacionam, instantaneamente, pobreza e marginalização como sinônimos de violência, quando na verdade o fenômeno ocorre inversamente: é a violência com que a cidade se constitui - sob o ponto de vista imobiliário, do dinheiro, da corrupção, da competição – que coloca essas pessoas à margem desse sistema.
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