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CARNE E PEDRA - O corpo e a cidade na civilização ocidental

Por:   •  2/6/2018  •  Resenha  •  890 Palavras (4 Páginas)  •  916 Visualizações

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Carne e pedra é um livro que expõe as características de cidades através das sensações e comportamentos físicos nos espaços urbanos. O autor exemplifica e descreve como as questões corporais foram expressas na arquitetura, no urbanismo e no cotidiano das sociedades antigas. A espacialidade do conteúdo do livro é dividida por capítulos e subcapítulos temáticos, sendo os dois primeiros o alvo deste texto. Através da visão do psicólogo Hugo Munsterberg o mundo contemporâneo foi anestesiado e recluso dos sentidos pelos meios de comunicação, como se tivessem posto uma barreira entre o real e a “sua” representação. É como se todos esse turbilhão de imagens engolidas por nós através de nossas telas nos deixasse “acostumado” com qualquer tipo de atrocidade ou situações fora do padrão, nos deixando insensíveis ao se deparar com a mesma situação na realidade. A comunicação contemporânea oferece apenas uma experiencia passiva de nossos corpos, vivendo uma fantasia visual. A tecnologia da locomoção também mudou a maneira de viver o momento, possibilitando viagens de grandes distancias exprimindo o tempo, o que transformou o espaço em um lugar de passagem. A experiencia do tato já foi usada por nossa espécie como arma de reconhecimento de objetos e pessoas estranhas, mas agora nos privamos desse contato físico graças a tecnologia que nos permite distinguir perigos a longa distância. Esta falta de contato físico, segundo Hogarth, causa desordem no espaço urbano. Hoje, os aglomerados humanos que se posicionavam nos centros urbanos estão dispersos e com propósitos singulares e egocêntricos.

Após esta analogia do comportamento dos sentidos do corpo humano contemporâneo o autor volta a Grécia antiga para fazer o estudo de como esse comportamento era antes de ser corrompido. Para os antigos habitantes de Atenas, povo autoconfiante e totalmente à vontade, a nudez era tratada de uma maneira mais determinante no posto social de cada indivíduo. Nas artes, líderes e pessoas imponentes são sempre retratados quase nus, munidos de lanças, os jovens com uma grande ligação aos esportes e sempre despidos com a mínima intenção de ferie seu adversário. O corpo desnudo mostrava quem era civilizado e permitia distinguir os fortes dos fracos, comprovando o porquê da Grécia antiga de usar seu corpo exposto como um objeto de admiração. Este comportamento deixava claro que os civis se sentiam muito à vontade dentro de sua cidade e também acarretou na crença de que o calor do corpo era a chave da fisiologia humana. Aqueles que possuíam a capacidade de absorver e manter o seu corpo quente não necessitavam de roupas e eram considerados os mais fortes, reativeis e ágeis do que um corpo frio e mórbido. Este conceito se expandia para o uso da linguagem, logo aqueles que tinha habilidade de articular e ler conseguiam aumentar a temperatura do corpo e em consequência a vontade de agir. A fisiologia também servia para distinguir classes sociais e espaços urbanos distintos para corpos com graus de calor diferentes, acentuando as diferenças entre os sexos já que a mulher era vista como corpos frios em relação aos homens. Elas não tinham a mesma liberdade de caminhar pelas ruas sem roupas e se isso não bastasse eram mantidas dentro de casas na obrigação de apenas sobreviver a uma vida doméstica. Estas ações com a prerrogativa de que a temperatura do corpo era fator primordial de soberania fez com que a sociedade grega ditasse regras de dominação e subordinação. A origem dessa teoria acredita-se que venha ao ato do nascimento, determinando que os fetos bem aquecidos no útero deveriam se tornar machos e os desprovidos de aquecimentos, fêmeas. Os corpos atenienses sofriam um adestramento desde a juventude e tal procedimento tinha múltiplas finalidades que extrapolavam o conceito de força física, nos ginásios era empregado que o corpo era parte de um coletivo maior que era a própria polis e pertencente a cidade. Além disso, era ensinado aos rapazes um comportamento de ser um homem sexualmente nu, podendo usar seu corpo de forma que pudesse desejar e ser desejado com honra. Ao longo de sua vida, o jovem grego passava por diversas experiências sexuais, tanto com homens ou com mulheres, em busca de um prazer maior e uma autossatisfação. Os homossexuais eram categorizados como corpos de calor “intermediários”, possuindo corpo masculino com trejeitos que ligavam a uma imagem de fragilidade, e tinha um intenso desejo da submissão por um outro homem. Ainda assim, o ginásio instruía o jovem a fazer o amor ativamente, porém não aceitava cenas de sexo ao ar livre, o jovem e seu orientador sexual buscavam algum espaço nos jardins ou encontros noturnos para se relacionarem. Nas relações heterossexuais, a mulher era submetida ao sexo anal através de uma posição que colocava o homem em liderança e deixava completamente submissa e tratada como objeto. Este ato era explicado como sendo um meio contraceptivo, mas analisando o comportamento masculino e sua posição em frente a mulher pode-se dizer que era apenas mais um modo dele afirmar seu posto de superior e dono de todas as vontades.

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