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Cidade Jardim e Cidade Renascentista

Por:   •  8/10/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.080 Palavras (13 Páginas)  •  527 Visualizações

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CIDADE-JARDIM E CIDADE-RENASCENTISTA

LETCHWORTH E PALMANOVA

Nov/2014

São Paulo

No período pós Revolução Industrial do final do século XIX as cidades passaram por grandes modificações devido ao intenso crescimento econômico, rápida expansão urbana e crescimento populacional. Essas mudanças acarretaram diversos problemas sociais e ambientais, como insalubridade, carência de moradias, insuficiência do sistema de coleta de lixo, poluição, entre outros. A fim de solucionar essas implicações e buscar melhores condições de vida aos cidadãos, foram geradas propostas urbanísticas particulares, como é o caso das cidade–jardim, conceito idealizado por Ebenezer Howard (1).

As cidades-jardim são cidades ideais que visam uma estreita relação com o campo, de modo a criar um ambiente que combinasse as vantagens da vida urbana com as da vida rural; um local com oportunidades e entretenimento, onde se pudesse usufruir da beleza e dos prazeres do campo (2). Assim, cria-se uma estratégia de planejamento regional para evitar o fluxo migratório para as grandes cidades, por meio de cidades  autossuficientes que promovessem um contato com a natureza e melhores condições de vida aos seus moradores (3).

A busca de idealização urbanística, cidade ideal, não  é particular do período pós-industrial. O conceito foi também difundido na época do Renascimento, entretanto baseado em uma noção distinta de beleza e maestria. Neste período, perpetuaram-se as ideias de racionalismo, humanismo e individualismo, resultando na criação de cidades de caráter mais formal, sendo estritamente planejadas, racionalizadas e seguindo uma geometria pura e de formas rígidas. A fim de proporcionar uma análise mais detalhada das propostas de cidades ideias nesses dois contextos, serão estudadas as cidades de Letchworth (4) , na Inglaterra, a primeira cidade jardim a ser concretizada, e a cidade de Palmanova (5), na Itália, um dos mais marcantes símbolos do pensamento urbanístico renascentista.

Planejada por Raymon Unwin e Berry Parquer em 1903, Letchworth segue os padrões de Howard, ao surgir como fruto do casamento entre a cidade e o campo, que podem ser considerados como dois imãs que buscam atrair, para si, a população. O homem deveria poder disfrutar simultaneamente da sociedade urbana e da liberdade e beleza rural, dessa forma Letchworth se concretizou como um exemplo de associação entre as vantagens do meio urbano, como os salários elevados, oportunidades de emprego, previsões de progresso e as relações sociais, e vantagens do meio rural, como o contato com a natureza, belas paisagens, parques, ar fresco, baixo preço dos alugueis, etc. A cidade se tornaria, assim, um símbolo de harmonia, bem estar, esperança e construiria uma nova sociedade e uma forma ideal de viver.

A palavra ideal vem do latim idea, que na sua tradução literal significa forma, aspecto. Logo, é impossível tratar do conceito de cidade ideal sem analisar a forma específica planejada para essas cidades. As cidades-jardim (6), segundo a proposta de Howard, eram projetadas de modo a serem construídas numa área de 2.400 hectares, onde 400 hectares seriam destinados à cidade e o restante às áreas agrícolas. Sua forma deveria ser preferencialmente radial, com 6 boulevares que se cruzam desde o centro até a periferia, dividindo a cidade em 6 partes iguais. No centro, seria prevista uma área de aproximadamente 2,2 hectares com um jardim. Na periférica desse centro estariam os edifícios institucionais, como edifícios públicos e culturais (teatro, biblioteca, museu, escola, galeria de arte e hospital). O restante do espaço central estaria reservado às áreas verdes, seguidas por uma faixa comercial, e posteriormente pela residencial. Na região das residências haveria uma grande avenida, de 125 metros de largura, dividida em seis partes, cada um de um hectare e meio. Nesses espaços estariam previstas escolas públicas, terrenos para lazer, jardins, e igrejas. As casas situadas ao longo da avenida deveriam ser dispostas em forma de meia lua e visam assegurar o desenvolvimento dessa via, possibilitando seu alargamento.        Por fim, no cinturão exterior da cidade estão as construções de cunho industrial, como armazéns, manufaturas, e depósitos. Todas estas instalações estão na faixa que rodeia a cidade, que se comunica por meio de articulações, com uma grande linha férrea que passa através da propriedade.

        O desenho desta cidade segue o pensamento de Camillo Sitte, que propunha o traçado orgânico próprio à escala humana com referência às cidades medievais que eram mais próximas ao campo. As habitações para as diversas classes sociais formam blocos isolados entre si, recuadas do alinhamento do terreno, com jardins fronteiriços. As ruas têm acesso secundário com “cul de sac”. Uma constatação de Howard é que o tráfego de veículos influencia na comunicação entre vizinhos, gerando alienação urbana. Desta forma, essas ruas priorizam o passeio a pé e ciclo faixas. Um exemplo de sucesso é na Califórnia, no condomínio Village Homes (7), em que as ruas priorizavam os caminhos com ciclo faixas e largas calçadas para pedestres. Assim, Letchworth foi projetada para gerar passeios com gramas, arbustos e árvores que dão continuidade ao verde dos espaços públicos.

Letchworth, assim como as outras cidades jardim, tem traçado simples, claro, informal e flexível, pois, apesar de seguir um modelo pré-estipulado, se adequa ao local onde está implantada (8/9), diferenciando-se, deste modo, da configuração geométrica mais exigente da tradição clássica renascentista. Palmanova, por exemplo, é composta por um sistema de vias radial-concêntrico de seis anéis (10). O anel central é um hexágono, do qual pela mediatriz de suas faces saem seis vias principais. O próximo anel de ligação das vias é um eneágono, do qual surgem duas viárias secundárias a cada via principal. Os anéis seguintes também são eneágonos, porém não iniciam o traçado de mais nenhuma via. Circundando a cidade existe uma estrela de nove pontas, que forma o muro da cidade, feito dessa maneira por buscar ângulos em que os soldados inimigos não acessariam com facilidade e tornando possível a sobreposição dos campos de batalha. Existe um simbolismo por trás da forma concêntrica da cidade, vindo da convicção de que o círculo era a forma geométrica mais perfeita e representava a harmonia cósmica. A grande preocupação existente com a forma vem do desenvolvimento da técnica da perspectiva na época, o que acarretou no projeto de cenários urbanos inteiros, e não mais apenas fachadas.

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