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Fichamento Os princípios de um novo urbanismo

Por:   •  27/5/2017  •  Resenha  •  6.788 Palavras (28 Páginas)  •  782 Visualizações

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os princípios de um novo urbanismo

françois ascher

apresentação. nadia somekh

Verificamos que a legislação excluiu a maioria da população, que vive em péssimas condições habitacionais, fora do alcance das regulamentações urbanísticas e edilícias. Nossas cidades não previram a localização dos mais pobres, que informalmente ocuparam áreas de risco, de proteção ambiental, de preços fundiários depreciados, com a anuência velada das autoridades governamentais.

Ascher afirma que a modernidade não é um estado, mas um processo constante de transformação da sociedade. Destaca em especial a falta de sincronia entre a mutação cada vez mais rápida da sociedade contemporânea e o processo mais lento de transformações do quadro construído.

De forma fragmentada, o processo de urbanização no Brasil ocorre para dar espaço ao automóvel e ao desenvolvimento do capital imobiliário, sem procurar a essência da modernidade que é superação das necessidades básicas do homem.

As questões ambientais, de mobilidade, de redução de desigualdades e de inclusão social que são essenciais à realidade atual das cidades brasileiras podem ser observadas à luz das propostas deste livro: o decálogo que Ascher nos apresenta no final do livre, e que entendemos de grande utilidade para nosso urbanismo.

O processo de redemocratização e a Constituição Federal de 1988, assim como o Estatuto da Cidade (Lei Federal n0 10257, aprovada em 10 de julho de 2001), trouxeram avanços para as leis do urbanismo, principalmente no sentido de limitar o direito de propriedade, tornando a cidade mais voltada para o cumprimento de sua função social a ser definida pelos Planos Diretores Municipais. (...) Vale dizer que ainda é muito difícil fazer valer as novas e democráticas regras de utilização social das cidades brasileiras.

O que se observa são os nossos velhos problemas, que ainda aguardam o enfrentamento necessário. Por tanto, pensar as cidades hoje implica formulações complexas que incluem as instâncias econômicas, políticas e culturais.

O livro confirma que a atualmente o conhecimento não está separado da ação e que o estudo da cidade se constitui em um instrumento eficaz de intervenção visando melhorá-la.

introdução

A sociedade contemporânea transforma-se rapidamente e, como estamos envolvidos por esta evolução, às vezes avaliamos mal a dimensão dessa transformação. No âmbito do urbanismo, percebemos com muita dificuldade as mudanças, pois o quadro construído evolui com relativa lentidão, e as novas construções representam, anualmente, menos de 1% do parque existente.

As sociedades ocidentais estão em mutação, entrando em uma nova fase da modernidade, que assiste à evolução profunda das maneiras de pensar, agir, da ciência e da técnica, das relações sociais, da economia, das desigualdades sociais e das formas de democracia. Essas mutações implicam e tornam necessárias transformações importantes na concepção, produção e gestão de cidades e do território; elas engendram uma nova revolução urbana moderna, a terceira desde a revolução da cidade clássica e da cidade industrial.

A sociedade deve, portanto, dotar-se de novos instrumentos para tentar controlar essa revolução urbana, tirar partido dela e limitar seus eventuais prejuízos. Para isso, é necessária a formulação de um novo urbanismo, adequado aos desafios e às formas atuais de pensar e de agir nesta terceira modernidade.

capítulo 1 . urbanização e modernização

Podemos definir as cidades como agrupamento de população que não produzem seus próprios meios de subsistência alimentar. A existência das cidades pressupõe, portanto, desde a sua origem, uma divisão técnica, social e espacial da produção, e implica trocas de natureza diversa. A dinâmica da urbanização está ligada ao potencial de interação oferecido pelas cidades, à sua urbanidade.

O crescimento das cidades esteve correlacionado com o desenvolvimento dos meios de transporte e armazenamento dos bens necessários para abastecer populações crescentes em qualquer estação do ano. Também esteve vinculado às técnicas de transporte e estocagem das informações necessárias à organização do trabalho e das trocas, como demonstra o aparecimento da escrita e da contabilidade.

A história das cidades foi assim marcada pela história das técnicas de transporte e estocagem de bens (b), de informações (i) e de pessoas (p), desde a escrita até a internet.

As formas das cidades, sejam projetadas, sejam resultantes mais ou menos espontaneamente de dinâmicas diversas, cristalizam e refletem as lógicas das sociedades que as acolhem. Hoje o urbanismo necessita, portanto, de uma compreensão fina da lógica que se estabelece na sociedade contemporânea.

É difícil datar o aparecimento dos ‘’tempos modernos’’ que se instalaram progressiva e diferencialmente em diversos países do Ocidente europeu e da América. De fato, é mais correto falar de ‘’modernização’’, pois a modernidade não é um estado, mas um processo de transformação da sociedade.

A modernização resulta da interação de três dinâmicas socioantropológicas, cujos traços podemos reconhecer em diversas sociedades, mas que ao entrar em ressonância durante a Idade Média produziram as sociedades modernas: a individualização, a racionalização e a diferenciação social.

Esses três processos alimentam-se reciprocamente e produzem sociedades cada vez mais diferenciadas, formadas por indivíduos simultaneamente mais parecidos e mais singulares, com possibilidades de escolha mais complexas.

Se a modernidade não é um estado, a modernização tampouco é um processo contínuo, sendo possível distinguir três grandes fases.

A primeira fase cobre aproximadamente o período qualificado como tempos modernos e abarca do fim da Idade Média ao começo da revolução industrial. Ela testemunha a transformação do pensamento do lugar da religião na sociedade, a emancipação da política e a emergência do Estado-nação, o desenvolvimento das ciências e a expansão progressiva do capitalismo mercantil e, logo a seguir, do industrial.

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