LÖBACH, Bernd. Design Industrial: base para as configurações de produtos industriais
Por: Imaíra Portela • 14/11/2022 • Resenha • 2.994 Palavras (12 Páginas) • 119 Visualizações
PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DO DESIGN SOB A
PERSPECTIVA DO CAMPO AMPLIADO
Imaíra Portela de Araújo Medeiros;Mestranda; Escola Superior de Desenho Industrial
imaira_medeiros@hotmail.com
Tópicos em Teoria e Crítica do Design:
Design no campo ampliado – da crítica ao
moderno a novos territórios do projeto
Professor Dr. João de Souza Leite
Resumo
Os aspectos que configuraram a modernidade, o pensamento sobre o moderno e o movimento modernista, estabeleceram paradigmas para o campo do design que estavam essencialmente atrelados à produção industrial e à questão estética. O homem moderno, contudo, demanda novas soluções para suas necessidades cotidianas, de forma que a sociedade se encaminha para um estágio em que o design não está mais interessado apenas com o projeto de objetos de uso, a ordenação de processos de produção e a aproximação com os públicos. A busca por uma atuação direta na construção da sociedade torna-se um novo paradigma. Dentro desta perspectiva, o presente artigo visa estabelecer conexões entre as diferentes formas de pensar e exercer o design, que começa a romper o conceito modernista e expande o seu campo de atuação.
Palavras-chave: Modernidade; Design; Campo ampliado.
Abstract
The aspects that shaped modernity , thinking about the modern and the modernist movement , established paradigms for the design field which were essentially linked to industrial production and aesthetics. Modern man, however, demand new solutions for their daily needs, moving society towards a stage where the design is no longer concerned only with the design of products, the ordination of production processes and the approach with the public. The search for a direct role in building society becomes a new paradigm. From this perspective , this article aims to establish connections between different ways of thinking and exercise design , which begins to break the modernist concept and expands the field of design.
Keywords: Modernity; Design; Expanded Field.
Introdução
A travessia da Idade Média para a Idade Moderna se configura através de uma série de revoluções dentro da sociedade. O extrapolamento dos muros dos feudos, a formação dos Estados Nacionais e posteriormente Estados Modernos, a expansão do comércio, a universalização do conhecimento através da enciclopédia, entre outras tantas transformações, foram fortes impulsionadores para a ascensão de uma nova classe e para o surgimento de novas necessidades e anseios do então, homem moderno.
O turbilhão que afeta o mundo nesse momento exige respostas rápidas e imediatas. O pensamento moderno se estabelece sempre como um sentido de reação ao passado, de superação e transformação do que aconteceu. O homem moderno está em uma busca constante por se reinventar e inventar o seu próprio tempo. Por outro lado, apesar de tentar romper com o historicismo, o pensamento moderno pertencente à sua própria cronologia, é fruto de uma série de acontecimentos que contribuem para a sua configuração, não está deslocado do contexto social do qual surge, é uma confirmação de sua própria época.
O exercício do design, como hoje se configura na sociedade, vem de escolas que acabam por privilegiar a questão estética e a produção industrial. O pensamento moderno e os movimentos modernistas se impõem como uma forte influência para esse fazer mais ligado à produção seriada. O que se esperava do design modernista é que ele servisse como um redentor dos problemas do mundo e do homem. Ocorre que toda essa prática se estabeleceu de costas para a compreensão dos problemas sociais. Se não há uma crítica e o pensamento não se coloca em constante problematização, acaba-se por criar um design descolado do mundo real.
Diante disto, é preciso que nos reconectemos com os problemas inerentes ao nosso próprio tempo - sem deixar de olhar para o passado - na busca por estabelecer através de nossa prática novas formas de atuar, considerando que as demandas sociais exigem de nós, designers, uma preocupação com questões múltiplas e emergentes.
1 - A crítica ao moderno
Os pilares sob os quais se fundou o design modernista apontam, primeiramente, para o atendimento de necessidades primárias do homem pós-guerra. O desenvolvimento industrial tornara-se uma prioridade para a reconstrução da sociedade e para reordenar a infraestrutura de produção. A fundação da Bauhaus, em 1919, visava relacionar o design à arte aos ofícios, enfatizando o caráter estético dos produtos e valorizando também as habilidades do artífice. Em contrapartida, a escola de Ulm, em 1953, abandona qualquer relação que o projeto venha a ter com uma manifestação artística, ou mesmo o ofício, a habilidade do artífice e foca-se apenas na metodologia do projeto, formando um designer com competências generalistas e ligado estreitamente à produção industrial.
Por outro lado, o que se entende como modernidade se configura em um período mais extenso. Marshall Berman, na introdução do livro “Tudo que é sólido desmancha no ar”, fala da modernidade como um tipo de experiência vital, que se estabelece pela relação do homem com o tempo e o espaço, consigo e com os outros, com o enfrentamento das possibilidades e perigos da vida, sendo toda esta experiência, um paradoxo. É uma unidade de desunidade, lançando todos em uma permanente turbilhão de desintegração e mudança, luta e contradição, ambiguidade e angústia (BERMAN, 1986).
Berman decide se lançar sobre esse lastro experiencial que é a modernidade dividindo-a em três fases: a primeira, em que as pessoas começam a experimentar a vida moderna, mal sabendo o que as atingiu, que acontece entre os séc. XVI e XVIII; a segunda fase, iniciada com a onda revolucionária de 1790, com a Revolução Francesa e suas reverberações, que desencadeiam transformações na vida pessoal, social e política, fazendo com que as pessoas experienciem o que é viver simultaneamente em dois mundos, o que está se modernizando, mas ainda guardando a lembrança do que é viver em um mundo que não era inteiramente moderno; por fim a terceira fase, já no séc. XX, em que a modernidade avança sobre o mundo todo.
A última fase, que já faz referência aos movimentos modernistas, consiste no período em que o autor aprofunda mais sua crítica. Inicia falando dos futuristas e do elogio à máquina. Berman afirma que perdemos a conexão com nossa cultura e nossas vidas, que nos esquecemos de nos reconhecermos enquanto participantes e protagonistas da arte e do pensamento de nossa época, que nos tornamos seres sem espírito, sem coração, sem identidade, massificados, homens e mulheres não passam de reprodução mecânica. Então o autor se põe a discutir sobre os movimentos de vanguarda dos anos 60, que buscam reinventar-se diante disto, dividindo-se em três tendências, a ausente, a negativa e a afirmativa.
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