Resenha - O Que é Cidade, Raquel Rolnik
Por: Maria Luiza Ferreira • 5/3/2020 • Resenha • 1.092 Palavras (5 Páginas) • 347 Visualizações
Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foi relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia Adequada, por dois mandatos (2008-2011, 2011-2014). Foi diretora de Planejamento da Cidade de São Paulo (1989-1992), coordenadora de Urbanismo do Instituto Pólis (1997-2002) e secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades (2003-2007), entre outras atividades profissionais e didáticas relacionadas à política urbana e habitacional. (colei do blog dela)
O Livro “O que é a Cidade”, parte da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense, conhecida por ter conteúdo acessível e introdutório dos mais diversos temas. Este volume abrange o conceito de cidade, sob uma ótica histórica sobre a ação-humana e seu impacto na transformação dos territórios conhecidos como cidades. Dividido em duas partes, a autora primeiro conceitua cidade baseando-se numa concordância “Usando referências a cidades bastante diferentes entre si (...) aquilo que é essencial e comum a todas elas” (ROLNIK, 1995, p. 9).
A autora abre parte intitulada “Definindo a cidade” expondo todas as disparidades entre uma cidade moderna como São Paulo à “outras cidades, de outros tempos e lugares – Babilônia, Roma, Jerusalém” (ROLNIK, 1995, p. 11) como restrição de território comparando as muralhas e seus limites de cidade tão concretos e bem definidos, com algo tão amplo que temos atualmente por não possuir as mesmas restrições, e que este movimento há de dominar todo espaço agrícola, “transformando em urbana a sociedade como um todo.” (ROLNIK, 1995 p.12).
Desta forma, a autora, traz sua primeira concepção, da cidade como um imã à partir da ideia dos primeiros templos em que homens passavam a ocupar um lugar fixo, fez-se a transição para o sedentarismo, da coleta para o cultivo e traz a alegoria do mito de Babel, representando homens se unindo, e da necessidade de normalização e regulação para o coletivo, estes construtores fazendo-se organizações políticas e o domínio sobre a natureza.
Em seguida sucede-se a ideia a cidade como escrita, onde associa-se as edificações e a nova relação do homem com a natureza, com seus centros urbanos que demandam produtos para consumo, gerando grandes obras de drenagem e irrigação, impulsionando a produtividade dos produtores agrícolas. Na cidade se produzem as novas tecnologias. “(...) é na cidade, e através da escrita, que se registra acumulação de riquezas, de conhecimentos.” (ROLNIK, 1995 p.16). Trazendo a paridade entre a cidade e a escrita, que se desenvolvem simultaneamente, ambas servindo como memórias, trazendo com si os traços e experiências de quem os construiu. Trazendo exemplos como a ruína de Machu Pichu e como seus traços revelam sua história de uma cidade morta. E mais importante como em cidades vivas há uma amálgama de memórias que se transformam com o passar do tempo com novos significados nas mãos dos homens, que “estão escrevendo um novo texto” (ROLNIK, 1995 p.18).
“Civitas”: a cidade política, a autora traz à tona a coletividade e a “(...) necessidade de organização da vida pública na cidade” (ROLNIK, 1995 p. 20), e das suas autoridades políticas e seu poder urbano. Conectando a ideia de centralização de poder do Estado com uma cidadela, reconhecendo sua opressividade, e a necessidade de todos os habitantes deste coletivo participarem da vida pública, mesmo que seja apenas a submissão a regras e regulamentos com uma analogia a civitas.
Observando o paradoxo de como a tecnologia e a velocidade de informação descentralizou os poderes em grandes metrópoles espacialmente, porém da mesma forma o centralizou mais do que nunca rompendo esta barreira. Mostrando sobre outra ótica que podemos reconhecer o espaço urbano cotidiano, sendo usado para manifestações civis assumindo o caráter de civitas por inteiro (ROLNIK, 1995 p.24).
Como última concepção A cidade como mercado expõe como a aglomeração urbana, através de uma analogia ao Império Romano, pontencializou a capacidade produtiva do homem transformando o camponês em consumidor de produtos urbanos, e distinguindo o poder deste mercado das cidades romanas, evidenciando como contemporaneamente “o mercado domina a cidade.” (ROLNIK, 1995 p.29)
Na segunda parte “A cidade do capital” o intitulado “O ar da cidade liberta”, a autora nos leva do declínio do feudo até a ascenção das cidades mercantis e seu poder, com o apelo, dos servos abandonarem o feudo para irem para as cidades em busca de trabalho, de liberdade, tal o nome deste capítulo, essa migração intensa fortaleceu o comércio e enriqueceu o patriciado que passa a investir em seus palácios, nas igrejas, e essas cidades como Veneza, Milão, Barcelona expandem seu território, unifica regiões, fortalece seu Estado militar e absolutista dominados por linhagens nobres, protegem seus bens e atendem aos interesses mercantis e de manufatureiros. (ROLNIK, 1995 p. 38).
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