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DIREITO E LITERATURA: A OBRA “PROMETEU ACORRENTADO” DE ESQUILO

Por:   •  7/6/2018  •  Resenha  •  2.466 Palavras (10 Páginas)  •  443 Visualizações

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DIREITO E LITERATURA: A OBRA “PROMETEU ACORRENTADO” DE ÉSQUILO

1  SÍNTESE DA OBRA

Desde os primórdios da humanidade, o questionamento acerca da punição paira sobre a consciência humana, que indefinidamente procura um ideal de justiça – podendo-se perceber tal ideal em todas as sociedades que se formaram durante a longa história da civilização humana, desde o Código de Hamurabi, até o entendimento complexo e desenvolvido do direito em seus mais diversos moldes atuais.

        Da mesma maneira, na Grécia Antiga, a busca da verdadeira justiça e das possíveis retribuições pelos atos cometidos – sendo eles justos ou injustos – eram questões de alta relevância no seio da sociedade, não se limitando apenas aos ambientes de discussão democrática (nos termos da democracia grega original), mas se estendendo também aos escritos poéticos e aos palcos das tragédias.

        Neste contexto é que se enquadra Prometeu Acorrentado, obra escrita por Ésquilo por volta do ano de 452 a.C., dentro de uma trilogia de textos (Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do Fogo), que procurava questionar o sistema de justiça dos homens através da justiça divina aplicada sobre a personagem principal, Prometeu.

        A tragédia em questão narra a história de Prometeu, um deus grego que sofre punição divina imposta por Zeus (rei dos deuses) em razão de ter entregue o  domínio do fogo para a humanidade sem a permissão de outros deuses – tal punição se consubstancia em ficar Prometeu acorrentado à uma montanha, sempre em pé e sem poder dormir sendo queimado pelo sol dos dias todos, aguardando pelas noites, que trarão um alívio, mas também a certeza de renovação de seu ciclo de sofrimento, uma vez que é imortal.

        O crime de Prometeu se torna particularmente grave aos olhos de Zeus, uma vez que este pretendia por cabo à humanidade e em seu lugar criar algo novo – isso porque, sendo Zeus, à época, recém detentor do poder no Olimpo, era sua intenção destruir tudo que lembrasse o antigo poder (exercido por Cronos, seu inimigo, o qual Prometeu ajudou a derrubar), criando algo inteiramente seu. Ocorre que Prometeu havia ajudado a construir a raça humana e, ao vê-la sendo castigada pelas mais variadas intempéries, que seriam a causa de sua aniquilação, compadeceu-se, cometendo o crime que viria a lhe acarretar na grave punição e impedindo que Zeus prosseguisse com seu plano.

        A peça se desenrola a partir do momento em que Prometeu é acorrentado à rocha onde ficará eternamente preso, segundo a punição divina – os acontecimentos anteriormente descritos se passavam em peça inicial, hoje perdida em sua completude. O acorrentamento do deus é realizado por Hefesto, à mando de Zeus, auxiliado por seus ajudantes o Poder e a Força – o deus encarregado da função reluta em realizá-la, em razão de ser Prometeu outra divindade imortal, considerado seu irmão, razão pela qual sequer o abomina pelo crime cometido (mesmo sendo Hefesto o deus do fogo). Após a insistência do Poder, que é bastante eloquente – notando-se que a Força é muda –, Hefesto cumpre a sua função e deixa Prometeu acorrentado à pedra.

        Após a retirada destes personagens, chegam ao apoio de Prometeu as Oceânides (que formam o coro da peça), divindades filhas do deus Oceano, as quais se compadecem da situação de Prometeu e condenam a postura de Zeus, afirmando que este é “duro e insensível” e que “não conhece a conciliação”. Relatam ainda que os povos que se encontram próximos à região onde Prometeu foi acorrentado se compadecem de seu sofrimento ao ouvir seus lamentos, mesmo sendo mortais.

        Prometeu, então comovido com a empatia dos seres humanos para o seu sofrimento, relata que não só presenteou os humanos com o fogo, mas também inventou todas as artes conhecidas, a ciência básica e a ciência dos números, inventara também as carroças e os barcos, dera aos homens o conhecimento das artes divinatórias e das superstições – e agora não sabia como livrar-se do seu suplício.          

        Neste mesmo ínterim, Prometeu – que era dotado do dom da antevisão, como sugerido por seu próprio nome (que significa, no grego, “aquele que pensa antes) – tem a previsão de um deus mais poderoso que o próprio Zeus, que viria para lhe aniquilar. Afirma, porém, que não revelará a inteireza de tal visão e nem a forma de evitar o nascimento de tal divindades, se não for posto em liberdade e justamente “indenizado” pelo ultraje que sofria.

        É após tais acontecimentos que ao local em que Prometeu paga sua pena chega Io, uma virgem, filha de Inaco, pela qual Zeus se apaixonara e que fora, pelo ciúme de Hera (esposa de Zeus), condenada a vagar pela Terra com dois chifres na testa, como uma novilha, sendo picada por um moscardo sem trégua – por isso corre desesperada por todos os lugares, sem paz.

Neste contexto vai parar no local onde se encontra Prometeu, para quem pergunta se o seu tormento algum dia terá fim. Como resposta Prometeu começa a narrar-lhe que ainda vagará por muitos lugares da Terra, chegando até a região da Ásia, após atravessar o estreito que, a partir de então levaria seu nome – de fato até hoje o estreito se chama Estreito de Bósforo, que, na tradução, significa “passagem da vaca” –, porém lhe avisa que isto é apenas parte dos sofrimentos que terá, ainda lhe aguardando muitos outros.

        O deus, então continua, a pedido da virgem, a narrar suas desventuras: esta ainda passará por diversos locais e por outras provas. Prevê que, por fim, Io será conduzida à beira do rio Nilo, onde acabará seu sofrimento e onde fundará uma colônia, recebendo, enfim, a paz através do toque de Zeus – toque que lhe gerará  um filho, Épafo.

Segue Prometeu narrando que, depois de gerações na colônia fundada por Io, as suas descendentes mulheres voltarão à Argos (origem de Io) para fugirem da obrigação de casamento com seus próprios primos – entretanto, serão estas perseguidas até tal localidade e obrigadas a casarem-se. Em Argos, ainda, as descendentes virgens assassinarão seus esposos na noite de núpcias, prevê Prometeu, com exceção de uma – desta única descendente que preferiu não assassinar seu primo-esposo nascerá Alcmena, a qual terá um filho de Zeus, 13º descendente da virgem Io, este filho de Zeus se chamará Héracles e será o herói que libertará Prometeu.

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