DISSERTAÇÃO COM BASE NA OBRA VIGIAR E PUNIR DE MICHEL FOUCAULT O SUPLÍCIO PASSADO E PRESENTE
Por: Ana Carvalho • 15/11/2018 • Dissertação • 865 Palavras (4 Páginas) • 428 Visualizações
DISSERTAÇÃO COM BASE NA OBRA VIGIAR E PUNIR DE MICHEL FOUCAULT
O SUPLÍCIO PASSADO E PRESENTE
Objetivo deste livro: uma história correlativa da alma moderna e de um novo poder de julgar; uma genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder de punir se apóia, recebe suas justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara sua exorbitante singularidade.
É certamente legítimo fazer uma história dos castigos com base nas idéias morais ou nas estruturas jurídicas. Mas pode-se fazê-la com base numa história dos corpos, uma vez que só visam à alma secreta dos criminosos?
(FOUCAULT, Michel, 2011).
O autor nos mostra nesta obra a realidade nua e crua do princípio das punições. O suplício nos leva a uma viagem tenebrosa pelas formas de matar mais cruéis possíveis. Era uma vergonha pública, uma dor moral, que não chegava a ser sentida, pela intensidade da dor física.
A morte no suplício é tão lenta, que o punido morre várias vezes em uma só morte. Era um horror, repleto de espectadores, um teatro de sangue e fogo. Enquanto uma parte do corpo era arrancada e lançada na fogueira, outra parte assistia em dores lancinantes, esperando chegar a sua vez. É como se uma perna visse a outra perna morrer e soubesse que seria a próxima. Era uma morte fracionada.
O arrependimento vinha tardio, a lembrança de um Deus chegava aos lábios em forma de gritos de perdão e socorro, movidos pela dor e o pavor.
O ato de punir o corpo era a forma encontrada pela lei, não de corrigir o sentenciado, mas de mostrar o espetáculo a outros que resolvessem enveredar por este caminho, a criminalidade. As punições físicas eram usadas em todas as prisões, e a intenção era fazer com que o condenado sofresse mais do que qualquer outro homem.
Não era uma pena propriamente dita, mas a vingança do rei contra o corpo do condenado.
A prisão cronometrada pelo tempo, e as regras disciplinares das mesmas, começam a distanciar os condenados das punições corporais, as sentenças de agora eram uma tortura da alma, não do corpo.
A justiça criminal moderna, a forma de julgar dos juízes, é mais uma cura do que uma punição propriamente dita. A intenção não é punir, é corrigir. Ainda assim se esta for a intenção dos magistrados a prisão não deixa de ser uma tortura, as penas ainda são dolorosas, principalmente as de morte.
Em alguns países ainda se aplicam estes suplícios. Seja por injeção letal, câmara de gás ou fuzilamento, mesmo aguardando anos no corredor, a morte ainda é lenta e dolorosa, pois, também a agonia da espera, a incerteza do desconhecido causam uma morte por antecipação.
Pergunto-me se ao permitir uma “justiça hedionda”, também não acabamos nos igualando aos criminosos?
As revoltas nas prisões atualmente, não são causadas apenas pelo frio, fome, superlotação, ou qualquer violência contra o corpo, mas sim, são revoltas contra o próprio corpo da prisão, por este ser detentor do poder.
Nem mesmo o lado positivo, ou investimentos políticos conseguem amenizar o suplício oculto no coração dos presos. O suplício que é uma pena corporal dolorosa, uma crueldade, nos faz refletir que a alma é parte integrante do corpo, é onde repousa a vida verdadeiramente, nela as dores, angústias, alegrias, ou qualquer outro sentimento são armazenados. Não se mata um corpo sem matar a alma, pois, um corpo sem alma já é morto.
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