Dissertação Sobre a obra Antígona de Sófocles
Por: Karen Santos • 27/5/2016 • Dissertação • 3.453 Palavras (14 Páginas) • 1.832 Visualizações
INTRODUÇÃO
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Em qualquer sociedade, mesmo no tempo moderno, as tradições e costumes por diversas vezes se debatem com as leis, e os legisladores ao longo do tempo vem buscando uma harmonia entre o Direito natural e o Direito positivo.
Na tragédia de Sófocles, Antígona, vemos como um governante pode sucumbir em desgraça se não encontrar a serenidade necessária para apaziguar seu povo fazendo justiça com coerência e intercalando as leis humanas com as universais.
Assim, a partir da obra de Sófocles, o mito de Antigona ganhou várias expessões culturais, e também uma interpretação politica por representar á tirania que condenava e os conflitos entre as leis escritas e o Direito Natural.
O Direito Natural, influência e norteia os legisladores, para que, com base nas leis da natureza, a justiça chegue as leis dos homens com ponderação e respeito ás tradições, costumes e hábitos de toda a sociedade.
1-Reflexão sobre a obra de Sófocles, Antígone, e suas relações com o Direito Natural.
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Fonte: http://monitoriafmdcoreu.blogspot.com.br/2010/09/tragedia-de-antigona.html
O Direito Natural aparece nesta história de Sófocles na Trágica cena de uma irmã com um único desejo: dar um fim justo ao irmão.
Antígone e Ismênia , eram filhas do rei Édipo com a rainha Jocasta. O rei Édipo casou-se com sua própria mãe, e ao descobrir-se assassino de seu pai, Laio, arrancou os próprios olhos. Jocasta, sua mãe e esposa, enforcaram-se.
As filha Antígone e Ismênia, assistiriam ainda á dura batalha entre seus irmãos Polinice e Etéocles, pelo trono de Tebas. Os irmãos, filhos da mesma mãe e pai, compartilhavam de opiniões diferentes, e duelaram entre si até a morte, mas sucumbiram e quem subiu ao trono foi o Rei Creonte, que apoiava Etéocles.
Com a morte dos dois irmãos, Antígone e Ismênia sofreram mais um duro golpe da vida. A dor da perda destes entes queridos, fez com que Antígone esquecesse dos motivos que a geraram, e se apegasse ao amor familiar, aos laços que os ligavam, ao ventre materno igualmente caloroso para eles, e a necessidade de fechar este ciclo , com um dos rituais mais antigos praticados pelo ser humano : o sepultamento dos mortos.
Em “A Cidade antiga”, livro de Fustel de Coulanges, podemos entender a agonia de Antígona para sepultar seu irmão. “Na crença primitiva, o homem que não fosse sepultado se tonava uma alma errante, sem residência. Essa alma sem rumo, fadada á miséria, começava então á vagar atormentando os vivos para que lhes dessem seu devido descanso através do sepultamento. No entanto, não bastava apenas cobrir o corpo de terra para que este tivesse seu repouso. Era necessário também os ritos e homenagens póstumas. (Fustel, A cidade Antiga, pag.26)
O rei Creonte, ao saber da morte dos: irmãos Polinice e Etéocles,toma logo partido do que lhe era favorável: Etéocles teria um sepultamento digno, com todas as honrarias que a tradição lhe desse direito, mas Polinice, o revolto, teria seu corpo abandonado para ser dilacerado pelas aves e cães, apodrecendo sem sepulcro.
Creonte: “Jamais os criminoso obterão de mim qualquer honraria, ao contrário de quem prestar beneficio a Tebas , terá de mim , enquanto eu viver e depois da minha morte ,todas as honras possíveis.Em minha opinião,aquele que,como soberano de um Estado,não se inclina para as melhores decisões, e se abstém de falar cedendo qualquer temor é um miserável, quem preza um amigo mais do que a própria Pátria merece desprezo.” (SÓFOCLES, 2008, p. 14).
O desprezo dispensado a Polinice , neste caso, era um exemplo para que seus súditos e o povo de Tebas entendesse como seriam tratados os rebeldes. .Com a característica principal dos monarcas absolutistas, Creonte ignorou ás tradições e crenças do povo de Tebas, bem como a dor das irmãs Antígone e Ismênia perante á mais uma tragédia.
A indignação do povo de Tebas foi imensa ao saber que o rei Creonte, ignorou as tradições.Mas havia nesta atitude do rei muito mais que a necessidade de fazer justiça. O rei Creonte tomou tal decisão para afirmar sua autoridade, deixar claro para o povo do reino o que seria feito de que se rebelasse contra suas ordens. Ordenou que o corpo de Polinice fosse deixado ao vento, apodrecendo aos olhos de todos, como um recado ao seu povo: Assim são tratados os inimigos.
Com esta atitude, o rei Creonte abala seu reinado por tomas decisões ignorando as crenças de seu povo, e a responsabilidade de fazer justiça. Ele, agiu como um autocrata, e tanto em Tebas como em qualquer outro Estado, a autocracia ou até mesmo em alguns casa a monarquia, estarão ligadas á incoerência e absolutismo. A atitude de Creonte pode se compara á de diversos outros Monarcas, como Luiz XIV, o rei francês que proferiu a famosa frase: “L’état c’est moi”, que traduzida significa “O Estado sou eu”. Este tipo de atitude gera por diversas vezes a revolta popular, que exige, entre outras coisas, o cumprimento de seu Direito Natural.
Entendemos assim o conceito de Direito natural embutido na obra de Sófocles, através da jovem Antígona. . Ela não deixaria de forma alguma que seu irmão apodrecesse ao vento, ficando a mercê dos animais. Ela sabia que ao contrariar Creonte ela seria condenada á morte, mas achava que morte seria um caminho mais digno que o abandono do corpo de seu ente querido. Com sua família já desgraçada pela tragédia, nada teria a perder e colocou seu orgulho é frente de qualquer possibilidade de um acordo ou uma discussão direta com Creonte Ela acreditava solenemente que era melhor morrer ao ver a alma de seu irmão vagando sem rumo,
Antígona “Eu conheço outras leis, que não foram criadas ontem ou hoje, mas que tem um valor perene, e que ninguém sabe de onde vieram. Nem um mortal pode infringi-las sem tornar-se vitima do ódio dos deuses. Uma lei como esta obriga-me a não deixar insepulcro o filho de minha própria mãe.Nem Zeus, nem a justiça, irmã dos Deuses, o promulgou. Não creio que teu édito derrogue as leis não escritas e imútaveis do Deuses, pois não passa de simples mortal. Não é de hoje, nem de ontem, que elas existem; são de todos os tempos e ninguém, em verdade, dirá quando começaram. Deveria eu, assim, por temor de tuas ordens, expor-me a merecer o castigo dos deuses?”. (SÓFOCLES, 2008, p.103).
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