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FICHAMENTO: CONTRA A UNIVERSIDADE OPERACIONAL, MARILENA CHAUÍ

Por:   •  7/1/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.337 Palavras (10 Páginas)  •  692 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE DIREITO

CURSO SE DIREITO

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

CAIO MARCHESIN COELHO DE OLIVEIRA

FICHAMENTO: CONTRA A UNIVERSIDADE OPERACIONAL, MARILENA CHAUÍ

A muitos tem parecido que, desde algum as décadas, duas tendências se combatem no interior da universidade pública brasileira: em termos sociológicos, a luta se daria entre um a corrente tecnocrática e outra, humanista; em termos políticos, o em bate se traduziria na oposição entre eficácia (ou competência) e utopia (ou democratismo); em termos econômicos, a luta se daria entre o progresso da racionalidade mercantil e o atraso corporativista; e em termos acadêmicos, o confronto se manifestaria como oposição entre prática concreta e especulação abstrata. Essa figuração dos conflitos, hoje tida com o um lugar comum da vida universitária, não é casual...

O movimento do capital tem a peculiaridade de transformar toda e qualquer realidade em objeto do e para o capital, convertendo tudo em mercadoria destinada ao mercado e por isso mesmo produzindo um sistema universal de equivalências [...]. A prática contemporânea da administração parte de dois pressupostos: o de que toda dimensão da realidade social é equivalente a qualquer outra e por esse motivo é administrável de fato e de direito, e o de que os princípios administrativos são os mesmos em toda parte porque todas manifestações sociais, sendo equivalentes, são regidas pelas mesmas regras. [...] Julga ser possível dirigir a universidade segundo as mesmas normas e os mesmos critérios com que se administra um a montadora de automóveis ou um a rede de supermercados.

A prática administrativa se reforça e se amplia à medida que o modo de produção capitalista, [...] fragmenta todas esferas e dimensões da vida social, desarticulando-as e voltando a articula-as por meio da administração...

Uma organização difere de um a instituição por definir-se por um a outra prática social, qual seja, a de sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios (administrativos) particulares para obtenção de um objetivo particular. [...] Por ser um a administração, é regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito...

A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade. [...] Em outras palavras, a instituição se percebe inserida na divisão social e política e busca definir um a universalidade (ou imaginária ou desejável) que lhe permita responder às contradições impostas pela divisão. A o contrário, a organização pretende gerir seu espaço e tempo particulares aceitando com o dado bruto sua inserção num dos polos da divisão social...

Como foi possível passar da ideia da universidade como instituição social à sua definição como organização prestadora de serviços?

A forma atual do capitalismo se caracteriza pela fragmentação de todas as esferas da vida social [...]. A sociedade aparece como um a rede móvel, instável, efêmera de organizações particulares definidas por estratégias particulares e programas particulares, competindo entre si [...]. Por isso mesmo, a permanência de um a organização depende muito pouco de sua estrutura interna e muito mais de sua capacidade de adaptar-se celeremente a mudanças rápidas da superfície do "meio ambiente"...

A passagem da universidade da condição de instituição à de organização [...] ocorreu em três etapas fases sucessivas, também acompanhando as sucessivas mudanças do capital. Numa primeira etapa, tomou-se universidade funcional; na segunda, universidade de resultados; e na terceira, operacional. [...] Em outras palavras, correspondeu às várias reformas do ensino destinadas a adequar a universidade ao mercado.

A universidade funcional, dos anos 70, foi o prêmio de consolação que a ditadura ofereceu à sua base de sustentação político-ideológica, isto é, à classe média despojada de poder. A ela foram prometidos prestígio e ascensão social por meio do diploma universitário. [...] Essa universidade foi aquela voltada para a formação rápida de profissionais requisitados com o mão-de-obra altamente qualificada para o mercado de trabalho.

A universidade de resultados, dos anos 80, foi aquela gestada pela etapa anterior, m as trazendo duas novidades. Em primeiro lugar, a expansão para o ensino superior da presença crescente das escolas privadas, [...] em segundo lugar, a introdução da ideia de parceria entre a universidade pública e as em presas privadas. Este segundo aspecto foi decisivo na medida que as empresas não só deveriam assegurar o em prego futuro aos profissionais universitários e estágios remunerados aos estudantes, com o ainda financiar pesquisas diretamente ligadas a seus interesses...

A universidade operacional de nossos dias difere das formas anteriores. [...] A universidade operacional, por ser um a organização, está voltada para si mesma enquanto estrutura de gestão e de arbitragem de contratos. [...] Definida e estruturada por normas e padrões inteiram ente alheios ao conhecimento e à formação intelectual, está pulverizada em micro organizações que ocupam seus docentes e curvam seus estudantes a exigências exteriores ao trabalho intelectual. [...] Não surpreende, então, que esse operar coopere para sua contínua desmoralização pública e degradação interna.

Que se entende por docência e pesquisa, na universidade operacional, produtiva e flexível?

A docência é entendida como transmissão rápida de conhecimentos, consignados em manuais de fácil leitura para os estudantes [...]. O recrutamento de professores é feito sem levar em consideração se dominam ou não o campo de conhecimentos de sua disciplina e as relações entre ela e outras afins [...]. A docência é pensada como habilitação rápida para graduados, que precisam entrar rapidamente num mercado de trabalho do qual serão expulsos em poucos anos [...]. Desapareceu, portanto, a marca essencial da docência: a formação.

A desvalorização da docência teria significado a valorização excessiva da pesquisa? Ora, o que é a pesquisa na universidade operacional?

À fragmentação econômica, social e política, imposta pela nova forma do capitalismo, corresponde um a ideologia autonomeada pós-moderna. [...] Para essa ideologia, a razão, a verdade e a história são mitos totalitários; o espaço e o tempo são sucessão efêmera e volátil de imagens velozes e a compressão dos lugares e instantes na irrealidade virtual [...], a subjetividade não é a reflexão, mas a intimidade narcisista, e a objetividade não é o conhecimento do que é exterior e diverso do sujeito, e sim um conjunto de estratégias montadas sobre jogos de linguagem, que representam jogos de pensamento. [...] O que pode ser a pesquisa num a universidade operacional sob a ideologia pós moderna? O que há de ser a pesquisa quando razão, verdade, história são tidas por mitos, espaço e tempo se tomaram a superfície achatada de sucessão de imagens, pensamento e linguagem se tom aram jogos, constructos contingentes cujo valor é apenas estratégico?

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