Hannah Arendt e o zoon politikon
Por: Rosane Cucco • 22/10/2015 • Trabalho acadêmico • 2.502 Palavras (11 Páginas) • 1.064 Visualizações
QUESTÕES:
Questão 01: Em que consiste o zoon politikon descrito por Hannah Arendt e qual a importância desse para a política?
Para Arendt, zoon politikon consiste na ideia de que o homem é a-político. A política surge no entre-os-homens; portanto, totalmente fora dos homens. Por conseguinte, não existe nenhuma substância política original. A política surge no intra-espaço e se estabelece como relação.
Assim, as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos; contudo, a ação é a única que não pode sequer ser pensada além da sociedade dos homens.
Por esta razão, esta relação especial entre a ação e a vida em comum parece justificar integralmente a antiga visão acerca do zoon politikon , no entendimento de Aristóteles, de que o homem é um animal social.
E, assim sendo, os homens se organizam politicamente para atividades em comum, essenciais em um caos absoluto, ou então, a partir do caos absoluto das diferenças. Estas podem ligar os mais diferentes ou separá-los formando, deste modo, novos corpos políticos.
Questão 02: Discorra acerca dos conceitos de esfera pública que a autora apresenta a partir do pensamento grego.
Segundo o pensamento da autora acerca da esfera pública, conceito este idealizado a partir da visão dos gregos, a polis era como a res publica para os romanos, sendo em primeiro lugar a garantia contra a futilidade da vida individual, o espaço protegido contra esta futilidade e reservado a relativa permanência senão a imortalidade dos mortais.
Desta forma, a política se mostra uma necessidade imperiosa para a vida humana, tanto em sua esfera individual como em seu contexto social, pois como o homem não é autárquico, depende de outros para a sua existência, sendo a política a garantia da vida em seu sentido mais amplo.
Para o pensamento grego, ser-livre e viver-numa-polis eram, num certo sentido, a mesma e única coisa. Contudo, esse conceito de liberdade não se restringia apenas, ao fato de não ser escravo mas também a liberdade de viver no ócio.
Segundo o pensamento grego, a capacidade humana de organização política não apenas diverge mas é diretamente contrária a essa associação natural cujo ponto central é formado pela casa e pela família. Com o surgimento da cidade-estado,o homem recebeu a bios politikos. A partir de então, cada cidadão faz parte de duas ordens de existência, quais sejam, vida entre aquilo que lhe é próprio (idion) e o que é comum (koinon).
Questão 03: Explique como se dá a passagem da esfera pública para a esfera social e da esfera privada para a esfera íntima, de acordo com a autora.
A esfera pública é a esfera do comum (koinon) na vida política da polis. Para Aristóteles, a esfera pública era o domínio da vida política, que se exercia através da ação (praxis) e do discurso (lexis).
Naquele contexto, os cidadãos exerciam a sua vida política participando nos assuntos da polis. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para acender à vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer coação. Deixar o lar e a família manifestava a mais importante virtude política, qual seja, a coragem.
No oikos, o homem defendia a sua sobrevivência biológica, enquanto que na polis, o homem precisava coragem para arriscar a própria vida, libertando-se do servilismo do amor à vida. A vida boa, que Aristóteles identificava com a ação política, significava a libertação do homem face às esferas do animal laborans e do homo faber efetivando-se através da virtude da coragem e da eudaimonia (vida boa).
Hannah Arendt salienta que existe uma relação mútua entre a ação humana e vida em comum na comunidade ou sociedade. Apesar da essência pública da política, Arendt afirma que a linha divisória entre a esfera privada e a esfera pública desaparece ocasionalmente em Platão e Aristóteles. Para Platão, as experiências da vida privada podem ser transferidas para a vida na polis. E Aristóteles, seguindo Platão, defendeu que a origem histórica da polis estava ligada à superação das necessidades do oikos e somente a finalidade última da vida boa na polis (a felicidade) transcende a insuficiência biológica da casa e da família.
Contrariamente, todos os que viviam fora da polis (mulheres, crianças, escravos e bárbaros) estavam impedidos, não da faculdade de falar, mas do poder de discursarem publicamente uns sobre os outros confrontando opiniões.
Para Arendt, a confusão entre o social e o político decorre da moderna concepção da sociedade, a qual encara a política como um espaço de regulação da esfera privada. O Estado nacional tende a regular a vida doméstica mediante uma "economia nacional", "economia social" ou "administração doméstica coletiva".
A esfera privada da família, fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-se num "interesse coletivo" controlado pelo monopólio de um Estado soberano, consequentemente a esfera privada e a esfera pública correlacionam-se reciprocamente. Na época contemporânea, Marx recebeu dos modernos economistas políticos a ideia que a política é uma função da vida social e o pensamento, o discurso e ação são superestruturas dependentes da infra-estrutura econômica.
Segundo Arendt, esta situação anula a dualidade clássica entre esfera privada e esfera pública. O público e o privado em Hannah Arendt sofria oposição, embora enfraquecida e com uma localização diferente, entre a esfera privada do social e a esfera pública do político.
Comparativamente,
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