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Historia Cultural: "Além da Virada Cultural?"

Por:   •  30/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.953 Palavras (12 Páginas)  •  454 Visualizações

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CAP. 6 - "Além da virada cultural?"

Burke inicia o capítulo apontando que tal  "nova" história cultural, na verdade, já existe há um tempo significativo (desde 1970); acrescenta, ainda, o fato de ela ser alvo de sérias críticas. Assim, questiona-se se já é tempo de uma fase mais nova e, nesse contexto, se o futuro trará opções mais radicais ou tradicionais. Assim, quanto às previsões, Burke sugere alternativas: um renascimento da história cultural tradicional ("retorno de Burckhardt"); uma expansão contínua para outros domínios; ou uma reação contra o construtivismo ("a vingança da história social").

O retorno de Burckhardt

Burke argumenta que a história da alta cultura nunca foi desprezada, mesmo com a ascensão da cultura popular. Assim, ele propõe uma maior ênfase nesse tipo de história como um futuro possível para a história cultural, já que ela tem uma ausência notável nos estudos culturais atuais. Se isso de fato ocorrer, é provável que ela e a cultura popular coexistam. Nesse contexto, ele cita "O queijo e os vermes", apontando sua abordagem da Contrareforma sob a ótica de sua interação com a cultura popular tradicional.

Política, violência e emoções

1. A história cultural da política

Nesse tópico, o autor mostra a conexão entre política e cultura. Para isso, ele cita as expressões "política da cultura" (razões nacionalistas para fundar museus por exemplo) e "administração cultural" (preocupação de Vargas com a cultura nacional é exemplo), mas dá ênfase à "cultura da política". Nesse contexto, Burke argumenta que a história cultural tradicional já abordava a política, mas houve um deslocamento de abordagem. A "cultura política" salienta as atitudes políticas (e suas formas de inserção) de diferentes grupos. O livro "Politics, Culture and Class in the French Revolution", de Lynn Hunt, é um exemplo dessa tendência, focalizando as novas "práticas simbólicas" vindas da Revolução Francesa aplicadas ao cotidiano das pessoas. Outro exemplo citado pelo autor é a obra do Grupo de Estudos Subalternos, a qual reescreve a história da Índia enfocando a cultura que informa a "condição subalterna"; como, por exemplo, o estudo de Shahid Amin sobre a imagem de Gandi na "consciência camponesa". Esse trabalho influenciou vários outros, exemplificando a globalização dos escritos históricos e a expansão da NHC. Burke finaliza o tópico argumentando que há ainda temas para serem desenvolvidos, como a "cultura da notícia".

2. A história cultural da violência

Nesse item, o autor discorre sobre a relação entre cultura e violência. O historiador citado John Keegan é partidário da posição de que a guerra é um fenômeno cultural. Nesse contexto, Burke informa que a Primeira Guerra Mundial vem sendo abordada do ponto de vista cultural. Há, assim, estudos sobre o aspecto cultural da construção de castelos e das batalhas navais, mostrando que tais ocorrências eram uma espécie de "teatro", para ostentação de riqueza e poder, indo além de simples necessidades militares. "A proposta da abordagem cultural é revelar o significado da violência aparentemente 'sem significado', as regras que governam seu emprego" (página 139). Assim, a violência deve ser compreendida sob seu campo simbólico de significação. Burke cita Natalie davis e Denis Crouzet e como eles trataram a guerra como culturalmente construída, com estudos sobre os aspectos carnavalescos, o papel importante dos jovens na guerra e os significados religiosos dos acontecimentos (a metáfora da purificação), por exemplo. Assim, esses e outros estudos tentam dar um sentido cultual à violência (vista como ações sem sentido).

3. A história cultural das emoções

Burke mostra que alguns historiadores já acreditavam que as emoções têm uma história, como Nietzsche, Huizinga e Nobert Elias. Mas foi há pouco tempo que elas passaram a ser discutidas seriamente; por exemplo, a história das lágrimas é hoje vista como parte da história, o que seria impensável antes de 1980. O autor cita Peter Gay, Theodore Zeldin e Peter e Carol Stearns como interessados na história das emoções. Eles trataram de temas como a "história íntima" de emoções na França do século XIX, a psico-história das emoções da burguesia do século XIX, a "emocionologia histórica"  e as mudanças do "estilo" emocional dos EUA do século XX. Burke também cita Willian Reddy e seus conceitos de "navegação emocional", "regime emocional" e "elocuções perfomativas". Além disso, o autor mostra o dilema desses tipo de historiadores: são eles maximalistas (historicidade essencial das emoções; seu objeto de estudo é amplo) ou minimalistas (não-historicidade; seu objeto de estudo é limitado)? Ou seja, ou emoções específicas ou as emoções como um todo passam por mudanças na história. Burke ainda aponta a dificuldade de se encontrar evidências para sustentar as conclusões da história cultural das emoções.

4. A história cultural da percepção

Paralelo à história cultural das emoções, está a história dos sentidos. As associações dos sentidos mudam ao longo do tempo, além de eles serem investidos de valores culturais. Burke cita autores que se interessaram pelo tema, como Huizinga e Giberto Freyre, os quais discorreram sobre a história da visão, do som e do cheiro. Hoje, entretanto, a tendência é a descrição ambiciosa de todos os sentidos em detalhes, como a obra "Rembrandt's Eyes", de Simon Schama, que apresentava a Amsterdã do século XVII sob a ótica dos cinco sentidos. O autor cita  "Saberes e odores", de Alain Corbin, estudo sobre a "imaginação social francesa". Ele também se preocupou com a história da "paisagem sonora" e com a "cultura sensível"; e mostra que, no passado, os sinos eram ouvidos de forma diferente porque estavam ligados ao paroquialismo. A história da música também é abordada aqui, com exemplo em James Johnson, que fala de uma "nova maneira de ouvir" ao final do Antigo Regime, no sentido de uma maior atenção à música e o seu papel nas emoções. O autor acredita que um estudo geral dos sentidos é mais importante do que estudar cada sentido separadamente.

A vingança da história social

Burke revela que uma reação contra a NHC é uma possibilidade futura. Ela é alvo de críticas no que tange à perda de posições políticas e sociais para "culturais", além do seu construtivismo ser interpretado como uma "epistemologia subjetivista". Essa reação contrária decorre de problemas próprios da NHC, como (além dos limites do construtivismo) a definição de cultura, os métodos a serem seguidos e o perigo da fragmentação. O autor aponta que a relação problemática entre história social e história cultural criou um híbrido "história sociocultural", na qual os dois conceitos são usados e forma indissociável. Burke cita Clifford Geertz e observa que "o perigo da análise cultural era 'perder contato com as superfícies duras da vida', como as estruturas políticas e econômicas", ele, assim, espera uma reconexão. Na NHC, a noção do social deve ser reformada, já que muitos historiadores em geral estudam "que tipos de pessoas estavam olhando para esses objetos em particular em um determinado espaço de tempo" (p. 148). Além desses problemas de definição, há o do método. Trouxe-se à NHC maiores possibilidades de objeto de estudo, e, com isso, novos tipos de fontes; essas, porém, são imprecisas, pois os historidores podem ler os mesmos objetos de formas diferentes. Burke ainda observa a necessidade de diferentes métodos de análise da história cultural e argumenta que deve haver uma mistura dos métods quantitativos e qualitativos. Ademais, há o problema da fragmentação. Os historiadores culturais gostam de análises holísticas, mas a cultura muitas vezes incentiva a fragmentação, servindo como base de conflitos. O "ocasionalismo" implica, também, uma visão fragmentada dos grupos sociais. Há o problema de como obter de um pequeno grupo a representação de um todo e se essas conclusões são válidas, como fez Darnton em "massacre de gatos".

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