LIBERDADE E ESPAÇO PÚBLICO NO PENSAMENTO POLÍTICO DE HANNAH ARENDT.
Por: Anielly Mariana • 12/5/2015 • Resenha • 796 Palavras (4 Páginas) • 751 Visualizações
MARQUES, Alfran Marcos Borges. LIBERDADE E ESPAÇO PÚBLICO NO PENSAMENTO POLÍTICO DE HANNAH ARENDT. FIDES, 2009.
Anielly Mariana Rodrigues de Souza[1]
Resenha
Para os gregos antigos, ação e discurso vinculam-se como propósitos em si mesmos da atividade política, o processo legislativo é compreendido como um recurso pré-político. Ao contrário, á república romana, valorizava a fundação e a legislação da cidade, legítimos atos políticos, as leis não eram criadas na pólis como efeito direto da ação, o fato de agir e falar não pode dar-se em um efeito final sem arruinar seu legítimo e excessivamente frágil conceito. Anterior a atividade e agir e falar, numa dimensão pré-política, é preciso estabelecer o espaço público e nele edificar a condição segura para as leis. Porém, essa condição compreensível que assegura as atividades de agir e falar não é um limite intransponível.
A liberdade passa a emergir na pólis no instante em que cada homem, livre das privações que designavam a estrutura familiar, pode aparecer por meio da ação e do discurso. Portanto, ser livre significava libertar-se da privação presente na atividade laborativa e estar entre iguais, não estando sujeito às necessidades da vida nem ao comando de outro e também não comandar. Na polis grega a liberdade não era possível sem a isonomia. A isonomia, segundo Hannah Arendt, garantia a igualdade justamente porque os homens não são iguais, os homens são por natureza diferentes. A igualdade se dava não entre os homens, mas na polis. Na pólis, os homens se põem em luta, sem ela os homens não capazes de lembrar-se do que foi grande, belo e, sobretudo, humano. A pólis é o grande e doloroso paradoxo que expõem a autentica dimensão trágica da cultura grega.
Em contraposição aos preceitos da pólis democrática, defendidos pela escola sofista, o surgimento do pensamento filosófico grego representa a primeira tentativa de subjugar a esfera política aos ditames da razão. Não obstante a originalidade a organização cidade-estado, que surpreende pela extrema importância da atividade publica, o filosofo deseja habitar em outro mundo guiado pelas idéias perfeitas e longe da confusão dos negócios da cidade. O referencial para essa atitude de negação da experiência compartilhada encontra-se na aceitação do mundo das idéias como portador dos elementos ordenadores da realidade. A tradicional aversão à democracia, que será a pedra fundamental do pensamento político ocidental, tem inicio com o julgamento, condenação e morte de Sócrates e por conseqüente desencantamento de Platão com a vida na pólis.
O embate entre política e filosofia, iniciado com a rápida decadência das virtudes democráticas na pólis e intensificado com o julgamento de Sócrates, terminou com a derrota da filosofia no tribunal ateniense e as conclusões de Platão a respeito da esfera dos pequenos assuntos humanos. Uma vez criado o abismo de pensar e agir, o primeiro foi transformado naquele que, contemplando as idéias, sabe o que deve ser feito e, assim, dá ordens, enquanto o segundo se tornou aquele que o executa e obedece ao que lhe foi ordenado.
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