O Ato E O Auto-Informe-Confissão
Por: Amanda Prado • 16/7/2024 • Monografia • 12.164 Palavras (49 Páginas) • 62 Visualizações
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Explique a proposta dessa seção: 1. O ATO E O AUTO-INFORME-CONFISSÃO O homem vivente se estabelece ativamente de dentro de si mesmo no mundo, sua vida conscientizável é a cada momento um agir: eu ajo através do ato, da palavra, do pensamento, do sentimento; eu vivo, eu me torno um ato; contudo, não expresso nem determino imediatamente a mim mesmo através do ato; por seu intermédio realizo uma significação concreta, semântica, mas não a mim mesmo enquanto algo determinado e determinável; só o objeto e o sentido se contrapõem ao ato. Neste está ausente o elemento do auto-reflexo do indivíduo atuante, que se movimenta em um contexto objetivo, significativo: no mundo de objetivos estritamente práticos, de valores políticos e sociais, de significações cognitivas (atos de cognição), de valores estéticos (atos de criação ou de percepção artística) e, por último, no campo propriamente moral (no mundo dos valores estritamente éticos, na relação imediato com o bem e o mal). Todos esses mundos de objetos determinam axiológica e totalmente o ato para o próprio sujeito atuante. Para a própria consciência atuante, seu ato não necessita de herói (ou seja, da deter minidade do indivíduo) mas tão-somente de objetivos e valores que o dirijam e assimilem. Minha consciência atuante só formula perguntas deste tipo: por quê? para quê? como? está ou não certo? cabe fazer isso ou não? é necessário ou não? Vai dar certo ou não? Ela nunca pergunta: quem sou? o que sou e como sou? Para mim, minha determinidade (eu sou assim) não integra a motivação do ato; a determinidade do indiví duo realizador não está no contexto que assimila o ato para a própria consciência atuante (no classicismo, o ato é sempre motivado pela de terminidade do caráter da personagem; esta age não só porque é assim que deve e precisa ser, mas ainda porque ela mesma é assim, ou seja, o ato é determinado também pela posição e pelo caráter, expressa a posi çao do caráter não para apropria personagem atuante, evidentemente, mas para o autor-contemplador distanciado. Isso acontece em toda obra de arte que se propõe criar o caráter ou o tipo). A ausência de determinidade do indivíduo (eu sou assim) no contexto motivacional do ato não pode suscitar nenhuma dúvida quando se trata de atos de criação cultural: assim, quando eu ajo através da cognição, o ato do meu pensamento é determinado e motivado unicamente por aquelas significa ESTÉTICA DA CRIAÇÃO VERBAL | 1 2 9 ções dos objetos às quais esse pensamento visa; além disso, posso, é claro, atribuir o sucesso às minhas aptidões, os erros à minha incapacidade, em linhas gerais, operar com semelhantes determinações de mim mesmo, mas elas não podem integrar o contexto motivacional do ato como determinadoras deste, pois são do conhecimento de uma consciência cognitivamente inoperante. O ato de criação artística também só opera com significações dos objetos para as quais se volta a atividade artística, e, se o artista procura aplicar sua individualidade em sua criação, essa individualidade não lhe é dada como ato que a determina mas é antedada no objeto, é um valor ainda a ser realizado nele, não é portadora mas objeto do ato, e só no objeto ela entra no contexto motivacional da criação. Está claro que o ato estritamente técnico, social e político encontra-se na mesma situação.
ChatGPT
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O trecho apresentado, que abre a seção "1. O ATO E O AUTO-INFORME-CONFISSÃO" na obra "Estética da Criação Verbal" de Mikhail Bakhtin, oferece uma reflexão profunda sobre a natureza do ato humano e como este se insere no mundo de significados e valores, sem necessariamente expressar a totalidade do eu que o executa.
Análise e Explicação do Trecho:
- Natureza Ativa do Ser Humano:
- Bakhtin começa destacando que o ser humano se estabelece ativamente no mundo. Isso significa que nossa existência é marcada por uma série de ações: agimos por meio de atos, palavras, pensamentos e sentimentos.
- Ele ressalta que, embora vivamos e nos tornemos um ato, este ato não expressa completamente o nosso "eu". Em outras palavras, através dos nossos atos, expressamos significados concretos e semânticos, mas não conseguimos expressar completamente nossa própria essência ou identidade.
- Ausência de Auto-Reflexão no Ato:
- Um ponto crítico aqui é a ausência de auto-reflexão direta no ato. Quando uma pessoa age, ela está inserida em um contexto objetivo de significados. Este contexto pode envolver objetivos práticos, valores políticos e sociais, cognições, valores estéticos (como na criação ou percepção artística), e valores morais (éticos).
- Para o sujeito que age, o ato é definido e orientado axiologicamente (em termos de valores) por esses mundos objetivos de significados. O agente não reflete sobre "quem sou?" ou "o que sou?" durante o ato. As motivações do ato são orientadas por objetivos e valores externos, não por uma busca interior do eu.
- Questionamentos e Motivações do Ato:
- A consciência atuante formula perguntas como "por quê?", "para quê?", "como?", "está certo ou não?", entre outras, que estão todas voltadas para a eficácia e a correção do ato dentro de seus contextos e objetivos.
- Essa consciência não questiona a identidade ou a essência do indivíduo que age. Assim, a identidade do indivíduo ("eu sou assim") não faz parte da motivação direta do ato. Isto é, o ato é motivado pela necessidade e adequação à situação, e não pela expressão do caráter ou da essência da pessoa.
- Diferença com o Classicismo:
- Bakhtin contrasta isso com a abordagem clássica, onde os atos são motivados pela determinidade do caráter da personagem. No classicismo, uma personagem age não só porque deve ou precisa agir de certa maneira, mas também porque ela é de um certo modo – seu caráter influencia diretamente seus atos.
- Esta perspectiva clássica é comum em obras de arte que buscam criar ou explorar o caráter ou o tipo de personagens.
- Atos de Criação Cultural:
- No contexto da criação cultural, como na cognição ou na arte, Bakhtin afirma que o ato é motivado e determinado unicamente pelas significações dos objetos aos quais o pensamento ou a atividade artística se voltam.
- Se o indivíduo tenta inserir sua individualidade na criação, essa individualidade não é o que determina o ato. Ao invés disso, a individualidade é um valor a ser realizado no objeto da criação; ela é o objeto, e não o agente, do ato.
Conclusão:
Bakhtin, nesse trecho, está delineando uma visão de como os atos humanos são enraizados em contextos de significado e valor externos, sem serem diretamente motivados pela auto-análise ou auto-reflexão profunda. Isto reforça a ideia de que nossos atos são orientados por estruturas sociais, culturais, e cognitivas maiores, e que a busca pela identidade ou essência pessoal não é o que imediatamente motiva nossas ações no mundo. Este é um ponto crucial para entender a teoria bakhtiniana, onde a interação e o diálogo entre sujeitos e entre diferentes vozes e contextos são mais significativos do que a expressão isolada de um eu interior.
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