O Poder e Política
Por: 20102000 • 23/8/2019 • Resenha • 1.571 Palavras (7 Páginas) • 211 Visualizações
A relação entre Política e Poder sempre foi um importante tópico de discussão entre os pensadores desde o surgimento dos filósofos socráticos na Antiguidade, sendo considerada uma das principais bases que sustentavam as polis gregas. Com o advento da Era Moderna, no entanto, as modificações sofridas pela sociedade no âmbito estatal acabam por modificar a maneira com que os indivíduos interpretavam tal relação no contexto dos Estados Absolutistas, fornecendo campo favorável para o surgimento do pensamento contratualista. Posteriormente, no século XIX, as sequelas ainda recentes deixadas pela Revolução Industrial no entendimento do trabalho e, consequentemente, nas interações entre o indivíduo e o Estado acabam por se tornar o foco dos estudos sociológicos, ciência que acabava de surgir na época. Tais variações fenomenológicas do sentido de Política e Poder serão o foco da presente resenha, que objetiva explicar cronologicamente o porquê de tais alterações de maneira a relaciona-las com os acontecimentos vigentes de cada momento histórico, abordando de maneira breve como essa relação é vista nos tempos atuais.
Durante a Antiguidade Clássica, os filósofos buscavam entender como as interações dos indivíduos entre si e para com o Estado poderiam afetar a estabilidade do governo e das questões públicas, sendo o publico entendido como tudo aquilo que está diretamente relacionado com a polis, afetando a população em geral. Dentre esses, destacam-se as figuras de Platão e Aristóteles, que visavam classificar as formas de governo em positivas ou negativas de acordo com a estabilidade da manutenção poder e com a preocupação do governante com a Eudaimonia.
Platão, nascido em Atenas e discípulo de Sócrates, vivenciou o período no qual a polis democrática ateniense estava em decadência e, em uma tentativa de reverter tal degradação, propõe um modelo de governo totalmente inédito, no qual os governantes deveriam ser unicamente filósofos. Dentro dessa forma de governo hipotética, o poder era dividido entre os filósofos- que ocupavam os cargos políticos, evidenciando o apresso de Platão pela racionalidade do poder político- , os guerreiros- encarregados de defender a polis e seus habitantes- e os trabalhadores- que deviam atender as outras necessidades da população - , demonstrando a necessidade de todos os indivíduos estarem integralmente ligados a polis. Dessa forma, destaca-se em Platão que a relação entre poder e política está altamente ligada com o aprimoramento das faculdades intelectuais do indivíduo, tendo este que desconciliar a alma dos elementos sensíveis para alcançar a verdade de forma plena.
Já Aristóteles viveu em um contexto no qual a polis de Atenas estava sendo extinta devido à dominação desta pelo Império Alexandríaco. No entanto, mesmo sobre tal situação, continua a refletir acerca das formas de governo, priorizando a constituição como a estrutura que da ordem a polis, sendo esta a essência do governo e da sociedade. Assim como seu mentor, defende a importância da participação dos cidadãos nas decisões políticas, ressaltando que a virtude sempre está no meio termo, ou seja, a noção do equilíbrio está relacionada com a ideia de que uma comunidade fundamentada na classe média traria mais estabilidade para a polis. Além disso, Aristóteles aborda a temática do poder como sendo uma virtude aplicada pelos indivíduos entre si – poder que o pai tem sobre o filho, que o senhor tem sobre o escravo e que o governante tem sobre a população – utilizando esta como uma justificativa para a escravidão de alguns povos que, para ele, já nascem servir.
Nesse contexto, também vale a pena destacar que ambos os filósofos diferenciavam as formas de governo de acordo com o número de indivíduos que exerciam o poder político, ocupando a posição de governantes – Monarquia e Tirania: um governante; Aristocracia e Oligarquia: governo de muitos: Democracia positiva e Democracia negativa: governo de todos – e, assim, diferenciando os integrantes da sociedade entre governantes e governados. Ademais, o critério utilizado por cada um para diferenciar as formas positivas das negativas foram particulares, Platão acreditava que a legalidade ou a falta dela seria a principal maneira de diferenciar as duas formas, além de outras características como a violência praticada ou não pelo governante e a existência de um consenso social acerca do governo. Aristóteles, contudo, baseava sua diferenciação no interesse dos governantes, caso esses buscassem o bem comum, seriam uma forma positiva, se perseguissem fins particulares eram governos negativos. Apesar de tais diferenças, ambos os filósofos acreditavam que a deterioração das melhores formas de governo era o que dava origem as piores, o que ocorria de maneira cíclica e seguia a seguinte ordem, de melhor para pior: Monarquia, Aristocracia, Democracia Positiva, Democracia Negativa, Oligarquia e Tirania.
Posteriormente, durante a Idade Moderna, o advento dos Estados Absolutistas modificou a maneira de se encarar a natureza humana e, consequentemente, a participação que os indivíduos deveriam ter nas decisões políticas. Assim, no século XV, Nicolau Maquiavel revoluciona o campo das ciências políticas em sua obra dirigida ao governante da República Florentina Lourenço de Médice, na qual aconselhava o príncipe acerca de questões políticas, objetivando que este desse inicio a unificação italiana. Maquiavel acreditava na figura do príncipe como sendo o salvador da pátria, visto que a natureza humana tende necessariamente para a desordem e cabe ao governante ter pulso firme para lidar com o egoísmo e a mesquinhez de seu povo, visando sempre o bem estar da nação. Dessa forma, cabe ao príncipe não medir esforços ou escrúpulos para assegurar a integridade nacional, mesmo que para isso tenha que transgredir as éticas moral e cristã, fazendo uso de trapaças e traições, caso seja preciso. Nesse contexto, a política torna-se um cenário verdadeiramente caótico, semelhante a uma selva, na qual o governante tanto pode trair e ser traído e, para isso, deve cercar-se de ministros competentes e leias a sua autoridade. Cabe ao governante, também, ter Virtu – desenvoltura para lidar com situações desfavoráveis e saber aproveitar
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