O Príncipe
Por: Márcia Laís • 28/8/2018 • Abstract • 462 Palavras (2 Páginas) • 134 Visualizações
Não é possível entender completamente o sentido da obra de Maquiavel sem analisar o contexto em que ela surge. Esse contexto é marcado pela nova visão de mundo proporcionada pelo surgimento do Renascimento, movimento cultural que revolucionou a Europa pós-medieval em vários campos como os das artes plásticas, da literatura, da dramaturgia, da filosofia e das ciências?
O Renascimento traz em seu bojo a redescoberta dos valores da Antiguidade, sobretudo os greco-romanos. E traz a valorização da autonomia do homem, responsável novamente por uma atitude criadora diante do mundo. Com efeito, substitui-se o teocentrismo pelo antropocentrismo. Tal fato terá um peso fundamental nos escritos de Maquiavel uma vez que o homem político descrito em O Príncipe não teme inovar, agir livremente sem medo de castigos e punições divinas, conforme veremos. O homem renascentista pressupõe uma ruptura com o modelo do medieval, submisso à ordem teológica, para colocar em seu lugar uma atitude auto-afirmativa, com foco no mundo terreno e "nesta vida". Voltam a ser valorizados aspectos como a honra e a glória e retorna à ordem do dia a legitimidade de conquistá-las.
É importante frisar que nada disso seria possível sem as condições objetivas sobre as quais se consolidaram o ideário e o movimento renascentista. Havia em curso um conjunto de transformações econômicas, sociais, políticas e técnicas que, de certa forma antecediam à eclosão do Renascimento e que se revelaram fundamentais para o êxito do movimento. Não é possível ignorar a enorme difusão proporcionada pela imprensa, inventada anteriormente por Gutemberg. Com ela, as obras dos autores renascentistas puderam ser amplamente divulgadas, quebrando o monopólio do saber que se colocava sob o poder da Igreja (Riche, 2005, p. 7). A possibilidade da leitura individual e reflexiva ao alcance de cada homem significou uma mudança não desprezível na forma de aquisição do conhecimento, principalmente pelo acesso a perspectivas e experiências variadas, não mais presas aos dogmas religiosos. Ademais, a difusão do conhecimento proporcionaria a ligação com outras culturas, de diferentes lugares da Europa e de outros continentes, fato também proporcionado pela expansão náutica, que originou inclusive uma época de grandes descobrimentos (idem, p. 8).
Outro traço fundamental do Renascimento, e que marcaria grandemente o pensamento de Maquiavel, foi a redescoberta dos valores da Antiguidade clássica. A valorização das obras e dos autores clássicos haveria de representar fundamental para os propósitos do movimento renascentista. Voltam à cena autores como Virgílio, Horácio, Homero, Cícero e suas ligações de oratória, moral e política. É nos clássicos da Antiguidade que os autores renascentistas se apoiarão para forjar a nova identidade antropocêntrica (idem, p. 16). Autores como Pico della Mirandola pregação a possibilidade de qualquer homem transgredir as barreiras terrenas que lhe sejam impostas, valorizando a ousadia e a busca da glória e da vurtù, conceito que seria também explorado por Maquiavel.
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