Platão e a Metafísica do Estado e da Ideia do Bem
Por: Isabelly Lopes • 16/11/2020 • Resenha • 6.841 Palavras (28 Páginas) • 526 Visualizações
Aula – Platão e a metafísica do Estado e da ideia do bem
A aula de hoje irá abordar alguns aspectos amplos sobre Platão, principalmente sobre a questão política. Primeiramente vamos comentar um pouco a ideia da navegação que é uma imagem que Platão realiza entre os livros V e VII da República e que objetiva fazer uma analogia com tanto o destino da alma do ser humano, o cosmos, quanto também com o governo da Pólis. Então, na verdade, para diversos intérpretes e o Cornelli, nós temos o navio como sendo a representação da própria república no aspecto de que temos algumas figuras arquetípicas que são reencontradas por Platão durante a navegação e a imagem da condução do barco pelo mar, temos, portanto, a figura do capitão (que é representado como sendo do filósofo), os marinheiros (que são representados pelos artesãos, trabalhadores, etc) e a figura do armador que a ideia de uma construção do Navio, a sua montagem para a navegação e tudo isso que se faz uma analogia com o papel dos guardiões de uma república platônica.
Sabe-se que Platão defende 3 classes principais na república: a classe trabalhadora, a classe dos guardiões (que visam proteger a Pólis e que devem ter uma educação bem específica nesse aspecto para amar mais a pólis que o seu próprio poder militar da força, fazer com que essa força sirva a pólis e não ao contrário) e o político (que é a prefiguração do filósofo). No diálogo sobre o político, que é um dos últimos, o Platão irá retomar o tema mostrando uma certa evolução entre o sofista, o político e o filósofo. Todo político, no fundo, tinha o intuito de virar um filósofo, pensador das condições de realização da política na Pólis, deixando o primeiro ninho sendo um ninho de uma paixão pelo discurso, portanto pelo uso do próprio poder, que seria o caso dos sofistas, e uso livre da dialética. Já o político tem um uso engajado pois ele deve seguir as leis buscando uma postura neutra em relação aos diversos fatores de poder e de concorrência existentes na Pólis. E aí sim, com essa utilização da dialética, aproximar-se do próprio ideal de uma realização do filósofo, que seria exatamente a transformação do político em homem sábio ou, então, a assimilação da sabedoria do filósofo em relação ao governo da Pólis, que é a ideia das formas, contemplação das formas.
Para Platão, a teoria é um conhecimento contemplativo e puramente especulativo, pois todo conhecimento aplicado é tecne, então, o que se tem na filosofia é uma especulação dialética e metafísica sobre as condições de existência do poder e sobre a realização do bem na Pólis. Caberia ao político, portanto, seguir essa linha no sentido de pensar essas condições aplicando a legalidade e, ao mesmo tempo, se tornando um garantidor de todas as forças que compõe a Pólis no sentido de levar mais justiça a todos os casos e organizar a Pólis nos seus diversos elementos. Claro que a saída dos interesses particulares é bem dificultosa. Para atingir o bem comum da Pólis, como quer Platão, é preciso todo um trabalho de purificação da alma, não posso estabelecer justiça sem buscar, primeiramente, encontrar a justiça em si mesmo, na minha própria alma, não se pode buscar estabelecer o equilíbrio da Pólis sem encontrar esse equilíbrio em si mesmo. Portanto, a navegação é exatamente isso, é o caminho em busca de um equilíbrio, caminho em busca do bem, é a própria realização da ideia do bem, ou seja, o objetivo da Pólis é o bem de todos, a navegação é o caminho, então se tem dificuldades, os obstáculos, a ideia, portanto, das diversas estruturas sensíveis que vão estabelecer um contraponto a essa perspectiva inteligível da posse do bem.
Essa oposição entre sensibilidade e inteligibilidade de Platão é fundamental, a ideia de alguém que pode conduzir a Pólis à essa posse do inteligível, pode conduzir, acima das paixões, a racionalidade dialética capaz de apresentar a todos os homens essa capacitação pelo bem. No “menom”, que é um diálogo em que Platão busca estabelecer a narrativa em torno da igualdade, ele chega a dizer, por exemplo, que homens e mulheres podem ter virtudes, só que ele considera que as virtudes da mulher serão melhores no aspecto econômico, do ecosnomos, ou seja, economia doméstica, já os homens serão melhores em negócios públicos e, de qualquer forma, mesmo sendo escravo poderia aprender, poderia ser aprimorado na arte até mesmo da dialética e poderia conhecer as artes, no sentido técnico. Portanto, Platão acredita na capacidade de todos os homens, ao utilizarem sua alma racional, viriam aprender a posse de algum extrato das ideias. Claro que todas as ideias hoje estão num nível transcendente, elas são arquétipos perfeitíssimos da realidade, daí o dualismo Platônico, o que devemos fazer, portanto, é sairmos do aspecto sombrio das nossas primeiras representações mentais e do aspecto tirânico de outras representações mentais que são principalmente postas na Pólis por aqueles que detém o poder imediato, o poder de intimidar as pessoas. A ideia de que o exercício do poder por politiqueiros, como ele fala no diálogo sobre o político, ou tiranos. Na verdade, o politiqueiro tirano se apresenta como político, mas na verdade não são pois os verdadeiros políticos são aqueles que amam a Pólis, embora Platão siga que são raros. A ideia que apresenta-se no II livro da República, principalmente por Goges, é que você deve estar num contraponto entra contrato e virtude, se Sócrates respondeu antes à Trasímacro, o sofista, que haveria uma justiça virtuosa, inerente à própria alma humana e em conexão com um bem superior, disse que justiça é a conveniência do mais forte em quase todos os casos e isso levaria, portanto, à uma concepção prescritivista e convencionalista, ou seja, justiça é aquela lei que é prescrita pelo forte, é aquela lei que se faz cumprir pelo exercício da força, em último caso, portanto, da coerção. E o Glaucom, que é irmão de Platão, ele apresenta uma terceira via, digamos, que é a via do contratualismo, ou seja, a perspectiva de que os homens, mesmo não sendo puros, portanto, tendo interesses egoístas, busca ainda assim estabelecer algum tipo de consenso em torno do justo, e essa consciência em torno do justo será um direito contratual, um direito que visa estabelecer um acordo de quais são as leis válidas. Embora pressuponham o bem, concordando, em partes, com Sócrates, o Glaucom apresentará uma solução intermediária derivada da própria posição do Trasímacro, na verdade, pois ele apresenta uma posição contratualista, uma posição convencionalista, portanto. Só que o acordo faz com que os homens possam dar o melhor de si, ou seja, cumprir as leis, de qualquer forma ele concorda na finalidade com Sócrates que nenhum homem virtuoso pode descumpri-la. Não há justiça sem o cumprimento das leis, que é o principal objetivo de toda república se avançarmos na metáfora do navegante, pois o timoneiro, assim como os filósofos, são aqueles que exercem poder na Pólis, são aqueles que vão obedecer a perspectiva de não uma coerção, mas de virtude. Então, a ideia do Platão nesse contraponto entre coerção e virtude é mostrar que mais importante que intimidar os homens com medo do descumprimento da lei e, portanto, manter esse ciclo de interesses, o mais interessante é que você possa despertar o melhor de si de cada ser humano, ou seja, uma educação para a justiça, as três virtudes platônicas, portanto, devem emergir com toda força. Andréia, que é força, Sofroníase, que é temperança, e Diacosíne, que é justiça. Na justiça se resume as outras duas e estabelece uma ligação com o bem maior, ou seja, ao ser justo, você tem que ser ao mesmo tempo forte e temperante, e os dois fatores vão se somar para estabelecer uma alma forte, uma alma que possa lutar pelo cumprimento da lei e pelo atingimento do bem maior da Pólis, então é uma relação de poder conduzida pelo filósofo, como sendo aquele que contempla as formas mais propriamente, e que pode levar esse conhecimento aos membros que estão presos na caverna, na alegoria da caverna. Ou seja, o filósofo ao contemplar o sol, que é filho do bem (na metáfora platônica), ele pode comunicar essa bondade aos demais homens e despertar neles um interesse pela vida ética.
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