Resenha Carne E osso
Por: jotoledo800 • 3/7/2019 • Trabalho acadêmico • 951 Palavras (4 Páginas) • 336 Visualizações
RESENHA CARNE E OSSO
Direção: Caio Cavechini.
Ano: 2011.
Gênero: Documentário.
Nacionalidade: Brasil.
Produção: ONG Repórter Brasil
SINOPSE: Um retrato das condições degradantes de trabalho nos frigoríficos brasileiros.
Aluno responsável por essa resenha: João Roberto de Toledo Quadros
Matricula: 113038461
Texto
Ao iniciar a sessão do filme, fui levado de imediato ao início do século passado, nos anos de 1900’s. Observando a cena inicial, mostrando a linha de produção de um frigorífico de abate de aves, no qual o funcionário, trajado tal qual um operador de usina nuclear, fica a cortar e desossar as aves, em movimentos de 18 rotações com as mãos em até 15 segundos, de acordo com o auditor/fiscal do Trabalho, e mostrado no filme, a similaridade com as antigas linhas de produção da era pós-revolução industrial foi inevitável de se perceber.
Tal ação me remontou, primeiro, aos tempos dos velhos Taylor e Fayol (Dalmolin, 2007), com suas idéias de linha de produção fabril, baseada em pontos no qual eram executadas ações repetitivas e sistemáticas, idéia essa consagrada pelos métodos de Henry Ford (Moraes Neto, 1989) e sua fábrica de Fords T.
Também me fez lembrar as histórias de minha avô, que dos 7 aos 12 anos, na década de 20 do século passado, trabalhava em uma fábrica de tecidos, onde hoje é o Boulevard 28 de Setembro, na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel. Nesse local ela trabalhou carregando fardos de algodão para a linha de fábrica, que funcionava seguindo as metodologias Taylor-Fayolistas, ganhando a “fortuna” de 5 vinténs por semana.
Durante o documentário é exposta a vida, ou morte, de diversos funcionários desses frigoríficos, que, em pleno século 21, ainda funcionam nas teorias Taylor-Fayolistas, que não levavam em conta o limite individual dos operadores ou funcionários, mas somente o aumento da produção da fábrica.
Igualmente, esses frigoríficos submetem os funcionários a uma rotina incessante e sistemática de estresses, esforços repetitivos, sem descanso, sem atividades lúdicas, sem nenhum cuidado com a saúde e bem-estar daqueles que acabam sendo consumidores de seus próprios produtos. Tudo isso “regado” ao salário de no máximo dois mínimos, um pouco maior do que minha avó ganhava como criança na fábrica de tecidos. Isso porque hoje em dia, o trabalho infantil é proibido, pois não se duvida de quem estaria nessa linha de produção, se às crianças fossem permitidas o acesso a esse trabalho.
No documentário é fácil perceber que as operações dos funcionários na linha de produção causam LER (Lesões por Esforço Repetido); estresse pós-traumático (similar ao que ocorre com veteranos de guerras); problemas neurológicos e psicológicos, causados pelas pressões do trabalho, falta de tempo para lazer, baixos pagamentos, entre outras.
As conseqüências do uso dessas metodologias são vistas nos entrevistados, que são pessoas entre 35 e 50 anos, com rostos envelhecidos, aparência cansada e sem nenhuma outra perspectiva de crescimento, seja individual, seja profissional. E não importa a esses empreendimentos as ações trabalhistas, já que as multas são poucas, de baixo valor e compensadas pela contabilidade empresarial, que insere em seu plano de contas as despesas com ações trabalhistas, ou seja, elas não preocupam esses empreendimentos, nem os fazem mudar de atitude.
Não há investimento no crescimento dos funcionários, não há promoções entre aqueles que servem nas linhas de produção, não há valorização salarial. Se não fosse a época (2011), acreditaria estar vendo um documentário dos anos 1900-1902, no qual as teorias Taulor-Fayolistas foram implementas, gerando uma geração de funcionários com problemas iguais aos relatados no documentário.
Os dados são críticos: 80% de pessoas com LER são de frigoríficos, os médicos do trabalho na empresa passando remédios antidor, sem levar em conta a influência viciante de tais medicamentos (que podem levar a morte, se forem exageradamente tomados), mais de 500% de problemas neurológicos e mais de 700% de problemas físicos (em relação a outras categorias de trabalho). Ou seja, é um quadro similar aos escravos do século 19 (Porto, 2006), com a sutil diferença que esses atuais recebem um valor pelo seu trabalho, que se denomina salário.
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