Resenha Crítica - Livro Indignai-vos (Stéphane Hessel)
Por: Larissa Machado de Araújo • 11/5/2017 • Trabalho acadêmico • 996 Palavras (4 Páginas) • 2.320 Visualizações
Resenha crítica – Livro: Indignai-vos (Stéphane Hessel)
Stéphane Hessel, nascido na Alemanha e naturalizado francês em 1937, foi um diplomata, embaixador, combatente da resistência francesa e agente do serviço de inteligência da França. Participou da elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e foi autor de várias obras, dentre elas “Indignai-vos”, objeto da presente resenha.
Neste manifesto, como ferrenho defensor dos direitos universais que é, Hessel centraliza sua narrativa em torno do sentimento de indignação, ressaltando sua importância e influência no comportamento humano, e considerando que é dele que surge a disposição de lutar ou resistir a práticas e ideais que vão de encontro à nossa democracia.
Ele ainda enfatiza que, diferentemente da polarização nítida de ideias e princípios vislumbrados no século XX, a sociedade atual se mostra difusa e globalizada, o que dificulta aparentemente a visualização dos motivos para indignação. Ainda assim, o autor alerta para a necessidade de constante procura do nosso meio de revolta, dos motivos parar buscarmos uma liberdade, uma melhoria de nossas condições. Aqui, deixa claro que não devem haver espaços para o conformismo e acomodação, simplesmente pelo fato de sermos humanos.
Nesse aspecto, ele ainda ressalta a importância da preponderância dos interesses coletivos sobre os individuais, de forma que haja menos egoísmo e mais interesse e preservação do bem comum, sugerindo inclusive que as riquezas naturais e as criadas pelo trabalho pertençam à toda nação, que o sistema financeiro não seja monopolizado nas mãos de uma pequena parte detentora de poder, e que a imprensa tenha sua liberdade e independência sempre asseguradas, livre de manipulações ou influências. Era assim que Hessel descrevia uma verdadeira democracia.
Em seu fervoroso discurso, o diplomata deixa claro que estes princípios precisam ser reafirmados, ressaltando mais uma vez a importância da indignação e destacando a indiferença como a pior das atitudes, considerando o modelo competitivo, egoísta e desigual que a sociedade moderna tem cada vez mais se tornado, o que é preocupante.
Ainda, apresenta duas compreensões de história e de progresso: a primeira que segue os caminhos de Hegel, fundada na liberdade e na razão e que gerariam uma sociedade governada pelo Estado democrático em sua forma ideal. A segunda, a concepção dos liberais, em que a liberdade se manifestaria pela competição e que trouxe como resultado um mundo em catástrofe.
Nesse viés de motivos para engajamento, ele também aborda os direitos humanos e o estado do planeta, com a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, trazendo a importância do termo “universal” no pós-guerra, qual seja, emancipar-se das ameaças que o totalitarismo impunha na sociedade e fazer com que esses direitos fossem respeitados pela ONU, de forma que não mais se justificasse que a soberania de um Estado o legitimasse a cometer crimes contra a humanidade, como foi no caso de Hitler. Fala também do impacto positivo que a Declaração Universal teve, com a multiplicação das organizações não governamentais e dos movimentos sociais.
Mais à frente, Hessel dedica um capítulo exclusivamente para demonstrar sua indignação com a situação dos palestinos, abordando o desrespeito ao artigo 15 da Declaração Universal de 1948, de que "toda pessoa tem direito a uma nacionalidade". Chama especial atenção para o relatório Goldstone, de setembro de 2009, elaborado pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, judeu e sionista confesso, em que acusa o Exército israelense de ter cometido "atos comparáveis a crimes de guerra e, em certas circunstâncias, a crimes contra a humanidade. Refere-se a operação "Chumbo Fundido", de Israel contra a Faixa de Gaza.
Nesse cenário, Gaza disparou mísseis contra as cidades israelenses como resposta, comportamento esse que Hessel justifica pela exasperação, na qual a violência, neste caso em forma de terrorismo, aparece como uma lamentável conclusão de situações inaceitáveis para quem a sofre. E isso, apesar de compreensível, não é visto como algo bom, sugerindo ele, portanto, que ao invés de exasperar os habitantes de Gaza deveriam esperar, pois só a esperança pode trazer resultados positivos.
Sobre violência, Hessel se une ao pensamento do renomado filósofo Francês no tocante à compreensão do terrorismo, porém ao mesmo tempo se afasta do pensamento de Sartre ao alegar e demonstrar sua ineficácia. Afirmando que só a não violência e a esperança, as quais são alcançadas através da defesa dos direitos, são capazes de fazer a violência cessar.
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