Maquiavel X La Boétie - A questão do Estado
Por: vinnypires98 • 9/6/2018 • Dissertação • 2.125 Palavras (9 Páginas) • 358 Visualizações
Texto Completo – Maquiavel X La Boétie
1. Destaque os principais aspectos do pensamento de Maquiavel e La Boétie e, em seguida, faça uma análise comparativa entre os dois autores (semelhanças e diferenças).
Tanto Maquiavel como La Boétie viveram em períodos de muita instabilidade política e crises governamentais e, então, como grandes influenciadores e pensadores da época, discutiram as formas de poder, como deveriam ser conduzidas e o papel dos dois lados da política.
Na primeira vista, pode ser destacado os dois lados de uma análise: Maquiavel se prende a mostrar o lado do “Príncipe”, o dominador autoritário e soberano, analisando as formas de chegar ao poder e de como mantê-lo. Já La Boétie, indo de encontro as ideias maquiavélicas, expõe os lados dos dominados, defendendo a tese de que o poder autoritário retira a liberdade do povo.
(Análise Comparativa): Em comparação, a diferença de pensamento entre os dois autores fica evidente a partir do ponto de vista de análise. Maquiavel, exaltando a figura do soberano, acreditava em um poder político centralizado e autoritário, de regras próprias e autônomo, onde o mais importante era, depois de conquistar, manter o poder. Sem a participação da sociedade, acreditava ainda que o Príncipe precisaria ter, basicamente, duas características: Virtude, que eram as habilidades para governar, como a astúcia, lábia, saber negociar, discursar boas palavras (mesmo que não as cumprisse), etc.; e a Fortuna, que seria a sorte e as oportunidades que o príncipe haveria de ter. Já La Boétie, mesmo não explicitando suas ideias práticas-políticas em seu livro como fez Maquiavel, repugna a soberania absoluta de um só homem, então optando pela república como a melhor forma de organizar a sociedade. Os tiranos seriam formas de governos ilegítimas. Na visão dos dominados, o filósofo francês defende a ideia de como o absolutismo monárquico, o “Um” restringe a liberdade dos indivíduos e os torna submisso ao rei. Porém essa servidão nem sempre é forçada, muito pelo contrário, os homens se submetem a essa condição.
Tanto para Maquiavel como para La Boétie, a cultura de cada indivíduo, ou seja, o modo como estão acostumados a viver, tem papel fundamental na manutenção do poder nas mãos do soberano. Maquiavel defende a tese de que principados hereditários são mais fáceis de se estabilizarem, já que o povo está acostumado com uma linhagem. Para La Boétie, a cultura do indivíduo culmina para a aceitação da condição de jugo e o faz optar pela submissão em detrimento de sua liberdade.
Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) foi pensador político italiano, fundador da ciência política. Vivente do Renascimento, foi funcionário público republicano por muitos anos. O Príncipe foi escrito em 1513 (apesar de ser publicado somente em 1532), destinado, exclusivamente, a Lourenço II de Médici, então rei da província de Florença, na Itália, descendente de uma família plebeia muito rica e poderosa, que governou Florença, por mais de 100 anos. Vale ressaltar que a Itália naquela época era dividida em províncias que viviam em guerra por independência e domínio. Dá-se, então, um período onde nenhum rei ou governador tinha a certeza de que governaria em plenitude por muito tempo. Ainda viviam entre cercos, revoluções, revoltas. Em 1512, a família “Médici” que tinham sido expulsa da cidade por serem antirrepublicanos conseguiram eleger um papa que os reintroduziu na política e praticamente acabou com a república na província de Florença. Os “Médici” tomaram a cidade e derramaram muito sangue em favor da centralização do poder. Maquiavel, por ser republicano, foi preso e torturado, porém não morreu, mas foi exilado para o campo, em uma fazenda de sua família. Maquiavel viveu dias inquietos e tediosos ao se afastar de sua costumeira vida política. Em 1513, Maquiavel se contentara em assumir que a província de Florença, antes republicana, agora era governada por um “príncipe”.
O objetivo de Maquiavel ao escrever O Príncipe, era de reconquistar a confiança do soberano Lourenço, para então voltar a seu rotineiro trabalho político. Querendo impressionar o governador (e mostrar que seria útil em seu reinado), Nicolau se mostra confiante ao escrever de forma simples a “carta” ao soberano, mostrando a forma como deveria ser governado uma província absoluta. Todos as condutas de governança que Maquiavel considerava útil estão contidos em sua Magnum opus.
O principal pensamento político de Maquiavel se desenvolve em dois processos: conquistar o poder político e manter esse poder. Ele explica que existem duas espécies de governo de um Estado (nação), ou são repúblicas ou são principados. A população deve viver livre ou submetida a um príncipe. Eles são conquistados ou por armas alheias ou por armas próprias, ou por fortuna ou por virtude (capítulo I). Não querendo se aprofundar na ideia de república, Maquiavel diz existir dos tipos de principados: os hereditários ou novos.
Para Maquiavel, os principados hereditários são menos dificultosos de se governar, visto que a população já está habituada com a linguagem política de um príncipe, bastando este ser de capacidade mediana e não ter vícios que o prejudique para ter plenitude no poder e ganhar a simpatia do povo. Assim, mesmo sendo destruído, o soberano volta a reconquistar seu poder (capítulo II). Já em principados novos, ou mais precisamente aqueles que foram conquistados ou anexados ao Estado antigo, chamados assim de “mistos”, existem certa dificuldade em estabilizar-se. A possível diferença de língua, cultura ou padrão político entre conquistador e conquistados podem ser um dos empecilhos na aceitação do novo príncipe. Mas, porém, as pessoas têm crença de que, substituindo um governante, pode solucionar problemas e trazer melhorias consideráveis para todos, mesmo isso se provando, em um futuro breve, ser uma ilusão. Maquiavel exprimir três estratégias, que adotadas pelo novo príncipe, facilita a conquista e estabilização do Estado: primeiro seria de que o recente conquistador deve morar no mesmo lugar de sua conquista, a fim de tomar medidas imediatas perante situações que exijam sua atitude. Em segundo, o príncipe deve enviar colonos às regiões ocupadas, a fim de evitar milícias, que por vezes, causam antipatia do povo. E por fim, o Estado deve manter sua soberania perante os estados vizinhos mais fracos e impor-se, de forma a nunca fugir de guerras por conquista, aos vizinhos mais fortes (capítulo III).
Internamente ao poder político, Maquiavel considera existir duas formas de governar um principado: uma na qual o Príncipe é totalmente soberano a todos, contando com o apoio irrestrito de seus administradores e devoção da população; e a outra, na qual o poder do soberano é limitado por uma camada intermediária de barões de direitos hereditários, que possuem afeição do povo e domínio sobre súditos e senhores. Na primeira forma a conquista por estrangeiros é dificultada, e mesmo após o domínio, a reconquista é facilitada pela tradição que o povo mantém. Já na segunda forma, a conquista do poder pode ser facilitada pela intervenção da camada de baronato que, insatisfeitos com o governo, podem apoiar o domínio. Nesta segunda forma, o conquistador que suceder será extremamente influenciado pelos barões (capítulo IV).
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