OS REFLEXOS DA ATUAÇÃO DAS TRADINGS COMPANIES NAS EXPORTAÇÕES DE COMMODITIES BRASILEIRAS

OS REFLEXOS DA ATUAÇÃO DAS TRADINGS COMPANIES NAS EXPORTAÇÕES DE COMMODITIES BRASILEIRAS

         GLÁUCIA EGLANTINA CRUZ DOS SANTOS ^[1] 

WILLIAM DE ALMEIDA ^[2]

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi entender a polêmica sobre a atuação das tradings companies nas exportações de commodities agrícolas no Brasil, tanto as de capital nacional como de capital estrangeiro. Para o desenvolvimento do artigo iniciamos com a análise comparativa das leis que instituíram a figura da trading company no Brasil e nos Estados Unidos, ambas com inspiração nas famosas e seculares tradings companies japonesas, seguida de pesquisa bibliográfica, através da leitura de livros, artigos acadêmicos e de revistas especializadas, além de notícias e estatísticas relacionadas ao tema, embora estas últimas, cabe destacar, relativamente escassas.  Após o estudo identificou-se, inicialmente, a diferença gritante na forma como foram criadas as tradings companies nesses dois países, inclusive na própria redação das leis: a americana com um contexto mais abrangente e com foco claro na expansão das exportações daquele país e a nossa com o foco único de dar tratamento fiscal diferenciado. Pode-se ainda evidenciar os permanentes gargalos existentes na logística do agronegócio brasileiro, a falta de apoio do governo para as pequenas tradings companies, os investimentos realizados pelos grandes players mundiais nas fronteiras agrícolas e a dependência dos pequenos produtores.  Concluiu-se que da forma como foram instituídas no país e a falta de investimentos governamentais em infraestrutura e na logística do agronegócio contribuíram para a baixa representatividade das pequenas tradings companies genuinamente brasileiras nas exportações, inclusive as agricolas e deram espaço para que grandes grupos, que, com o repasse de elevado custo para o pequeno produtor, levam seus produtos ao mercado mundial.

Palavras-chave: produtores. commodities agrícolas. exportações. tradings.

1 INTRODUÇÃO

        A despeito de todas as dificuldades estruturais, politicas e sócio-economicas que impedem a consolidação do Brasil com o status de “desenvolvido” no cenário mundial, ocupamos um lugar de destaque no papel de fornecedor de alimentos para o mundo. Somos o quinto maior país em área geográfica, com grandes espaços ainda não explorados, além de contarmos com um clima privilegiado e água em abundância.  Nascemos como exportador de recursos naturais. Porém, comparado a países que foram colonizados a partir do mesmo século, permanecemos em desvantagem competitiva, principalmente pela questão dos elevados custos de produção, que envolvem implementos agrícolas, baixa capacidade de estocagem e gargalos logísticos e que contribuem para estreitar as margens dos produtores.

        Como exportador de commodities os produtores foram ao longo dos anos adaptando-se às modificações naturais do comércio internacional mundial e que culminaram com a globalização que, de acordo com Scholte (2002, p.8), está ligada ao comercio internacional em termos de ideias, mensagens, dinheiro, investimento e mão-de-obra entre as fronteiras internacionais.  Ou seja, ser um exportador exige ir muito além de simplesmente plantar e colher.  Para que o seu produto avance além das fronteiras do país passa a ser exigido entender os mecanismos que envolvem o mercado internacional. Neste cenário de evolução, surge no Brasil em 1972, a figura da trading company, entretanto, sendo apenas, segundo Coimbra, “um intermediário comercial, cuja especialização na comercialização de grandes volumes geraria a escala necessária para sua viabilidade financeira.” (1977 apud Pereira e Boavista, 2010).

        O propósito deste artigo é o de analisar a relação entre a falta de incentivos legais e institucionais às tradings nacionais e o avanço da atuação de grandes tradings de capital estrangeiro, cuja expertise e solidez as tornaram um importante elo entre o produtor brasileiro e o mercado mundial.  

        Com este objetivo, inicialmente, será abordado de forma resumida como surgiram as tradings no Brasil, identificando o quantitativo de tradings genuinamente brasileiras e aquelas de capital estrangeiro e quantificando a participação das tradings nas receitas de exportações do agronegócio brasileiro. Na sequência serão destacados alguns aspectos quanto a forma de atuação das tradings e o relacionamento destas com os produtores, no intuito de possibilitar ao leitor maior familiaridade com a questão para que este forme seu juízo de valor quanto a questão.

2 ATUAÇÃO DAS TRADINGS NA EXPANSÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS  

        O potencial do segmento agrícola brasileiro possui notório reconhecimento através das exportações das principais commodities agrícolas, estando entre as primeiras posições no ranking mundial para diversos produtos, principalmente aqueles de menor valor agregado.  

        Entretanto, não obstante todo o potencial advindo da força do trabalho dos agricultores, da abundância de recursos naturais, do clima favorável e das grandes áreas a serem exploradas, precisamos ainda vencer as limitações que nos deixam aquém da produtividade alcançada por outros países exportadores. O conceituado periódico britânico The Economist  publicou um caderno especial em 2010 sobre a força global do agronegócio brasileiro onde destaca que mais investimentos e transformações são necessários para que o setor agrícola possa prosperar nas próximas décadas, quais sejam: infraestrutura – transportes, portos e estocagem devem ser melhorados; a terra deve ser utilizada de forma mais produtiva através de técnicas inovadoras e as pesquisas com relação a variedades de culturas que se adaptem ao clima e as condições do solo brasileiro.